Trégua

432 60 94
                                    

— O cachorro do Kirishima tá morrendo!

As palavras ecoaram várias vezes na mente de Izuku, que, quando deu por si, irrompia no ginásio. No meio da quadra, atletas do time de beisebol e do time de futebol rodeavam algo que Izuku não conseguia ver de onde estava, e uma cacofonia de vozes, gritos e um choro alto dominavam o recinto fechado.

Ele aproximou-se.

— O que foi? O que está acontecendo?

Embora abafada, sua voz conseguiu chegar aos ouvidos de alguns rapazes. Ojiro foi um deles.

— É o Oto — disse ele, e Izuku nunca o viu tão pálido. — A gente tava lá fora treinando e então ele começou a ficar estranho, e aí trouxemos ele pra dentro. Agora... ele tá assim.

Uma parte da roda se abriu e Izuku pôde ver o motivo de tamanha inquietação. Seu estômago despencou. No chão, Oto se contorcia acima de uma camisa estendida cujas costas exibiam o n° 10. De sua boca vazava baba espumosa que umedecia a pelagem do pescoço e criava pequenas poças no piso lustroso. Em outros pontos do chão havia um líquido diferente, sem espuma, e, pelo cheiro, Izuku constatou ser urina. Os olhos do cachorro se reviravam e sua língua estava para fora como se ele estivesse sufocando.

Envenenamento.

Não era a primeira vez que Izuku via uma cena dessas, mas, com certeza, foi a que mais o impactou.

— Denki, e aí?

Bakugou. Só então Izuku notou as duas figuras agachadas uma de cada lado do corpo de Oto. O líder dos poderosos, com toda certeza a pessoa mais calma dali, estava mais próximo à cabeça do cachorro, enquanto Kirishima, agoniado, tentava tocar o corpo convulsivo do cão. Lágrimas grossas vertiam de seu rosto.

Ao lado de Izuku, Kaminari digitava furiosamente no telefone. Ele estava sem camisa, e Izuku concluiu que a peça estendida sob Oto lhe pertencia.

— J-Já liguei pra ambulância, mas eles vão demorar pelo menos dez minutos pra chegar!

— Não vai dar tempo — disse alguém.

— Temos que botar ele no carro e ir para o hospital!

— Não vai dar pra levar, ele é grande demais e tá se debatendo muito.

Kaminari bateu na tela do telefone freneticamente.

— Olha, olha! A-Aqui diz que dá pra pegar... carvão? É isso?

— Carvão ativado diluído em água morna? — interrompeu-o Izuku, e todos os olhos se voltaram para ele. Denki acenou, e, preocupado, Izuku continuou: — Mas tem essas coisas aqui na escola?

O Tourão negou com a cabeça.

— Pouco provável. E ainda teríamos que esquentar água?

O choro de Kirishima aumentou.

Não, não, não, isso não tá acontecendo, meu Deus, não! Meu cachorro vai morrer! Alguém ajuda ele, por favor!

Nesse momento Izuku deixou as emoções de lado. Decidido, ele virou-se para a pessoa mais calma no ginásio.

— A cantina está aberta agora?

Bakugou olhou para ele confuso, mas assentiu.

— Você teria que entrar pelos fundos — disse ele. — Mas pra quê você...

Izuku, porém, já tinha ido. Saiu do ginásio, atravessou os campos, onde a notícia já começava a se espalhar, e entrou no prédio como um foguete. Seguiu à cantina vazia e bateu na porta que, julgou, dava para a cozinha. A tiazinha da sobremesa o atendeu.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora