Falsa sensação de controle

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— E foi isso.

Izuku se manteve estático pelos próximos três minutos. Kacchan, que falara o equivalente a uma bíblia na última meia hora, não abriu mais a boca e provavelmente não o faria até alguma coisa sair da de Izuku. Ele compreensivelmente sabia que Izuku precisava refletir, e, caramba, como Izuku refletia. Era como se um filme passasse diante de sua retina e as emoções descritas por Kacchan sobrepusessem a suas próprias. Receber um vislumbre da vida que Kacchan levou nos últimos quatro anos abalou as emoções que Izuku acumulara nos últimos dias, a principal delas o rancor.

O dia a dia de Kacchan... era infernal.

— Isso não pode continuar — disse Izuku finalmente, atraindo o olhar de Kacchan, que perguntou:

— Meu "namoro" com a Ochaco?

— Seu relacionamento com sua mãe. Kacchan, isso é um absurdo. Desde que eu cheguei, vi como as coisas estavam ruins entre vocês, vi ao vivo, aliás, mas tudo isso que você me contou, essa perseguição de anos, já é outra coisa. Katsuki — disse, e repetiu: —, isso não pode continuar.

Kacchan se calou por longos segundos. Não olhava mais para Izuku, mas para a calçada por onde uma mulher passeava com seu cachorro. Izuku então, como Kacchan fez antes, concedeu a ele tempo para refletir, e se distraiu observando um carro preto os ultrapassando e estacionando vários metros à frente.

Desviou os olhos de volta a Kacchan quando ele decidiu falar.

— Por isso estou esperando chegar à maioridade.

Izuku pensou um pouco.

— Você disse que o Kirishima não acredita que as coisas irão melhorar por causa disso, e quer saber? Eu também não acredito. Você precisa tomar alguma atitude, fazer alguma coisa que...

— E eu já não fiz, Deku? Porra, eu te beijei na frente da escola toda, fui fodidamente contra tudo no que minha mãe acredita. E veja onde terminamos. — Uma inspiração profunda e então uma conclusão: — Não adiantou de nada.

— Isso não foi suficiente, admita. — Ao primeiro olhar contrariado, Izuku continuou: — Sim, foram coisas difíceis para você fazer, mas só para você. Não significa que a sua mãe não esteja preparada para lidar com seus ataques, e principalmente não some com as cartas que ela tem na manga. Para você ficar acima dela, precisa pegar mais pesado e com mais... constância.

Os ombros de Kacchan estremeceram mesmo sob a jaqueta de couro. Izuku se frustrou com a hesitação na voz dele quando ele disse:

— Mas...

— Você tem medo dela, Kacchan.

Uma pausa.

— Não tenho.

— Tem sim.

— Deku, você não sabe de porra nenhuma.

— Sei o que você me mostra, e na primeira vez que vi você e sua mãe juntos você mostrou medo.

Kacchan batucava os dedos no volante enquanto jogava os cabelos para trás. O Livro do Arraso não se encontrava mais sobre seu colo, mas sobre o de Izuku.

— Ela é minha mãe, Deku.

— E?

— E nem fodendo que eu tenho medo da minha própria mãe. Essa coisa entre mim e ela... porra, eu só devo respeitá-la demais. O que é que tem?

Izuku tentou esconder o tom de riso, mas não conseguiu.

— Acha que respeito é o bastante pra você se encolher perto dela? Ou pra obedecer a todas as ordens absurdas? Ou quem sabe é o suficiente pra deixar ela controlar a sua vida?

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora