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Eu fico.

Izuku ergueu os olhos para o céu. Uma brisa bateu em seu rosto e espalhou uma sensação gelada em suas bochechas; algumas lágrimas escaparam durante a curta conversa com o amigo, mas, além da dor que as originaram, Izuku sabia que elas também significavam alívio.

Shoto ficaria por ele.

Ficaria com ele.

Muito mais calmo, Izuku caminhou para casa. Não pensava em nada exceto em Shoto e no fato de que em poucas horas estariam no mesmo espaço, e não a centenas de quilômetros um do outro, mas acabou se esquecendo de um detalhe importante, e lembrou-se dele no segundo em que entrou em casa e se deparou com sua mãe na sala de estar. Para seu azar era justamente o dia de folga dela, e Izuku não bolara nenhuma desculpa que explicasse o fato de ele não estar na escola, exceto:

— Me senti, hã, um pouco mal.

A desculpa provou-se outro erro, pois na mesma hora Inko se levantou, sentou Izuku no sofá e correu para pegar a caixa de primeiros socorros enquanto fazia mil perguntas sobre como exatamente ele estava se sentindo. Depois de uma intensa discussão, Izuku enfim cedeu e aceitou um dos comprimidos que ela lhe oferecia, mas o ocultou na mão em punho para jogá-lo fora assim que estivesse fora da vista dela.

— Hã, mãe — chamou-a após ela guardar os remédios e retornar à sala —, sabe o Shoto?

— O que tem?

— Ele não vai voltar com o pai dele.

Ela franziu o cenho.

— Não me diga que eles discutiram de novo?

— Não, ele mudou os planos. Na verdade, eu queria pedir uma coisa. — Reuniu coragem e soltou: — Ele pode ficar aqui com a gente? Por alguns dias?

Ela hesitou, o que ele já esperava, mas após refletir disse que tudo bem.

— Mas me diga — continuou ela com uma pequena ruga entre as sobrancelhas —, por que ele decidiu ficar?

Izuku desviou o olhar. Ele também não tinha uma desculpa para isso.

— Eu pedi.

— Pediu?

— É, mãe. Ele... é maior de idade e sabe dirigir, pode voltar sozinho depois. Eu só queria ter a companhia dele por mais um tempinho.

Sua mãe o olhou com preocupação seguida de pena.

— Entendo, Izuku. Sei que sente falta dele e, bem, de todo o resto. A que horas ele vem?

Izuku disse que provavelmente no fim da tarde, e ela o lembrou de que seria necessário procurar o colchonete no armarinho que eles encheram com tralhas quando fizeram a mudança. Izuku sentiu uma pontadinha no peito por ditar a estadia de Shoto sem antes falar com ela. Inko adorava Shoto, mas Izuku sabia que quando recebiam visitas ela se esforçava para manter tudo em ordem e passar a melhor impressão possível mesmo vivendo uma rotina exaustiva no trabalho. Sendo assim, pela primeira vez Izuku decidiu tomar para si o papel de anfitrião.

E assim fez. Quando Shoto chegou cerca de três horas depois carregando apenas uma mala grande, Izuku o ajudou a subir com a bagagem para seu quarto, cujo piso varrera, lavara e encerara, e mostrou a ele o colchonete onde ele dormiria, cujo pó Izuku passou a última meia hora aspirando e cuja extensão cobriu com lençóis limpos.

Desceram e tomaram um café da tarde do qual Izuku também cuidara após arrastar Inko para frente da TV e insistir que sim, ele conseguia cuidar de tudo sozinho, obrigado, e não, ela não tinha permissão de se levantar até ele terminar.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora