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Enzo Martins

    Depois que saí da oficina, fui direto pra casa do Felipe.

    Além de parceiros, somos da mesma turma. O que facilita nossas vidas, porque sempre que precisa um quebra o galho do outro.

    Tudo bem que basicamente quem quebra o galho sou eu. O Felipe só me coloca em roubada.

    Eu preciso muito pegar as matérias de hoje, se não me fodo lá na frente e isso não é uma opção.

— E aí, viado. - Cumprimentei ele com nosso aperto de mão.

— Viado é tu. - Disse fechando a porta — Fala logo o que quer, porque você só vem aqui quando tá querendo alguma coisa. - Me olhou desconfiado.

— Que isso, pô. - Gargalhei — Além de almoçar, vim pegar contigo as matérias de mais cedo. - Falei enquanto a gente se jogava no sofá.

— Pô, mano. O almoço eu salvo, agora as matérias de mais cedo eu vou ficar devendo. - Disse coçando a nuca.

— Como assim? Tu não foi pra aula não? - Perguntei sem acreditar.

— Pô, mano. - Deu uma risadinha sem graça — Eu não lembrava que as aulas voltavam hoje.

— Caralho, irmão. Tu só pensa com a cabeça de baixo, tá na hora de melhorar isso aí, pô. - Falei dando um se liga nele.

— Se tu veio aqui me pedir as matérias é porque também não foi, arrombado. - Respondeu tacando uma almofada em mim.

— Mas no meu caso foi diferente, pô. Eu cheguei a ir pra faculdade, mas uma mina bateu no meu carro e isso ocupou toda a minha manhã. - Respondi negando, lembrando da dor de cabeça.

— Tá de k.o, irmão. - Disse arregalando os olhos, achando que eu tava mentindo.

Queria eu estar mentindo...

— Tô te falando, cara. Tinha que ser loira mesmo - Falei e ri ao lembrar dela estressadinha por eu ter falado isso na cara dura.

— Por isso que eu gosto das loiras, além de gostosas são burras. - Ele disse brincando — Qual o nome dela? Deixa eu ver se conheço.

— Eu sei lá, mano. Na hora eu tava tão puto com tudo que nem perguntei. - Respondi sincero — E ela também ficou mó bravinha por eu ter insinuado que ela só bateu no meu carro porque era loira.

— Caralho, mano. - Deitou no sofá gargalhando — Tu não meteu essa pra mina não. - Se contorceu de rir imaginando a cena.

— Foi muito sem querer, parceiro. - Gargalhei também — Saiu no automático.

— E ela era da faculdade? - Perguntou.

— Sim pô, te falei que bati o carro no estacionamento. - Relembrei esse cabeça de nós todos.

— Bora almoçar enquanto tu me conta isso aí direito, Enzolas. — Disse levantando e indo até a cozinha.








Cecília Albuquerque

    Assim que cheguei no restaurante que combinei com a Amanda, peguei uma mesa pra gente e pedi um drink pra esperar a bonita.

  — E aí, minha gata. - Amanda me cumprimentou com um beijinho no rosto, me fazendo levar um susto. — Assustou por quê? Tá devendo alguma coisa, senhora? - Arqueou uma das sobrancelhas.

— Só o meu cartão de crédito mesmo. - Respondi sorrindo pra ela — E aí, como você tá? - Perguntei dando um gole no drink.

— Eu to muito bem, você que não tá né. - Olhou desconfiada pro meu drink — Bebendo em plena segunda-feira, o que aconteceu?

— Ah, nada de demais. Só bati no carro de um carinha no estacionamento da faculdade. - Respondi rápido virando a taça de uma vez.

— Opa, vamos com calma. - Puxou o copo de mim — Que história é essa de bater carro, Cecília? Ficou doida?

— Ainda não, amiga. Mas se as coisas continuarem dando errado assim, eu vou ficar. - Respondi puxando o meu copo de volta.

— Calma, vamos por partes. Seria muito ruim você cursar Psicologia sendo doida. - Disse me arrancando uma risada  — Me conta isso aí com detalhes.

    Contei toda a história da batida pra Amanda, que ficou em choque por eu não saber o nome do cara.

Tanta coisa nessa história pra ficar chocada e ela encana com o detalhe mais insignificante.

— Amiga, como assim tu não sabe o nome dele? - Perguntou chocada.

— Ué, não sabendo. Ele me chamou de loira burra, amiga. Fiquei tão brava na hora que nem rendi conversa. - Expliquei enquanto chamava o garçom pra fazer o nosso pedido.

[...]

    Depois de almoçar com a Amanda, fui direto pra casa trocar de roupa. Precisava treinar um pouco pra colocar a cabeça no lugar.

Eu odeio quando as coisas saem do meu controle, principalmente do jeito que saíram hoje.

Quando esse tipo de situação acontece, tento fazer coisinhas que me deixam feliz pra dar uma salvada no restante do dia.

    Descontei toda a minha frustração de um dia ruim no treino, o que me deixou mais aliviada, porque pelo menos no treino eu não falhei hoje.

    Assim que cheguei em casa novamente, tomei um banho premium, com direito até a hidratação no cabelo.

    Saí totalmente renovada do banho. Até porque pra mim, não tem nada melhor do que estar cheirosinha.

Minha personalidade é ser cheirosa, sem dúvidas.

    Sequei meu cabelo, porque o que eu definitivamente não preciso é de uma gripe pra piorar minha semana.

O que rolou hoje já deu por todos os outros dias. Agora alguma coisa só pode dar errado semana que vem.

Sorri me olhando no espelho, satisfeita com o que via.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora