Não se meta

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Com o fim do recesso, as aulas voltaram normalmente na segunda semana de janeiro. No estacionamento coberto de neve os alunos se cumprimentavam com abraços e toques próprios, perguntando como fora o Natal e a virada de cada um. Não obstante, tão logo pôs os pés nos terrenos, Izuku seguiu direto ao carro de Shinsou e encontrou ele e Jirou sentados no para-choque.

— Olha só pra ele — anunciou Jirou analisando as roupas novas de Izuku. — Aluno novo?

Ele riu, vermelho, e parou diante deles. Depois de breves acenos — não estavam no nível de abraços ainda, e, considerando serem Jirou e Shinsou, Izuku não conseguia imaginá-los o alcançando um dia —, seguiram o roteiro e perguntaram como fora o recesso de cada um.

— Foi um saco lá nos meus avós — disse Shinsou ajeitando o cachecol cinza. Nem o frio conseguia dar uma corzinha às maçãs de seu rosto. — Terço e missa vinte quatro horas por dia. E ainda botaram fruta no peru.

— E você, Jirou?

A garota, que vestia um gorro preto de retalhos, luvas pretas e galochas pretas, olhou para Izuku.

— Nada de mais — disse desinteressada. — Ajudei minha mãe e minha tia a arrumar a casa e a fazer a comida pra recebermos uns parentes. E você, Izuko? Aproveitou para conhecer melhor a cidade com sua mãe? Devem ter conhecido muitas lojas. — Dedilhou o novo casaco de inverno verde-musgo que ele vestia.

— Na verdade, não — admitiu e em seguida deu de ombros como forma de também mostrar desinteresse. — Passei a maior parte do tempo com os poderosos.

Os dois trocaram um olhar significativo. Izuku já esperava por isso, mas ainda assim se sentiu incomodado.

— Deve ter sido um saco — disse Shinsou, por fim.

— Não sei como aguentou — acrescentou Jirou, revirando os olhos.

Constrangido, ele não soube o que dizer, porque... bem, passar o recesso com os poderosos não chegou nem perto de ser um sacrifício, na verdade foi o contrário. Mas algo lhe dizia que era melhor não comentar isso com os dois, principalmente com Jirou. Depois do vacilo com a pergunta de Kaminari, a última coisa que ele queria era chateá-la. Por isso, só assentiu e murmurou um "pois é".

— Já que não saímos no recesso, eu tava pensando em ir no shopping hoje, depois da aula — sugeriu Jirou. — Chegou uns discos novos, então podemos ouvir juntos... A não ser que a tríplice tenha planos para mais tarde — acrescentou ela, olhando para Izuku.

Antes que ele pudesse responder, um toque de celular ecoou. Jirou e Shinsou, sincronizados, verificaram os deles, confusos, e Izuku, sem jeito, tirou o dele do bolso da mochila. O som parou antes que ele atendesse.

— Acho que era minha mãe — disse incerto olhando para a tela. — O que será que ela queria?

Sem pedir, Shinsou pegou o aparelho dele.

— Ganhou de Natal?

— É...

— Finalmente, Izuko. — Jirou também analisava o celular. Assoviou. — Sua pobre mãe deve ter se desdobrado em cem, essa marca é muito boa.

Izuku olhou para outro ponto do estacionamento quando disse:

— Na verdade, foi o Kaminari quem me deu.

O silêncio que se sucedeu o fez sentir uma sensação ruim. Tomou coragem e olhou para os dois, que o encaravam.

Jirou foi a primeira a abrir a boca.

— E você aceitou?

— Bem... — Ele encolheu os ombros. — Tá aí.

— E pra que você aceitou isso? E logo deles?

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora