Fura-olho

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Fura-olho: Adjetivo [Gíria] Que trai a confiança de alguém, buscando alcançar ou tomar o que lhe pertence; refere-se a quem tenta conquistar uma pessoa comprometida; traíra: amigo fura-olho.

Ou, simplesmente: amigo que pega a mina do outro.

Izuku não apreciou nadinha as definições que lia na tela do computador da biblioteca, fosse a pomposa, fosse a coloquial. Quando ele e Katsuki não eram amigos — mas eram agora? —, Izuku não precisava se preocupar com o detalhe de se engraçar com a ex dele, mas desde o telefonema do poderoso ele talvez estivesse começando a se preocupar com isso. Sim, Izuku estava interessado em Uraraka, e, ciente de que deixou a ambição de lado por conta da rotina agitada, ele decidira tomar uma iniciativa; no entanto, diante da definição "fura-olho", Izuku se sentia... perdido.

As tias da limpeza chegaram para limpar a biblioteca e Izuku vagou a esmo pelos corredores. O último sinal bateria a qualquer momento e os corredores ficariam abarrotados de alunos ansiosos para deixar a escola o mais rápido possível considerando ser véspera do recesso de Natal.

Izuku checou o relógio e viu que tinha um tempinho. Ele já poderia ter ido para casa visto que sua última aula fora cancelada, mas planejava pegar as anotações que esquecera na sala onde se dava as reuniões do Matletas. Rumou à sala 27 e se surpreendeu ao ver que não estava sozinho.

— Uraraka?

A garota guardava algumas pastas na parte de baixo de um armário, mas se ergueu quando ele entrou.

— Hein? Ah, oi, Midoriya. Tudo bem? O prof. Aizawa me pediu para colocar algumas coisas em ordem por aqui antes que fechassem a escola para o recesso... Ah, não preciso de ajuda, praticamente já acabei! — disse ela quando o viu abrir a boca. — Mas obrigada.

Izuku sorriu um sorriso sem graça.

— A-Ah, sim... Eu... eu estava me perguntando, sabe, se daria pra falar com você antes do dia terminar.

— Você tem meu número, não tem? — Uraraka sorriu meio brincalhona enquanto se aproximava para apanhar uns papéis e andava até a mesa do prof. Aizawa para os guardar em uma gaveta. De costas para ele, ela perguntou: — Mas já que estamos aqui... o que você queria me dizer?

Por um momento as palavras fugiram de Izuku. Com muito custo, ele testou as cordas vocais e saiu:

— Nada importante... q-quer dizer, é, mas, sabe, não é nada uau ou coisa assim... — Respirou fundo. — Eu só queria te desejar boas-festas.

A maneira como ela se virou e o olhou o fez fitar a lousa vazia na mesma hora.

— Obrigada — disse Uraraka depois de um tempo. Seu rosto, percebeu Izuku quando a espiou de soslaio, exibia leveza. Ela apanhou a mochila sob uma mesa e andou até ele. — Boas-festas para você também, Midoriya. Você é um doce, sabia?

Ela o tocava no ombro. No ombro. Izuku poderia hiperventilar apenas com isso, mas as coisas foram além quando ela se inclinou, pressionou os lábios (lábios!) em sua bochecha por três segundos e se afastou.

Se antes seu coração galopava no peito, Izuku tinha certeza de que agora o sentia pulsar na boca. Encarava Uraraka provavelmente com olhos arregalados, e ela, achando graça, piscou e saiu.

Santa Gertrudes. Seria essa a definição de estar nas nuvens? Se sim, Izuku agradecia, pois foi o suficiente para tirar seus pensamentos de outra definição.

Mas apenas por vinte minutos. Quando o sinal reverberou pela escola, Izuku tirou a expressão apatetada do rosto, saiu da sala, desceu as escadarias e, irrompendo no corredor principal, se deparou com o que sobrou dos alunos que se preparavam para sair para o estacionamento. Observou como as portas das salas do corredor estavam escancaradas, indicando ter havido ali uma correria parecida com as das galinhas quando Izuku as chamava para o rango.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora