Tão beata, tão à toa

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As vezes a pessoa só acorda e percebe que a vida é uma delícia. O tipo de coisa reflexiva de um sábado de manhã, quando o barulho dos passarinhos é mais lindo do que o normal. A luz do sol entrando pelo quarto, que é a mesma de sempre, é subitamente a mais linda obra de arte que os olhos irão ver. Então, não importa se você tinha uma bela quantia de dinheiro e agora não tem mais. Se você sempre sonhou com fama, estabilidade, e perdeu tudo isso em um piscar de olhos. Agora sendo fugitiva da polícia, vivendo com outro nome.​ Ah não. Nesse amanhecer essas coisas são detalhes insignificantes. Ou talvez, nem tão insignificantes assim, já que tudo isso de uma certa forma te levou até essa bela manhã.

Nayeon definitivamente queria passar todos os dias acordando daquele jeito.

E Momo se lembrava de quando esteve em uma posição parecida com ela antes. Quando bagunçaram o estoque durante uma tarde inteira. Terminando enroladas uma na outra feito uma trança.

— O seu loiro de farmácia fica muito brilhante no sol cedinho assim... — Foi o que Momo disse antes de um bom dia meloso. Saiu sendo a música perfeita aos ouvidos da loirinha do mesmo jeito. Enquanto sentia os dedos dela se enredando nos fios de seu cabelo. Arrepiava o couro cabeludo, descia pelas costas. Era terrível de tão bom.

— Você chama de loiro de farmácia o que foi feito por você? — Nayeon perguntou com um sorrisinho divertido.

— É mesmo...Eu até me esqueço. Esse é o motivo de estar tão lindo em você. Claro, além do seu rosto perfeito. Mas...Não deixe ninguém saber que eu falei isso. — Momo sussurrou em segredo. — O que eu acho pode sujar a minha imagem.

Nayeon ergueu uma sobrancelha, montando sobre Momo tão rápido que ela mal teve tempo de reagir.

— Vamos sujar a nossa imagem só aqui dentro então. Aí eu posso dizer que você é um paraíso de manhã, de noite, de tarde... — Foi deixando beijos no pescoço dela conforme falava. Então afastou o rosto, apenas para olhar pra Momo e guardar a imagem dela. Sua querida morenona, linda e maravilhosa, com quem tanto brigou. E com quem queria dividir a cama e o coração pelo resto da vida.

Momo fechou os olhos, porque nada a arrepiaria mais do que a voz rouquinha da loirinha ao acordar. Dizendo coisas que faziam seu corpo esquentar como o próprio sol nascendo.

— Continua falando vai. — Abriu os olhos, a encarando por ela ter parado de repente.

— Acabaram as fases do dia, chacrete. E eu sou como uma máquina, você tem que colocar mais uma moedinha pra funcionar. — Deu uma piscadela maliciosa na última parte, fazendo Momo agarrá-la pela nuca e a beijar sem paciência. — Ah sim...Agora eu me lembro. — Nayeon terminou o beijo com um selinho, ainda com o rosto de Momo entre suas mãos. — Você é um paraíso de madrugada, quando eu invado a sua casa...

*

Mas nem todos acordam numa cama de casal confortável e fofinha. Alguns, ou algumas, acordam em locais mais insalubres em comparação a um belo quarto. Por exemplo, esparramadas no banco de trás de um Santana 1998, parado no canto de uma rua alta perto de dois terrenos desabitados e cheios de mato. Algumas casas bem fechadas, e o início do que deveria ser mais uma fazenda. Enfim, nem todas estão nas melhores condições. Porém, analisando muito bem, é muito melhor do que acordarem separadas em seus respectivos quartos, como quando ainda não tinham resolvido aquela história péssima e sentimental!

As costas de Jihyo viraram um problema. Ela percebeu que não conseguiria andar sem sentir dores por ter passado a noite naquele banco péssimo. Aí, não deu mais a mínima quando sua visão pegou Jeongyeon. A cabeça encostada na outra janela, as pernas sobre as suas, uma mão esticada tentando tocar em seu braço. Caramba, eram mesmo uma bagunça até no sono. Deveriam ter se mexido muito para chegarem na posição final. Tudo o que Jihyo lembrava depois de ter usado muito bem a voz, assim como Jeongyeon, era de apagar.

Dos Palcos Pros BarracosOnde histórias criam vida. Descubra agora