29. Sobre uma concha, um labirinto, Jeon Jungkook e eu.

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— Lembra quando você me contou sobre a garota da concha? — Minha voz soou trêmula e meio disfarçada, a garganta arranha no segundo que a palavra é dita, segurando as sílabas dentro do peito,  parecia algum tipo locutora fajuta de horóscopo de rádi...

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— Lembra quando você me contou sobre a garota da concha? — Minha voz soou trêmula e meio disfarçada, a garganta arranha no segundo que a palavra é dita, segurando as sílabas dentro do peito, parecia algum tipo locutora fajuta de horóscopo de rádio fazendo mistérios sobre o rumo do dia pela manhã, mas meu corpo inteiro sentia o impacto do que estava prestes a ser dito.

Jungkook concorda.

Eu tomo fôlego e um gole de coragem e prendo a respiração antes de ficar submersa. Quero agarrar Jungkook como se ele fosse minha única esperança em meio a maré de emoções que me atinge, o movimento do mar revolto, a ressaca sentimental que me arrasta e me empurra de volta, e estou diante da verdade, diante dele, e não posso fugir dela outra vez.

Leanor, do que... do que você está falando? — Era só um resmungo, meio sem força, como se estivesse tentando respirar, racionalizar e falar, tudo ao mesmo tempo. Observo ele de novo, com mais cuidado: seu cabelo úmido puxado para trás, seu peitoral despido de qualquer tecido, o ar correndo livremente por ele, até parece que consigo vê-lo por baixo da carne, dos músculos. Eu compreendo seus sentimentos, eu entendo o que Jungkook sente. Cada fio de emoção que corre as fibras do seu corpo. Nessas horas lembro do quanto ele pode ser frágil.

— O que isso significa? Eu quero entender, mas eu acho que não tô conseguindo...

Respirei fundo, preenchendo os pulmões de ar puro de novo. O ciclo de braçadas involuntárias para cruzar o oceano até um ponto seguro parecem cada vez mais rápidas junto ao ritmo do coração. Só me dou conta naquele meio segundo que desvio os olhos até a concha partida no meio de minha palma, que estou completamente despida. E não falo apenas de pele.

Meu subconsciente toma as rédeas da situação de forma quase automática. Alcanço o moletom solto no chão do quarto e visto de novo. Não era exatamente o momento para uma conversa séria com os peitos de fora.

— Há treze anos, logo quando cheguei a Busan, fiquei perdida na praia... — umedeço os lábios, tento olhá-lo outra vez. Seus olhos mal se movem, ele deve achar que é só uma brincadeira de mau gosto e que pela primeira vez, estou bancando a despreocupada, parece uma realidade alternativa, disfuncional, onde somos personagens de um enredo oculto, um programa de TV que une estranhos que compartilharam um mesmo passado involuntariamente, situações que não acontecem no nosso cotidiano mas sabia que coisas assim, tão fora da curva, só poderiam acontecer com pessoas como eu, como nós.

Jungkook caminha de um lado para o outro, eu quase consigo ver a névoa densa e confusa acima de sua cabeça, a ansiedade crescendo forte, posso jurar que suas mãos estão tremendo.

Parece antecipar e adiar a constatação dentro de si mesmo; querer tanto a verdade, mas temer confrontá-la.

E... e um garotinho, um garotinho lindo me ajudou quando senti o maior medo de uma vida inteira. — a afirmação é só um fio de voz, quase inaudível.

Como conquistar esse garoto.Onde histórias criam vida. Descubra agora