23. Dançando em cacos de vidro, lábios com gosto de lar e o retorno do Jedi

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Três anos, 11 meses

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Três anos, 11 meses

e algumas cartas não enviadas depois.


A minha primeira pele estava despida de qualquer manto que protegesse meus sentimentos, estava vulnerável e exposta. Nua.

A sensação desnorteadora começou como um arrepio que correu a espinha dorsal, deslizando pelas terminações nervosas onde os fios desencapados se tocam e o corpo tenta amenizar a tensão pelos poros, os pêlos eriçam, o contato mínimo do tecido de minha roupa — como um colchão de ar quente — , deslizou por cima de uma camada interna de puro gelo correndo nas veias, a liberação sanguínea fez com que me sentisse viva e muita mais acesa quando meus olhos encontraram os dele, congelados em uma imagem estática, coberta por uma camada segura de plástico, mentirosa e artificial, mas seus olhos — profundamente castanhos e proibidos — que ainda podiam atravessar a minha alma, me movimentavam em uma corrida sem fim para longe de mim mesma, era química básica, e ali, era o primeiro sinal da minha espiral de ruína.

E tudo, absolutamente tudo, desmoronou por conta de uma revista. Uma maldita revista.

Mas eu vou contar tudo do começo, por um viés mais claro, antes do ponto de inflexão que me colocou de volta na rota de colisão de Jeon Jungkook, como um furacão categoria 5 no sistema Saffir-Simpson, ou um terremoto que em breve tiraria a Terra do eixo.

Meu ambiente ameno havia sido abalado por uma polaridade que sequer estava presente, na verdade, estava a 10.848,67 km de qualquer mínima proximidade.

Morar em Nova York era como viver constantemente em um estado de poesia, movimentação, luz e barulho. Cinematográfico e urbanamente sujo.

Havia conquistado uma vaga de estágio em uma grande revista musical ainda no fim da faculdade, relutado por uma chance no meio de 30 candidatos do sexo masculino para trabalhar em ambientes corporativos abarrotados de outros homens e repleto de testosterona nociva que não me impediram de ser efetivada e carregar, orgulhosamente, o título de responsável pelas resenhas musicais dos discos lançados e ser uma colunista da Rolling Stone. Joan Didion estaria orgulhosa de mim agora.

Mas tudo isso também incluía atravessar dois terços da cidade para chegar ao trabalho, já que vivia em Tribeca e o escritório da revista, em Midtown West. Passando por uma distância consideravelmente longa, uma caminhada pelo Rio Hudson, então o metrô, alguns passos e o velho prédio ficava ali, com janelas de vidro imensas e uma vista para a cidade inteira. Era mais fácil quando Ben me dava uma carona até o trabalho, nas noites que passava no meu apartamento, depois de sujeitá-lo a duas opções: fumar um enquanto ouvíamos os meus discos antigos ou beijá-lo até perder a sensibilidade do mundo ao nosso redor, quando estava faminta e quase nunca era de amor. Seu gosto de vape de morango era residual na língua, disfarce de relação séria do qual tentava fugir quando ele insistia no assunto, reviravoltas brutais do que tanta terapia e distanciamento sentimental havia me transformado: uma babaca impetuosa.

Como conquistar esse garoto.Onde histórias criam vida. Descubra agora