Enzo Martins
Quarta-feira com feriado, graças a Deus. Pelo menos isso o carnaval traz de bom.
Obviamente, Felipe arrastou eu e as meninas pra um rolê que nem ele deve saber onde fica. Mas pelo menos não vai ser bloquinho.
O maluco topa tudo queria ir pra bloquinho e eu ameacei parar de ser amigo dele.
Tá pra nascer o dia que vão me ver em bloquinho de carnaval, parceiro. Ainda mais com esse tempo fechado.
Como não tinha aula, Felipe sugeriu da gente ir pra uma chácara de um colega nosso e eu topei.
Ponto de encontro, como sempre, na casa dele. Eu tava ajudando as meninas a colocar as coisas no carro, já que a porra do Felipe só presta pra ir atrás de bebida.
— Cadê o Felipe, gente? - Amanda perguntou impaciente pela demora.
— Ele disse que ia na distribuidora aqui do lado comprar gelo pra colocar no cooler. - Respondi atento ao celular.
— Aquele lá bebe como ninguém, cara. - Cecília disse rindo.
— Pode rodar o chiclete aí, Cecília. - Falei guardando o celular no bolso e olhando pra ela.
— Que chiclete? - Se fez de sonsa.
— Esse aí de melancia que tu tá mascando que nem cavalo. - Respondi cruzando os braços e ela revirou os olhos me fazendo rir.
— Toma. Mas se alguém te perguntar, não fui eu que te dei. - Ela disse me entregando o chiclete.
— Eu amo o fato da bolsa da Cecília ter todo tipo de doce, parece mercearia. - A Amanda falou rindo.
— Deve tá cheio de formiga aí, isso sim. - Falei fazendo cara de nojo só pra irritar a Cecília.
— Devolve meu chiclete agora. - A Cecília estendeu a mão e eu coloquei o papel do chiclete lá — Vai se ferrar, Enzo. - Ela disse gargalhando.
— Sentiram minha falta, rapaziada? - Felipe perguntou chegando com uns três sacos de gelo.
— A Amanda com certeza não, tava até falando de outro cara aqui - Respondi zuando e a Amanda me deu um tapa.
— Deixa eu descobrir quem é esse outro cara, que eu vou chegar dando três tiros pro alto. - Felipe respondeu e eu segurei a vontade de rir da cara que a Amanda fez.
A Amanda me deu outro tapa quando percebeu que eu tava doido pra soltar uma risada da cara dela.
— Controla tua amiga aí, Cecília. Na moral. - Falei passando a mão onde a Amanda bateu.
— Não vou controlar nada. - Cecília respondeu — Ninguém mandou você falar que minha bolsa tem formiga.
— Isso aqui sim é felicidade. - Felipe disse ajeitando as bebidas e o gelo no cooler, ignorando a nossa conversa.
— Lá vem o cachaceiro de novo. - Amanda falou negando com a cabeça.
— Cachaceiro é quem produz cachaça, parceira. Eu sou apenas consumidor. - Todo mundo se contorceu de rir dessa respostinha de merda do Felipe.
[...]Depois de uns quarenta minutos dirigindo parei pra abastecer e resolvi fuçar o insta, já que eu tava esperando os três voltarem da lanchonete do posto.
Assim que postei um story, vi que a Cecília tinha postado uma foto. Suspirei olhando pro tanto que essa filha da puta consegue ser bonita, pô.
Essa garota tá conseguindo acabar comigo aos poucos sem nem fazer esforço, isso que é foda.
Eles voltaram pro carro, me fazendo bloquear o celular e guardar.
Como eu que tava dirigindo, o "casalzinho" foi atrás e a Cecília no banco do passageiro do meu lado.
Arranquei com o carro e a Cecília segurou um salgado na minha frente pra eu morder enquanto dirigiria.
Assim que a gente chegou lá, vimos o buraco que o Felipe enfiou a gente.
— Tá zuando que é aqui, Felipe. - Falei incrédulo procurando um lugar pra estacionar.
São nesses momentos que eu me arrependo de ter conhecido o Felipe.
— Eu não to acreditando nisso, Felipe. - A Cecília disse paralisada — Olha a roupa que eu vim pra tu me trazer pro meio da lama, cara. - Falou de um jeito engraçado.
— Eu não vou descer aqui não. - A Amanda falou revoltada.
— Puta que pariu, vocês são frescos pra caralho. - Felipe murmurou — Não sabem ser feliz.
— Pra você qualquer buraco que tenha álcool é a porta da felicidade, arrombado. - Falei assim que desliguei o carro.
— Esse é o lado bom de saber viver a vida, irmão. - Ele respondeu tirando o tampa do cooler.
— Eu to falando sério, não vou descer aqui. - A Amanda disse julgando o lugar.
— Muito menos eu. Eu to de puffer com pelinho, porra. - A Cecília disse brava e eu acabei rindo - Tá rindo do que?
— De você bravinha, mó engraçado. - Respondi e ela revirou os olhos — Quando você fica brava seu nariz dá uma enrugadinha.
— Bora beber aqui dentro do carro então. - Felipe falou como se fosse a ideia mais revolucionária do mundo.
— Me dá essa garrafa aqui porque eu to revoltada demais pra ficar sóbria. - Cecília falou puxando a garrafa de vodka da mão do Felipe, virando de uma vez na boca e eu tomei dela.
— Quer ter um coma alcoólico, louca? - Perguntei segurando a garrafa, que em questão de segundos a Amanda me tomou fazendo o mesmo que a Cecília.
— Caralho, aí sim porra. Vocês tão falando minha língua. - Felipe disse animado virando a garrafa depois da Amanda e me entregando.
— Falar tua língua é motivo de se envergonhar. - Respondi pegando a garrafa da mão dele e despejando a bebida na boca.
— O Enzo é muito meu fã, não tem jeito. — A Cecília disse mostrando a foto que eu postei no story — Me copia muito, cara.
— Tu que me copiou, pô. - Falei passando a garrafa pro Felipe de volta e ligando o som.
— Toma vergonha, Enzo. Postou depois de mim e mete essa? - Perguntou ironicamente e eu ri bagunçando o cabelo dela, que soltou um sorrisinho.
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Aquela Pessoa
Teen FictionEm um dia comum no estacionamento da faculdade, um acidente inusitado une os caminhos de duas pessoas que, até então, eram completos estranhos. O impacto do encontro vai muito além dos carros amassados: suas vidas começam a se entrelaçar de maneira...