16. Sobre Jungkook, narizes quebrados e verdades universalmente conhecidas.

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TW: Violência, Xenofobia

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TW: Violência, Xenofobia.

Três meses passaram com a mesma velocidade assustadora de um tornado quando suas espirais de vento tocam uma superfície plana, destruindo tudo ao redor no rastro de sua passagem. Parecia um daqueles momentos cruciais após uma catástrofe natural, quando um silêncio assustador domina o cenário caótico, depois que cada peça foi tirada de seu devido lugar.

Mas desde que ele se foi, a sensação insuportável de sua presença, como um eco do que restou, parecia transbordar.

No primeiro mês, sobrevivia em fendas de realidade ao qual me segurava no meio das marés inconscientes de memória, era guiada de maneira automática para aquele lugar ao sentir um perfume familiar, ou pensar vê-lo no rosto de outros garotos — as mesmas figuras altas e de cabelos compridos no meio da faculdade, nos seus sapatos esportivos favoritos, perdido entre as camisetas de tons escuros sempre maiores que seu tamanho —, até olhar outra vez para confirmar que não se tratava sequer de uma característica similar, tudo não passava do produto de uma alucinação difusa que me levava a recriminar a saudade por ser tão cruel assim. Coração, mente, mãos, olhos, boca, quadris, coxas; tentava encontrar alguma parte minha que Jungkook não tivesse tocado. Procurava, em vão, reconectar o que havia restado para sentir que ainda era eu ali, habitando naquele corpo sem que o amor fizesse de mim uma intrusa em minha própria pele.

Contudo, eu permanecia sendo a memória em carne e ossos de nós dois, o arquivo vivo em uma pasta segura e esquecida. Seguia sustentando nas mãos um amor que nunca foi solicitado, mas que ainda era meu. A dor se alastrava por todas as partes do meu corpo, mantendo meu coração aceso, como um aviso claro de autodestruição iminente, aquiescendo as vozes repetitivas em minha cabeça.

Volta em meia, me pegava caminhando durante horas por Seul, inquieta, por entre as conveniências vazias tarde da noite, casas de muros altos do bairro de celebridades e as luzes cegantes de uma cidade imensa que parecia minúscula para mim. Nenhum lugar me cabia. Nenhum espaço era suficiente.

Às vezes tinha o ímpeto de ligá-lo só para ouvir sua voz de novo. Sanar as dúvidas que continuavam a doer dentro de mim; se de todas as coisas que foram ditas no meio de seu discurso de namorado falso, houve alguma verdade escapando pelas entrelinhas que não foi apagada pelas suas desculpas baratas na partida. Porque acreditei em cada palavra que ele disse e em cada eu-te-amo tragado pelo seu abandono. Não queria acreditar que tudo aquilo também fazia parte do seu teatro armado para cair fora quando a base sólida foi arrancada de nossa estrutura.

Me odiava por tê-lo deixado entrar e o odiava ainda mais por ter ido embora.

Encarava por horas o display do celular com sua foto anexada ao contato até seu rosto perder o sentido. Minha mente conseguia transformá-lo em um total estranho por alguns minutos, como prender a respiração embaixo d'água, se sentir invencível por suportar sem precisar de ar, e então, retomar a superfície outra vez desesperada por um pouco de oxigênio para sobreviver.

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