67

8K 441 44
                                    

Enzo Martins

     Hoje a segunda tá diferente, to levando o Felipe comigo lá pra casa.

     Combinamos mais cedo de mandar um treinão juntos.

— Pra onde tu tá indo? - Felipe perguntou — Tua casa não era pro outro lado, porra?

— Vou buscar minha irmã na escola, animal. - Respondi negando com a cabeça.

— Eu tinha esquecido, pô. - Se justificou — Fazia mó tempão que tu não me levava na sua casa, tava querendo me esconder né.

— Vou te esconder de quem, Felipe? - Perguntei rindo das ideias desse maluco.

— Sei lá, do meu futuro chefe. - Falou deitando o banco.

— Ué, e quem é esse seu futuro chefe? - Perguntei sem entender — E senta direito caralho, aqui não é hotel não.

— O teu pai, pô. - Respondeu na maior tranquilidade mexendo no celular — Na minha cabeça, depois que a gente se formar, vou trabalhar em um dos consultórios do seu pai.

— Vai sim, pô. - Falei gargalhando enquanto estacionava em frente à escola da Lara — Quando ele perceber que tu não sabe nem escrever a palavra Odontologia, manda tu caçar teu beco.

— Vai tomar no olho do seu cu. - Disse incrédulo se ajeitando no banco — Tu vai ver quando eu ficar ricasso, pô. Vou ser o Doutor bonitão, vai chover mina no consultório do teu pai por minha causa.

— Vai chover de mina no consultório reclamando que tu arrancou um dente saudável, isso sim. - Falei tirando a chave do carro — Deixa eu buscar minha irmã ali que eu ganho mais.

A Lara fez a festa quando viu o Felipe no carro, pra variar. Ela gosta de todo mundo, cara.

— Que saudade que eu tava de você, princesa. - Felipe disse prendendo a Lara na cadeirinha, já que eu to dirigindo — Tá cada dia mais linda, diferente do seu irmão.

— Começa não, que eu não posso falar certas coisas na frente dela. - Já avisei logo pra ele não vir com as gracinhas dele.

— Não briga com o Felipe. - A Lara deu um gritinho "brigando" comigo e o Felipe achou sensacional.

— Tá vendo aí, pô. Já não basta perder todas as partidas pra mim, ainda de quebra perdeu até a irmã. - Encheu meu saco.

— Vai tomar no s... - Fui interrompido pelo Felipe me dando um socão pelo quase palavrão.

— Respeita sua irmã aqui, caralho. - Falou bravo e a Lara não entendeu nada.

— A gente pode tomar sorvete no lugar do almoço? - Ela perguntou ignorando nós dois.

— Sim, podemos. - O Felipe concordou e eu neguei com a cabeça.

— Não, não podemos. - Neguei.

— O Felipe disse que sim, irmão. - A Lara disse animada.

— Ele não manda nem nele, Lara. - Falei atento ao trânsito.

— O que que tem dar sorvete pra ela agora? - Felipe veio discutindo — Deixa a menina ser feliz, pô.

— Vou mandar ela com dor de barriga pra tua casa pra você ver o que é felicidade. - Falei olhando rápido pra ele, que fez careta.

A Lara passou o resto do caminho todo reclamando sobre isso, mas já to acostumado com as birras dela quando não consegue o que quer.

Chegamos em casa e fomos direito almoçar. O diferencial acontecendo de novo, meu pai fazendo almoço.

Ele e o Felipe passaram um tempão conversando e eu querendo rir lembrando dos planos do Felipe pretendendo trabalhar com meu pai futuramente.

Óbvio que depois do almoço fomos jogar uma partidinha na sala, como sempre fazemos.

     Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios quando não estávamos nos xingando.

— Nós somos dois fudidos. - Felipe falou do nada, concentrado na partida.

— Porra, do nada? - Falei sem entender, concentrado no jogo também.

— To aqui pensando, nós dois somos apaixonados naquelas duas infelizes e até agora não deu em nada pra nenhum dos dois. - Falou pensativo e eu ri.

— Você apaixonado? Conta outra, porra. - Falei rindo.

— Aquela ordinária me tem nas mãos. - Felipe disse com raiva e eu arregalei os olhos percebendo que ele tava falando sério — E tu, não tá apaixonado na Cecília não?

— Ah, não. - Menti — Apaixonado acho que não.

— Não, né? Só faltou infartar de ciúmes semana passada. - Disse irônico — Não tava dando nem pra conversar contigo que tu vinha com dez pedras na mão.

— Esquece isso, porra. Já me resolvi com ela e tu tá aí insistindo nesse assunto. - Falei e o Felipe largou o controle — Qual foi?

— Como assim tu se resolveu com ela e não me contou, moleque? - Perguntou com os olhos estreitos.

— Porra, tu é muito maria fifi. - Falei largando o controle também — Me resolvi com ela hoje no intervalo.

— Caralho, então foi por isso que tu sumiu no intervalo e atrasou pra aula. - Disse entendendo tudo e eu concordei com a cabeça — Doeu confessar pra ela que o nome do teu showzinho era ciúmes?

— Vai se fuder, arrombado. - Falei puto jogando uma almofada nele — Lá vem você tirando uma com a minha cara.

— É claro, porra. Tu tem essa mania de ficar fazendo pose de durão e de não sustentar o que sente. A real é que tu fica de quatro pela Cecília. - Falou com um sorrisinho debochado de canto e eu revirei os olhos.




[...]




— Bora naquele açaí aqui do lado de novo? - Perguntou terminando a série dele.

— Maluco, tu tá treinando pensando em comida? - Perguntei assumindo a série que estávamos revezando.

— Sim? - Respondeu e eu revirei os olhos — Tu tá treinando fofo, porra. Não tá nem latindo.

— Quero ver fazer melhor, cachorrão. - Falei saindo da máquina pra ele fazer mais uma série e foi assim que começamos a competir nos exercícios.

    O Felipe tava fazendo a última série dele no último exercício e eu já tinha terminado as minhas.

    Fiquei vasculhando o instagram enquanto isso e vi um story da Cecília na academia também.

    Respondi o story dela com um emoji e mandei uma foto de agora.

— Tá sorrindo que nem o coringa e depois vem falar que não tá apaixonada por ela. - O Felipe falou olhando a conversa por trás, me fazendo levar um puta susto.

— Caralho, viado. Tu não tem nada melhor pra fazer do que encher a porra do meu saco? - Briguei.

— Tenho, tomar açaí ali do lado. Bora, baitola. - Falou dando um tapão na minha nuca e eu olhei feio pra esse filho da puta.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora