POV Neung
Entro no quarto de minha irmãzinha ainda com receio. Sei como todas as coisas tinham sido difíceis para ela, principalmente nos últimos dias. E depois que Mon e eu descobrimos que minha avó havia apagado todas as minhas memórias da cabeça de Sam, eu sabia que precisava mais do que tudo estar ali por ela, pois se aquilo estava me destruindo de maneiras indescritíveis, imagina como estaria sendo para ela.
Sam era tudo para mim. Eu sempre quis ter uma irmãzinha, era meu pedido de aniversário desde os meus cinco anos. Todos os anos eu assoprava aquelas velas e desejava por uma irmã, uma menina especificamente. Minha mãe teve problemas para engravidar novamente, seria muito difícil, mas ela não desistia de realizar meu sonho e o dela de me dar uma amiga para a vida, como ela mesma tinha. Sua relação com minha tia era o maior combustível para que eu lhe implorasse para nunca desistir de me dar uma irmã.
E foi no meu aniversário de onze anos que meu presente chegou. Depois de cantarmos os parabéns e eu abrir todos os brinquedos e roupas luxuosas que meus amigos e parentes haviam me dado, mamãe deixou o melhor para o final. Me lembro com perfeição daquela pequena caixa branca com um laço rosa que abri com ansiedade. Ao abrir e remexer entre os papéis de seda, ali estava uma camiseta simples branca, com a estampa escrita "Futura Irmã Mais Velha" bordado em frente nos meus tons de rosa preferidos. Foi o melhor aniversário da minha vida! Chorei nos braços de meus pais e ambos não puderam conter suas lágrimas também ao ver a minha alegria em finalmente ganhar minha tão esperada irmãzinha.
Era óbvio que eu já sabia que era uma menina, eu sempre soube que seria a minha Samanun. Eu quem havia escolhido seu nome e decorado todo seu quarto. Todos os dias e todas as noites eu conversava com Sam na barriga da minha mãe e chorei em casa quando não me deixaram acompanhar mamãe até o hospital no dia que sua bolsa estourou. Eu chorava e esperneava, não permitia que ninguém chegasse perto para me acalmar. Meus pais estavam no hospital recebendo minha irmãzinha e eu nem poderia estar lá para recebê-la também. Foi tia Malee quem conseguiu me acolher e me acalmar. Me lembrando que ela também já tinha estado naquela posição de ansiedade para conhecer sua melhor amiga. Ela dormiu comigo naquele dia e no outro dia bem cedo me levou escondida até o hospital para conhecer Sam.
Eu não saberia descrever como foi o momento em que a vi pela primeira vez. Sam estava embaladinha em uma manta rosa com desenhos de uma família de coelhinhos, a manta que eu havia escolhido para ela e dormia tranquilamente. Me aproximei com receio, ela era tão pequena e frágil e dormia com tanta paz que eu não queria incomodá-la. Levei meu dedo entre seus minúsculos dedinhos e ela agarrou com força ali, como se temesse que eu fosse deixá-la. Foi ali que eu prometi num sussurro baixo que nunca a deixaria, que sempre estaria ao seu lado.
Infelizmente, não consegui cumprir minha promessa. Minha avó me manteve quase metade de sua vida longe, nos momentos mais importantes e necessários de minha irmã eu estava longe, em outro país, trabalhando e lutando para voltar para ela.
E descubro que ela não se lembrava de absolutamente nada sobre nós. Sobre nosso laço tão forte que eu jurava que nada nem ninguém seria capaz de rompê-lo. Infelizmente eu estava errada. Mais cedo, quando entrei em seu casamento para impedir aquele absurdo, notei em seu rosto um breve relance de reconhecimento, mas tão pouco que meu coração mau bateu em esperança. Eu era uma estranha para ela e aquilo doía em cada batida do meu coração. Observo aqueles mesmos olhos de jabuticaba que me encarava quando precisava de afeto ou para conseguir um biscoito a mais. Aqueles mesmos olhos marejados que imploravam por colo quando ela caía ou se machucava. Eu reconhecia aquele rostinho pois estava marcado em meu coração. Era minha pequena Samanun.
Caminhei devagar para dentro do quarto, me aproximando da sua cama e segurando algumas fotos antigas. Aquelas fotos e um velho coelho de pelúcia que pertencia a Sam era tudo que eu havia conseguido levar quando minha avó me retirou a força de casa, me jogou dentro de um carro e me fez sumir. Tinha sido a própria Sam quem tinha colocado aquilo em minhas mãos enquanto minha avó ameaçava nos separar. Nós duas só não imaginávamos que essa separação seria permanente e que um dia ela conseguiria apagar suas memórias sobre mim.
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Amor entre a Guerra (MonSam)
RomanceOnde Saenthong's e Anuntrakul's vivem uma guerra entre famílias a gerações e veem suas herdeiras, Mon Saenthong e Sam Anuntrakul se apaixonarem intensamente. Pode um amor nascido dentre tanto ódio, disputas e segredos do passado, sobreviver? ⋅ obra...