Consequências

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Prontinho, daqui pra frente é terreno novo tanto aqui quanto no spirit, aproveitem~

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Domingo à noite. Enquanto se preparava para encarar a aula do dia seguinte, Izuku refletia sobre o grande fiasco que foi seu fim de semana. Fizera coisas das quais se envergonhava — embebedar-se a mais grave de todas — e tomou escolhas erradas. Lidar com a decepção no rosto de sua mãe, uma experiência inédita, foi como passar por uma intoxicação terrível.

Naquela manhã, eles não conversaram quando ele acordou e se reuniu com ela para tomar café, se é que tomar café às 13h era algo normal. Sua mãe não disse uma palavra enquanto Izuku, cujo estômago continuava um pouco dolorido, comia as panquecas, cada pedaço de massa amanteigada descendo como concreto por sua garganta e alguns acessando sua laringe, provocando-lhe pequenos acessos de tosse.

— Izuku, lave essa louça e venha me encontrar na sala depois que terminar, sim?

Com movimentos mecânicos, ele assentiu e se dirigiu com os pratos e copos à pia. Em dez minutos enxaguou o último talher e foi à sala, pronto para pôr em palavras o roteiro que planejou, mas desistiu de dizer qualquer coisa quando se deparou com a TV ligada em uma tela congelada e sua mãe o aguardando para começarem um filme.

Sim. Diferente do que ele pensou, não teriam uma conversa de mãe e filho, pelo menos não imediatamente.

Ele sabia o que ela planejava, é claro. Constrangido, ele sentou-se ao lado dela, e seu desconforto triplicou tão logo descobriu a temática do filme. Na cena final, quando a protagonista finalmente aceita os pedidos do pai para ela se internar em uma clínica de reabilitação para alcoólatras graves e os créditos do filme subiram, Izuku, com olhos marejados mas determinados, virou-se para sua mãe e disse:

— Desculpa. Desculpa mesmo.

Ela o olhou por vários segundos e suspirou.

— Sei que não fará de novo.

E ambos souberam que estavam bem, principalmente quando trocaram um abraço caloroso. Mas Izuku sabia que dali por diante ela manteria um olho nele com mais atenção, por isso jurou a si mesmo nunca mais encher a cara numa festa ou aceitar substâncias estranhas de pessoas questionáveis, porque, agora, com os sentidos sóbrios e seguro em casa, Izuku constatou que tanto a festa da qual saiu aos vômitos e tropeços quanto o ambiente e as pessoas não lhe fizeram nada bem.

A promiscuidade das meninas e meninos; os olhares debochados sobre sua fantasia assim que ele entrou na mansão do Tourão; a garota, Toga, que praticamente o assediou; e, para finalizar, a dança lenta e íntima de Bakugou e Uraraka eram tópicos que não saíam de sua mente e o faziam se xingar por ter, para início de conversa, aceitado se meter com aquela gente.

Era essa a diversão dos garotos da cidade? Era assim que eles faziam amizades, começavam relacionamentos e comemoravam uma data que, em tese, deveria abarcar idas às casas dos outros em busca de doces ou maratonar filmes de terror? Izuku não gostou nada. Nadinha. Além disso, resquícios de ressaca o incomodavam até agora, e, deitado em sua cama, pronto para dormir enquanto remoía o fato ter deixado sua mãe uma pilha de nervos na madrugada horrível pela qual ambos passaram, Izuku admitiu que as coisas seriam muito mais fáceis se ele simplesmente acabasse com tudo isso.

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Ele repensou a ideia enquanto se dirigia à escola naquela manhã, é claro.

Pensava em Uraraka. Embora ela aparentemente tivesse se livrado das más consequências por findar o relacionamento com o líder dos poderosos, fosse por determinação dela ou não, ela era uma garota amada por todos e vinha de uma família rica, atributos os quais Izuku não possuía. Mal podia contar com sua mãe para o defender daquelas pessoas, portanto, seria mesmo uma boa ideia cortar laços com os poderosos?

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora