Às quartas usamos...

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— E por que diabos Kirishima Eijirou te chamaria pra almoçar com ele assim, do nada?

Izuku engoliu em seco. Diante do semblante intrigado e perplexo de Jirou e Shinsou, ele soube que chegara a hora de lhes contar a verdade. Não que tivesse mentido sobre dar aulas extras para Kirishima Eijirou. Apenas... omitiu o fato. E, de acordo com o dicionário, omitir é diferente de mentir.

De verdade? No fundo, não queria contar a eles. É que, bem, os dois já haviam deixado claro o quanto desgostavam do capitão do time de basquete, e Izuku temia que, caso soubessem de seu envolvimento com Kirishima, eles cortassem a amizade com ele. E, sendo sincero, a última coisa que ele queria era voltar a se sentar à janela solitária na hora do almoço, aspirando produtos de limpeza do depósito ao lado e trocando monólogos com teias-de-aranha desabitadas — nem uma aranhinha para lhe fazer companhia? Judiação.

Mas também sabia que não poderia continuar escondendo isso deles, não mais. O telefonema de Kirishima assombrou seus sonhos a noite toda, e Izuku só conseguiu dormir de verdade após beber um copo de leite bem quentinho, imaginando-o tendo acabado de sair das tetas fartas de Gertrudes. Quando ele acordou, porém, a ansiedade voltou com força total.

Kirishima o convidou para almoçar com ele. Com os amigos dele. Embora já o tivesse decorado, Izuku pegou o mapeamento que Jirou e Shinsou lhe fizeram e procurou o nome de Kirishima nas dezenas de mesas do refeitório. Achou-o na que dizia:

AS PIORES PESSOAS QUE VOCÊ PODE CONHECER

Integrantes: Kirishima Eijirou, Kaminari Denki e Bakugou Katsuki.

Izuku colhera esperanças de ver o nome de Kirishima em outras mesas, pois notou haver pessoas que ocupavam mais de uma (o Tourão que esbarrava nele nos corredores, cujo nome Izuku descobriu ser Iida Tenya, pertencia às ATLETAS TITULARES e ASIÁTICOS DESCOLADOS), mas acabou se frustrando.

Pelo visto, os poderosos só se sentavam à mesa dos poderosos.

Izuku suou frio ao se imaginar compartilhando uma mesa com os outros dois. Ele nunca foi de julgar as pessoas baseado em opiniões alheias, mas o que Jirou e Shinsou falavam sobre aquele Bakugou Katsuki... Poxa, eles pintavam o cara como um monstro.

— E de monstro ele não parece ter absolutamente nada... — murmurou Izuku conforme avaliava a foto de Bakugou no anuário, analisando a pele de porcelana, os cabelos bem-cuidados e os traços finíssimos feitos a pinceladas. Apesar da expressão hermética, o cara mais parecia um anjo ou um deus do sol. Os olhos dele eram um poço de lava fervente. Impressionante como não se via gente assim no campo...

O líder dos poderosos seria outro caso de "lobo em pele de cordeiro", como Monoma? Talvez.

Na manhã seguinte, Izuku dirigiu-se à escola mergulhado em uma nuvem de ansiedade. Quando bateu o sinal do fim do primeiro período, ele não perdeu tempo: puxou Shinsou e Jirou até uma sala de aula vazia. Descobriu ser a de ciências; na lousa, havia desenhos de partes de esqueletos cujos nomes foram escritos nas linhas abaixo, e, em meio ao frenesi, Izuku percebeu que algum desatento confundira o rádio com a ulna.

Não havia roteiro. Izuku abriu a boca e revelou a eles que Kirishima o convidou para almoçar com ele e os outros poderosos.

Shinsou engoliu o chiclete, e Jirou, abismada, perguntou como isso tinha acontecido.

— É que, bem... — Izuku hesitou, puxando os botões do macacão. — E-Ele me pediu ajuda com a matemática. Aconteceu naquele dia, quando eu tava na enfermaria, e... a gente tem se encontrado para estudar, desde então.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora