Está tudo bem, Kacchan

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Izuku ajeitava a mesa e arrumava as roupas amassadas enquanto, em silêncio, observava Kacchan digitar alguma coisa no celular.

Deviam ter se passado quase vinte minutos desde que Izuku entrou na sala do reforço para encontrá-lo, mas poderiam ser mais. Ele não sabia dizer. Os beijos de Kacchan — e ele experimentou muitos tipos nos últimos minutos — eram atemporais. Izuku ainda estava vermelho e um pouco ofegante. Seu corpo vibrava de um desejo do qual ele pouco tinha conhecimento, mas o sentia perfeitamente na base do estômago, pressionando, repuxando, se contorcendo.

Olhou para as janelas, para além das árvores e das nuvens, para o céu azul e límpido, para o sol brilhante e caloroso. Mais cedo, quando acordou, Izuku checou o clima pela janela de seu quarto e pensou que o dia seria como o anterior, agoniante e cansativo, com ele pensando no paradeiro de Kacchan a cada minuto sem notícias, mas, após a última hora, descobriu que as bombas escolhiam explodir nos momentos mais inesperados.

Izuku voltou a observá-lo. Kacchan não ajeitou a própria camisa, então dava para ver as marcas das mãos ansiosas de Izuku onde o tecido cobria seus ombros e costas largas. Mesmo sob a parca luz vinda das janelas, dava para ver quão inchados e vermelhos estavam os lábios dele, e Izuku se perguntou se os seus estariam iguais.

Outra onda de calor o atingiu, e precisou desviar os olhos. Ele sabia que muitas pessoas usavam salas de aulas vazias para "se agarrar", como diziam, mas jamais pensou que faria algo assim na escola, muito menos com Bakugou Katsuki.

E sentia vergonha do quanto gostou.

Kacchan guardou o aparelho no bolso de trás da calça e pegou a jaqueta do time. Vestiu-a. Ele jogou as mechas loiras para trás e olhou para Izuku, ainda parado no mesmo lugar desde que eles... bem, desde que eles pararam. O contato visual foi longo, mas nada disseram. Kacchan o olhava como se pensasse em mil coisas ao mesmo tempo, e Izuku manteve os braços cruzados em um misto de recato e embaraço. Cada detalhe do cenário parecia insuportavelmente íntimo. Uma energia estranha e magnética viajava pela sala, e Izuku sabia que ela se originava dos dois, e de repente se pegou questionando se Kacchan já esteve assim com Ochaco — escondidos em uma sala escura e reféns dessa energia indescritível após se beijarem vez após vez.

Kacchan se moveu. Andou até ele e parou a sua frente. Izuku continuou olhando para ele em silêncio, tentando desvendar, em seus olhos inescrutáveis, o que se passava em sua cabeça. Quando Kacchan ergueu a mão e tocou em seu rosto, Izuku não o afastou. Deixou-o pontilhar sua bochecha e maxilar e deslizar o polegar por seu lábio inferior, repetindo o processo algumas vezes.

Os dedos dele eram macios contra sua pele, muito diferentes dos de Izuku, que cresceu na lavoura. Kacchan estava com aquele olhar novamente, o mesmo que manteve durante toda a sessão de beijos, como se Izuku — ou seus lábios — fosse a única coisa de que ele necessitava no mundo. Pensou que ele o beijaria de novo, e seu corpo e cérebro não contestaram a ideia, mas Kacchan apenas ajeitou alguns cachos atrás de sua orelha e disse:

— Você vem comigo?

Não precisava nem pensar.

— Sim.

Eles deixaram a sala de reforço e caminharam lado a lado nos corredores. Nos andares de baixo encontraram a maior parte dos colegas, que, no segundo em que botaram os olhos nos dois, se cutucaram e cochicharam entre si profusamente. Izuku se encolheu com a atenção ao passo que Kacchan continuou andando com determinação, queixo erguido, imponente, sem olhar nem dirigir a palavra a ninguém.

Ele ainda era o rei da escola.

Isso, ninguém questionaria.

Perto de acessarem a saída para o estacionamento, ouviram um chamado a suas costas. Izuku se virou e viu Mina, ofegante, correndo atrás deles, mas Kacchan o puxou para que continuasse andando. Ela logo os alcançou.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora