O menos pior dos três

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No dia seguinte Kacchan e Ochaco chegaram à escola em carros separados.

A novidade se alastrou pelos corredores em questão de segundos, e, embora Izuku tivesse certeza de que o flagra na biblioteca tinha algo a ver com isso, ele não entendia como essa poderia ser a motivação primordial. Tipo... eles brigaram? Por causa do que viram? Por causa de Izuku e de Shoto?

Por causa de Izuku?

Ok, ele sabia que Ochaco nutriu ou nutria sentimentos por sua pessoa, ainda que não soubesse dizer até que pontos esses sentimentos foram/iam considerando as decepções da garota a seu respeito. Sobre Kacchan...

Lembranças da tarde na sala de reforço atingiram Izuku em cheio; os beijos confiantes mesmo após a ligação da mãe dele exigindo vê-los; o trajeto até a casa dele, com Kacchan lhe transmitindo confiança; o aperto de mãos íntimo e encorajador momentos antes de eles entrarem.

Pensou no "sinto muito" que ele lhe enviou horas depois de se verem no teatro. E, liberto do receio e da vaidade, Izuku admitiu que, sim, os sentimentos de Kacchan ainda existiam.

Mas eles teriam acabado depois de ontem? Izuku recolheu seu material ao fim da aula de biologia e em seguida acessou o corredor abarrotado de alunos. O pensamento anterior lhe deu náusea: agora sim estava deixando a vaidade agir. E daí que Kacchan gostava dele? Isso não adiantava de nada quando ele estava ao lado de Ochaco por livre e espontânea pressão da mãe, da qual ele não fazia esforço para se livrar.

Se bem que, no dia atual, Kacchan e Ochaco não estavam exatamente juntos.

Izuku estava tão absorto em seus pensamentos que nem parou para se perguntar se a distância de Kacchan e Ochaco na hora da entrada perdurou pelo resto do dia. Minutos mais tarde, no refeitório, ele descobriu que sim quando olhou para a mesa GALERA TRANSADA e, em vez de vê-los juntos, viu Kacchan duas cadeiras à direita de Ochaco depositando total atenção aos jogadores, enquanto a garota estava cercada pelas amigas, porém sem conversar com nenhuma delas.

Kirishima e Kaminari compartilharam mais detalhes quando Izuku se sentou com eles para almoçar. Ao que parecia, Kacchan e Ochaco sentaram duas carteiras afastados em todas as aulas que compartilharam, não conversaram ou interagiram em momento algum e, no refeitório, estavam do jeito que estavam: distantes.

Na opinião de Kirishima, isso era um bom sinal.

— A farsa deve estar se desfazendo, e nem tivemos que esperar muito tempo. Mas, tipo, era de se esperar. Eles não se suportam.

Izuku mais tarde descobriria que o restante da escola não concordava com Kirishima. Apesar dos "puxa, eles já estão brigados?" de lá e dos "que relacionamento tóxico" de cá, todos terminavam dizendo a mesma coisa: "ah, mas com eles é assim mesmo".

— Mudando de assunto — começou Kaminari, largando seu iogurte e erguendo os olhos para Izuku —, a Jirou me pediu um tempo.

Izuku o olhou surpreso.

— É mesmo?

Ele assentiu, triste.

— Cê sabe se ela tá com algum problema?

Izuku se lembrou da briga e sentiu uma pitada de ansiedade.

— Ela... bem, ela manteve segredo sobre a relação de vocês de mim e do Shinsou... e ele descobriu há alguns dias.

— Eles brigaram? — intrometeu-se Kirishima.

— Mais ou menos.

Kaminari se recostou na cadeira e voltou a remexer seu iogurte.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora