Enzo Martins
Já era segunda-feira, dia de voltar pra faculdade e pra rotina.
Até agora nada do meu pai aparecer com a Lara, to começando a ficar preocupado.
Mandei algumas mensagens, liguei três vezes mas não obtive sucesso.
Quando fui olhar as horas, já tava atrasado pra faculdade.
Terminei de me arrumar correndo e entrei no carro.
Como já tava em cima da hora, não tinha como eu encontrar o Felipe e as meninas na lanchonete.
Fui direto pra sala, mas antes disso, senti alguém esbarrar em mim.
— Olha por onde anda. - Falei assim que vi o Fábio.
— Não te vi. - Respondeu de modo debochado, segurando uma risadinha.
Porra, hora errada pra esse moleque vir tentar caçar problema. To totalmente preocupado com a minha irmã e ainda tenho que aturar esse inseto.
— Tua sorte é que eu tenho coisas mais importantes pra me preocupar. - Falei saindo dali, mas ele continuou falando comigo.
— Tipo a Cecília? - Perguntou, tentando insinuar algo.
— Não preciso me preocupar com a Cecília. - Falei me virando pra ele, começando a perder a paciência que me falta.
— Tem certeza? Se eu fosse você não pensaria assim. - Ele falou com um sorrisinho de canto e eu franzi a testa.
— Que porra você tá falando? - Perguntei cruzando os braços, sem entender.
— Ah, ela tava conversando, super próxima, com um rapaz há uns minutos. - Ele falou sorrindo — Ela tava até segurando a mão dele. Se fosse minha namorad...
— É MINHA namorada, não sua. Ela já é bem grandinha, sabe o que faz. Não sou inseguro igual você pra ficar me preocupando com isso. - Falei puto e deixei ele sozinho.
Confesso que fiquei um pouco intrigado com o que ele falou, mas depois vejo isso com a Cecília.
Entrei na sala e o Felipe já tava lá. Sentei do lado dele e tirei meu caderno da mochila.
— Irmão, tua cara normalmente não é boa, mas hoje tá pior. - Felipe falou me analisando e eu revirei os olhos.
— To cheio de problema. - Falei puto, respirando fundo.
— Ih, qual foi? Não deu nem 8h e tu já tá assim? - Felipe perguntou — O que rolou?
— To sem notícias da Lara até agora, cara.
— Teu pai ainda não voltou com ela de viagem? - Perguntou com os olhos arregalados.
— Não. Porra, não me deu uma notícia. Não atende minhas ligações, não responde as minhas mensagens... Tá foda. - Falei suspirando.
— Olha, deve tá tudo bem. Já ouviu o ditado que notícia ruim chega rápido? - Felipe falou tentando me dar apoio e eu comecei a rir do que ele acabou de falar — Por que tu tá rindo, Enzo?
— Você tentando dar apoio pros outros é péssimo. Calado é melhor. - Falei parando de rir e começando a anotar o que o professor tava passando no quadro.
Eu diria que a aula passou bem rápido. Quando o professor liberou pra irmos tomar um café, eu nem tinha me tocado sobre o intervalo.
Levantei com o Felipe e passamos pelo Fábio, minha cara automaticamente fechou mais que o normal.
— Qual foi? Por que essa cara? - Felipe perguntou baixo.
— Porra, tu questiona tudo. - Briguei com ele — É aquele maluco do Fábio... antes da aula veio com uns papos estranhos.
— Que merda ele falou? - Felipe perguntou já sabendo que vinha alguma coisa pela frente — Porque ele não fala nada que preste, tu sabe disso e ainda dá ouvidos.
— Ele meio que disse pra eu abrir meu olho com a Cecília, porque ela tava conversando com algum moleque mais cedo. - Expliquei pro Felipe.
— Que eu tenha visto antes da aula, ela tava conversando com o Guilherme só. - Felipe revelou.
— O Fábio disse que ela tava segurando a mão dele. - Falei me lembrando do que esse otario disse mais cedo.
— É... tava. Mas porra, não era nada demais. Eles tavam conversando em outra mesa, sobre alguma coisa que parecia séria e ela pegou na mão dele, foi coisa rápida. - Felipe falou, demonstrando que não era nada de demais.
— Depois falo com ela. - Falei coçando a barba e ele assentiu.
Fomos até a lanchonete e pegamos um café, sentamos numa mesa mais afastada em seguida.
Minutos depois a Cecília e a Amanda chegam conversando, sentando com a gente.
— Oi, neném. - A Cecília falou me dando um beijo.
— Oi, amor. - Falei sorrindo fraco pra ela, que estranhou.
— Tá tudo bem? Tá com a cara estranha. - Ela foi sincera.
— O que você tava conversando com o Guilherme mais cedo? - Fui sincero e direto.
Ela não respondeu. Olhou pra Amanda e depois pra mim.
— Depois te falo. - Falou no meu ouvido — Era sobre a briga dele com a Amanda.
— Beleza. - Aceitei.
— Você ainda tem ciúmes do Guilherme? - Perguntou — Achei que tivesse passado.
— Ah, Cecília. Você já ficou com ele, óbvio que tenho um pouco de ciúmes. - Respondi.
— Mas faz anos que isso aconteceu. Eu nem te conhecia. - Argumentou — E outra, você sabe que ele é meu amigo.
— Mesmo assim. Se você conhecesse alguma mina que eu já fiquei, também teria ciúmes. - Falei convicto olhando pra ela.
— Que eu não conheça nenhuma das raparigas, amém. - Falou toda engraçadinha e eu acabei rindo, puxando ela pra perto de mim.
Ficamos conversando até acabar o horário do intervalo e cada um foi pro seu campus.
Assim que minha aula terminou, fui pra casa. Na esperança de chegar lá e ver a Lara.
Quando entrei em casa, tive uma surpresa que eu jamais esperaria.
Minha mãe com a Lara no colo e o meu pai sentado no sofá com cara de quem não tava contente.
— O que tá acontecendo aqui? - Perguntei olhando pros dois — O que ela tá fazendo aqui?
— Enzo, meu filho. Eu tava com muit... - Ela soltou a Lara e tentou me abraçar.
— Nem tenta, por favor. - Interrompi, afastando ela de mim — Nada que você falar vai me convencer de que você sentiu saudade.
— Mas eu senti, meu filho. - Ela falou com os olhos cheio de lágrimas.
— Se realmente tivesse sentido, teria dado um jeito de entrar em contato comigo nesses últimos cinco anos. - Falei saindo de perto dela, indo até o meu pai — Vou perguntar de novo, o que ela tá fazendo aqui?
— Depois a gente conversa a sós, Enzo. - Meu pai falou com um semblante cansado, levantando e passando por mim.
— Você não vai me dar uma chance? - A minha "mãe" perguntou.
— Que chance você me deu nesses últimos cinco anos? Que chance você me deu quando decidiu abandonar a nossa família? Ainda mais abandonar uma recém nascida? - Joguei a pergunta pra ela.
— Você não sabe quais foram as minhas razões, Enzo. - Ela insistiu.
— E nem quero saber. - Falei firme — Por favor, só volta pro lugar que você passou esses últimos anos. A família que você abandonou tá bem sem você.

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Aquela Pessoa
Roman pour AdolescentsEm um dia comum no estacionamento da faculdade, um acidente inusitado une os caminhos de duas pessoas que, até então, eram completos estranhos. O impacto do encontro vai muito além dos carros amassados: suas vidas começam a se entrelaçar de maneira...