Capítulo 33

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Darlan

Desde que aconteceu o ataque ao galpão, tem tudo sido, terrível, perder meu garotinho foi um verdadeiro desastre para mim, eu sinto falta de tudo sobre ele.

Uma coisa boa é que meu primo sobreviveu, mas as memórias dele sobre o incidente ficaram meio embaralhadas e ele não lembra de algumas coisas que aconteceram aquela noite, outra coisa boa é que Vincenzo e Marcelo já se recuperaram totalmente.

Eu tenho ficado muito isolado desde que houve tudo, quase não converso com ninguém, só falo o necessário, Lorena, Pietro, Bianca, Donato, Martino, minhas crianças e amigos vieram me visitar algumas vezes, mas em todas eu não os atendi, estou tentando lidar com a dor do meu jeito, da forma que sempre fiz.

Quando pequeno eu costumava ser bem chorão, mas até mesmo naquela época, eu já era de me isolar quando ficava triste, e quanto maior a dor, mais afastado eu quero ficar, também sempre fui de reprimir muito meus sentimentos.

Depois que enterrei aquele garoto que vivia chorando, ficou ainda pior, eu me reprimo cada vez mais, me isolo mais ainda, algumas pessoas em algumas situações achavam que eu era frio e não importava com certas coisas que aconteciam comigo, porque parecia que eu não me importava, porém, não é porque alguém não demonstra que ele não senti, não se importa.

Dessa vez, eu me isolei tanto, a um nível que ficou nítido para todo mundo o quanto me afetou, talvez eu devesse aceitar apoio das pessoas, mas nesses momentos eu apenas quero afastar todo mundo, quero ficar sozinho, lidando com isso no meu próprio mundo em minha mente, longe de tudo e todos.

Achei que essa situação me faria chorar, mas não, não consegui derramar uma única lágrima, eu só queria gritar, chorar, extravasar toda essa dor e culpa, mas não consigo, apenas me sento no escuro, no meu escritório, quarto ou no quarto do Fabrizio e fico em silêncio, sou como um prisioneiro em mim mesmo.

Culpa? Sim culpa, eu sempre digo que eu cuido dos meus, mas o que tenho feito ultimamente? Não tenho conseguido cuidar deles, vários dos meus foram feridos ou mortos, e o que eu pude fazer para evitar? NADA.

Lá no fundo, ainda sou aquele garotinho assustado.

Eu estava no quarto de Fabrizio, deitado na cama dele, sentindo seu cheiro que ainda estava no travesseiro e nas roupas de cama, não permiti que fossem trocadas desde que tudo aconteceu, também não deixei mexerem em absolutamente nada do quarto, está tudo exatamente do jeito que ele deixou.

Eu estava ali deitado no escuro relembrando algumas coisas, como quando eu dei o Buster para ele, um pouco depois dele vir morar comigo Fab disse que queria ir até a casa que ele morava com os pais biológicos, eu o levei lá, enquanto andávamos pela casa e ele me mostrava e contava várias coisas, como a parede que a mãe marcava a altura dele, ou a cabana no quintal onde o pai fazia esculturas de madeira e ele gostava de observar, em certo momento paramos de frente para uma casinha de cachorro, Fab ficou com um olhar muito triste e me contou que ele tinha um cachorro, quando os pais morreram, não tinha mais como ele ficar, então o cachorro foi para um abrigo, fazia anos, então já havia morrido, foi ai que tive a ideia de dá um cachorro para ele, ele amou quando ganhou, Fabrizio amava Buster demais.

Essas lembranças doem, enquanto eu navegava por essas memórias, escutei batidas na porta.

—Quem é?

—Eu, Vincenzo.

—É importante?

—É sim.

—Então entra.

Ele entrou e veio até mim, nem fiz questão de me mexer.

—Você está bem?

—Só fale o que tem de importante para falar, e depois saia. -"Você está bem?" apesar de saber que as pessoas perguntam isso com boas intenções, detesto essa pergunta, ela me deixa agoniado.

Don Darlan - Máfia, família, negócios e sangue #1Onde histórias criam vida. Descubra agora