Ela bem que mereceu

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Era batida pra cá, batida pra lá. Vozes de conversas paralelas, alguns risos. Nayeon cobriu a cabeça com o travesseiro, e mesmo abafando os sons, ainda ouvia lá no fundo o barulho que incomodava seu sono.

— Argh! — Jogou o travesseiro em qualquer lugar e levantou enfezada. O quarto com as janelas fechadas e as cortinas também, sem sinal de Jihyo ou de Jeongyeon. — Será que eu dormi e acordei de novo na desgraça do Rio de Janeiro?! — Abriu, sendo atingida de cara pelo sol. Uma claridade que ativava suas dores de cabeça, depois de tanto chorar na noite passada... — Ué...O que tá rolando aqui?

Até pensou por um momento estar dentro de um sonho lúcido, a fazenda vivia em uma verdadeira calmaria todas as manhãs. Se fosse incomodada seria apenas pelo som dos pássaros ou do caramelo latindo atrás de alguma galinha perdida. Porém a situação agora era completamente diferente. Mesas estavam sendo espalhadas pela parte plana do gramado, uma estrutura de madeira sendo erguida por alguns caras. Uma movimentação considerável de pessoas pela propriedade.

Nayeon vestiu seu roupão, comprado com o suor de cortes de cabelo, que agora ela apenas por lembrar que possivelmente além de não ter mais Momo também estaria desempregada, sentia de novo o choro vindo a garganta. Balançou a cabeça, se era pra ficar enfiada o dia inteiro no quarto por sua mais nova situação decepcionante, primeiro tinha que pelo menos descobrir o que carambas estava acontecendo naquele sítio.

Saiu do quarto, notando uma conversa rolando de longe. Descendo as escadas o som aumentava, e pelo visto ela não era a única curiosa. Jeongyeon e Jihyo estavam de prontidão escondidas atrás da parede do corredor que ligava a sala a cozinha.

— O que tá rolando? — Cochichou.

— Papai e mamãe pegaram as duas de saliência! — Jihyo contou risonha, falando o mais baixo possível.

Nayeon arregalou os olhos, tratando de se enfiar entre elas para ouvir.

E em mais uma situação constrangedora, Tzuyu e Sana compartilhavam a vergonha. Não vergonha por estarem juntas, porque oras, não tinha nada demais, nem eram parentes. A vergonha profunda era mesmo pelo flagra, e por um flagra de uma traição. Enquanto Miyeon dava seus telefonemas, seus pais as encontravam prestes a ficarem sem roupa. Enquanto Miyeon dava suas corridas matinais, eles tiravam a manhã em sua ausência para terem a conversa que não tiveram na noite anterior.

Já que ela havia entrado de novo na casa, obrigando a família de quatro a disfarçar completamente a situação. Tzuyu correu para o próprio quarto apenas pra voltar ao quarto de Sana como se tivesse acabado de descobrir que seu pai havia chegado a fazenda. "Pai, que surpresa boa!", no maior descaramento do mundo. Graças a deus ótimos atores, um perfeito cast de novela das sete.

— Nós chegamos aqui querendo fazer uma surpresa, e quem tem a surpresa é a gente!

— E que surpresa...

— Roberto, eu até agora estou tentando entender o que você achou tão engraçado? — A mãe de Sana, Doroteia, encarou o noivo com uma sobrancelha erguida.

Sana e Tzuyu continuavam quietinhas feito duas criancinhas que quebraram todos os vasos da casa. Mas ambas tiravam aquele tempo para observarem seus pais juntos, juntas, porque o estranho era que nunca estiveram os quatro em uma mesma ocasião.

— Tudo bem, é uma situação complicada. Reafirmando, foi muito feio o que vocês fizeram! Eu não esperava isso de vocês, muito menos de você, Sana. — Ele respondeu tentando voltar a expressão séria de antes, não dando certo graças aos pontos de interrogação na cara das três mulheres. — O quê? Pelo que eu conheço da Sana eu com certeza não esperava isso dela, não que eu tenha que esperar algo de você, Sana, querida. Agora, eu falar que não esperava isso da Zuzu seria...Seria não conhecer a minha filha. — Deu de ombros enquanto a dita cuja quase dava um tapa na própria cara. — Mas assim...Não vamos agir como se fosse algo que era fora de cogitação.

Dos Palcos Pros BarracosOnde histórias criam vida. Descubra agora