Jihyo imaginou uma situação menos chamativa, embaraçosa, vergonhosa. Se é que era possível acontecer de um jeito menos terrível.
Nayeon chegou a imaginar algo completamente simples, depois de anos, quase como um "olha essa nota de cinquenta que eu esqueci na minha jaqueta" transformado em "olha essas três fugitivas no meio do nada depois de anos sumidas".
Jeongyeon imaginou a tragédia grega como ela foi. Talvez não a parte da fofoqueira gritando no palco.
Depois da verdade jogada no ventilador pra cidade inteira ouvir e julgar, as sirenes se aproximando, as equipes de televisão posicionando suas câmeras para algo muito mais interessante do que mel, não haviam saídas disponíveis. De qualquer maneira, o próximo plano seria se entregarem para a polícia, serem desmascaradas no lindo palco de Margarida do Leste ficava bem fora da lista. Mas quando a coisa mais terrível possível acontece, o que resta é aguentar.
E as três tinham plena consciência de que o aguentar naquela situação não seria nada fácil.
Porque os olhares machucam. As vozes maldosas muito mais. Elas não parecem ter tanto efeito no início, porém, quebram qualquer um ao meio. Traidoras, assassinas, farsantes, criminosas, bandidas, cadeia pra todas, vão apodrecer na penitenciária. Daí pra mais. O peso das algemas nos pulsos doía quando combinado a todo o resto. A vergonha. Ao fato de serem as próprias atrações daquele circo formado. Não fugiram, esperaram prontamente, juntas, pelos policiais.
Foram puxadas entre a multidão.
Quando entraram dentro da viatura, tiveram o último vislumbre daquela cidade e seu povo, indignado. Como se realmente enganassem cada pobre alma interiorana daquela terra. Era horrível. O futuro incerto e sombrio trazia o mais amargo sabor na boca. E nem uma amizade tão forte tinha poderes contra o ponto de interrogação do destino delas.
Jihyo encarou pelo retrovisor para um dos policiais, o ex-marido de Mina. Em quem havia esbarrado mais cedo. Completamente neutro, como se estivesse vivendo apenas mais um dia. Lembrou da voz irritante da fofoqueira de plantão no palco, pensando no fato dela ter descoberto. E então, voltou ao principal. Nada mais adiantaria. Não precisava de nenhuma resposta a suas perguntas no momento. Tinha que acalmar a si mesma no pior momento de sua vida. Mas ao olhar para Jeongyeon e Nayeon, se sentia mil vezes mais fraca.
Não poderia confortá-las, nem ser confortada por elas.
O inferno era igual pra todas.
Horas consideráveis depois, que passaram rápidas feito uma bala, as três se encontravam paradas em uma sala minúscula.
— Que beleza. A única advogada que nós temos está atrasada! — Jihyo reclamou pela quinquagésima vez.
— Deve estar ocupada se pegando com a franjadinha enquanto a ex que ela ama tanto tá no xilindró! — Jeongyeon se juntou a ela na lenhada contra a advogada.
Mas Nayeon não. Permaneceu calada feito um túmulo durante todo o percurso. Parecia ter perdido a capacidade de falar desde que foi algemada. Estava sentada entre as duas, sentia a cadeira desconfortável judiando suas costas, já imaginando o que uma cama de cela faria. As duas notaram a falta de resposta e nem deram muita bola de início. Cada uma muito ocupada em lidar com tudo de alguma maneira.
— Até já cheira a cadeia. Como é que pode? — Jeongyeon puxou o ar da sala. — Imagina quando for na verdadeira.
— Quieta. Não precisa lembrar disso. — Jihyo bufou.
— Olha amor da minha vida, é meio que impossível não lembrar disso quando a gente está algemada. — A ex-hippie inclinou a cabeça para encarar a ex-beata. Jihyo ia dizer alguma coisa, Jeongyeon conseguiu prever que seria algo romântico pelos olhinhos dela. Provavelmente pela escolha de palavras. — E apesar de impossível também, acho bom a gente não lembrar que agora temos alguma coisa. Não vamos poder continuar em um bom tempo. — Disse com um tom triste.
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Dos Palcos Pros Barracos
FanfictionAs 3mix estavam no topo, estourando nas paradas. Até aquela linda carreira de sucesso ir por água abaixo, quando depois de um acidente, foram acusadas de matar o empresário. O trio só teve uma saída: Com novas identidades, fugirem pra uma cidadezinh...