Acampamento

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Na manhã seguinte, enquanto tomava café com Inko e Shoto, Izuku estranhou as buzinas gritando na frente de sua casa. Kacchan provavelmente ainda estava chateado considerando que ele não entrou em contato com Izuku depois do que rolou na noite anterior, e não se lembrava de marcar alguma carona com Kaminari ou Kirishima. Pediu licença, foi até a sala e, da janela, verificou a calçada.

— Conhece? — perguntou Shoto sobre seu ombro.

Izuku negou com a cabeça, mas então assistiu à porta traseira do carro preto se abrir e revelar Jirou. Ela a fechou em um baque seco, se escorou no automóvel e cruzou os braços. Novas buzinas soaram.

— Não é a sua amiga?

Izuku engoliu em seco.

— Acho... que ela veio me dar uma carona pra escola — disse, e olhou para Shoto. — Vou indo.

Shoto olhou para a cozinha, onde Inko continuava seu desjejum, e abaixou o tom de voz:

— Ainda estão com problema?

Izuku hesitou. Apesar de ter contado várias coisas a Shoto, "Jirou" foi um dos poucos temas sobre o qual ele não entrou em detalhes. Talvez fosse a hora de mudar isso, mas, considerando que precisava sair, não seria nesse momento.

— Mais ou menos. Te explico depois.

Shoto assentiu, e Izuku voltou à cozinha para se despedir de sua mãe. De volta à sala, pegou a mochila no sofá e, após acenar para Shoto, saiu. Na calçada, Jirou continuava de braços cruzados, e por mais de cinco segundos eles se encararam sem nada dizer.

Ela então descruzou os braços, batucou o vidro do carro e disse à pessoa atrás do volante:

— Pode ir, mãe. Valeu pela carona.

O carro partiu, e Jirou voltou a olhar para Izuku.

— Vim te acompanhar até a escola. Precisamos conversar.

Dias atrás Izuku ficaria surpreso diante da iniciativa de Jirou, mas agora nem tanto. Depois de tudo o que ouviu sobre ela através de Kacchan, entendeu que Jirou se tratava apenas de uma pessoa falha e menos durona do que parecia. Como Kacchan, havia coisas em seu passado nas quais ela não colocou um fim e que a perseguiam até hoje. Ambos pareciam jogar a culpa disso em seus próprios orgulhos, os quais Izuku agora sabia não passar de medo.

E foi essa a primeira coisa que disse a Jirou no primeiro minuto de caminhada.

— Quer dizer que o Katsu te contou tudo — disse ela um minuto depois, soprando e estourando uma bolha de chiclete e ignorando a surpresa de Izuku ante o apelido. — Legal saber que agora você está cem por cento do lado daquele hipócrita.

Izuku comprimiu os lábios.

— Você fala muito da hipocrisia dos outros e esquece das suas, já percebeu?

Jirou abriu um sorriso infeliz muito parecido com o de Shinsou.

— Já, sim. Fui hipócrita com você, nisso você acertou. O Kaminari e eu... — começou ela, mas aparentemente desistiu de continuar. — Bem, desculpe, ok? Não posso te julgar por estar com o Katsu.

Caíram em um breve silêncio. Izuku não se deu o trabalho de corrigi-la dizendo que ele e Kacchan não tinham nada (ainda), pois assim desviaria do assunto que desejava que Jirou esclarecesse. Ela voltou a falar quando atravessaram o farol:

— Sei que errei. Lá atrás. Fui uma traíra com ele.

— Você devia estar desesperada — disse Izuku num consolo automático, e Jirou balançou a cabeça.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora