27. Ele era como um raio-de-sol e eu era uma meia-noite chuvosa.

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— Voxê cuer axuda com o vexido?

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— Voxê cuer axuda com o vexido?

Encontro seus olhos através do reflexo do espelho do banheiro, a escova de dentes enfiada na boca, presa no canto dos lábios, enquanto ele tenta ajustar a gravata desajeitadamente. Há uma tira de espuma de creme dental escorrendo pelo queixo, que amparo com a mão antes de alcançar a camisa branca que ele está vestindo com uma nódoa visível que endureceria em questão de minutos. Jungkook me lança aquele olhar preocupado.

Estar apaixonada podia ser aterrorizante, é um fato. Até mesmo seu comportamento desprovido de cuidado parecia irritantemente adorável.

Ele caminha até a pia, sustentando a gravata colada ao peito para terminar a tarefa laboriosa de escovar os dentes como se a escova fosse uma serra elétrica penetrando em troncos largos. A delicadeza passou longe.

— Obrigado, gostosa. — ele diz, esticando a boca limpa e úmida de água gelada para um beijinho e me curvo para alcançá-lo.

Merda.

Já estávamos agindo como a droga de um casal. E aquela pergunta, a mais apavorante de todas, seguia sem resposta.

Ontem havia desviado do assunto culpando a saudade, enquanto estávamos na banheira, a questão pairava no silêncio de um outro beijo misturando álcool nos lábios e ateando fogo no que já parecia inflamável. Seu whisky queimou por dentro, a chama reacendeu mais forte e por algumas horas, esquecemos do tópico momentaneamente, mas ele não estava encerrado. Não, nem mesmo perto de ser de uma resolução definitiva. O assunto voltaria no momento mais inoportuno, quando o fim da festa nos atingisse, antes da realidade devorar as últimas horas daquele fim de semana e não poderia fugir dele, nem de minha resposta.

O contraponto em questão não era, de fato, os nossos sentimentos. Não havia dúvida sobre eles, mas sobre como faríamos para tudo funcionar. Jungkook tinha uma vida no Japão, uma carreira consolidada, um cargo muito bem ocupado e eu tinha construído os meus pilares mais fortes em Nova York, dando o pontapé inicial ao meu sonho.

E relacionamentos à distância funcionam, eu sei, mas a máxima se quebra nesta curva da história; em algum momento alguém precisa sempre ceder, estar disposto a abrir mão. Só distância causa aquele sufoco infeliz que acaba sendo preenchido por outras situações, pessoas e interesses. E era o que mais temia.

Para ele não faltariam interesses. E não sei bem se seria capaz de lidar com isso.

— Precisa de ajuda com isso aqui? — Ele apontou para o zíper do vestido, me puxando de volta para a realidade, enquanto eu admirava o delineado torto que havia feito em meu próprio olho e ponderava uma maneira de consertá-lo sem estragar o restante da maquiagem.

— Por favor...

Sua mão tocou minha cintura, antes de juntar as laterais do tecido vermelho e puxar o zíper para cima delicadamente, uma tarefa que durou uma pequena eternidade, sendo finalizada com um beijo em minha nuca.

Como conquistar esse garoto.Onde histórias criam vida. Descubra agora