Namoro de vitrine

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No dia seguinte Katsuki bateu à porta dos Kirishima às 06h21. Eijirou o atendeu com a cara amassada e um filete de saliva no queixo. Katsuki não lhe deu tempo de perguntar nada; ignorou o mancebo e seguiu direto para o quarto dele, Eijirou a seu encalço.

— Irmão, o que foi? Você esqueceu alguma coisa aqui? Era só pedir que eu levasse amanhã na escola, não precisava gastar sua manhã de domingo pra... Ei, por que cê tá pegando o Livro do Arraso? Katsuki, espera aí, você não...

A voz dele foi morrendo à medida que Katsuki, após abrir o livro na página seguinte à de Hagakure, começou a escrever. Duas palavras, bem grandes e destacadas, foram suficientes. Katsuki deixou o livro de lado e pegou uma foto qualquer na penteadeira de Eijirou. Tirou-a da moldura e a rasgou com as mãos. Pegou a cola bastão na cabeceira e colou um dos pedaços logo abaixo das palavras que escrevera. Terminado, jogou o livro aberto no meio da cama, mal percebendo quão ofegante estava. Suas mãos tremiam.

Então, com os olhos presos em seu trabalho, aos poucos um sentimento o abateu.

Triunfo.

— Irmão — começou Eijirou, cauteloso, voz assombrada —, por que você escreveu isso? E por que colou uma foto... dela?

Katsuki não o respondeu, e Eijirou continuou:

— O que tá rolando, Katsuki? — Ainda sem resposta, ele se impacientou. — É sobre ontem, não é? Você tá claramente fervendo de raiva. Cara, se você não queria que todos pensassem que você e a Ochaco estão namorando, por que foi com ela pro baile? Agora já era! Não sei por que tá com raiva da Kyo se a culpa é só su...

— A culpa é toda dela! — gritou, e Eijirou se calou. Ouvi-lo dizer que ele e Ochaco "estão" namorando, no presente, fez com que a realidade batesse na cara de Katsuki. — Ela fez um trato com a velha, mentiu pra mim dizendo pra eu ser o acompanhante dela, mas na verdade as duas me enganaram dizendo pra Ochaco que eu iria com ela! Pior, que eu gosto dela!

— M-Mas, irmão, por que a Kyo faria isso?

— Por causa da vaga na porra da Academia de Música! A Kyoka tava pra ser cortada, e a velha sabia disso, e então fez um trato com ela. As duas me foderam.

O rosto de Eijirou estava branco.

— Cara, você tem certeza?

— Eu vi, Eijirou — disse com amargura. — Tava tudo no computador. A velha pagou a mensalidade dela do mês passado. A Kyoka me apunhalou pelas costas.

Eijirou ainda tentou remediar a situação dizendo que Katsuki podia ter entendido errado, que era melhor ele confirmar tudo com Kyoka, que ela poderia ter alguma outra explicação, mas Katsuki fechou os ouvidos para tudo que saía da boca dele.

O "me desculpe, Katsu" de Kyoka fora suficiente. Não havia mais nada a ser dito.

A partir desse dia, ela estava morta para ele.

▪️▪️▪️

Quando Katsuki voltou para casa, Mitsuki o esperava na sala. Ela estava séria, e Katsuki, ainda fervendo, se largou no sofá de frente à poltrona onde ela estava sentada. Ninguém falou nada nos primeiros segundos. Olhos idênticos se encaravam, frieza, raiva e austeridade singrando de um para o outro, e Katsuki nunca odiou tanto o fato de ser tão malditamente parecido com aquela mulher.

— Vou fingir que não vi meu computador dentro da piscina esta manhã, quando me levantei e não encontrei ele no meu escritório — começou ela devagar, voz baixa e séria. — Sei que está com raiva, então deixarei passar.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora