Você é o pior

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Kacchan não apareceu na escola dois dias seguidos.

Ele também não respondeu às dezenas de mensagens de Izuku nem às ligações de Kirishima e Kaminari. Ninguém o viu na rua, nem no shopping, nem no mercado, nem na academia e muito menos na empresa de cosméticos de sua família. Era como se Kacchan tivesse desaparecido do mapa. Os pais dele, por sua vez, eram vistos saindo para trabalhar como se tudo estivesse na mais perfeita normalidade.

No segundo dia sem notícias, Izuku não sabia mais o que fazer nem o que pensar. Das duas, uma: ou ele viajou, ou estava trancado em casa. Izuku apostava na primeira opção, mas, se fosse isso, para onde ele teria ido? E, se ele estivesse escondido em casa, ele escolheu isso ou estava sendo obrigado? Dona Mitsuki seria capaz de prender o próprio filho só para impedir que ele e Izuku se vissem? Conhecendo-a, provavelmente sim... Mas e quanto às faltas consecutivas que Kacchan estava recebendo em suas aulas, elas não importavam?

Izuku esfregou os olhos pela sexta vez enquanto o prof. Aizawa enchia a lousa de equações e explicava novas fórmulas. A aula de Cálculo Avançado parecia interminável. Tudo o que o professor falava entrava por um ouvido e saía pelo outro, e isso virou rotina em todas as aulas de Izuku desde o que aconteceu na casa de Kacchan.

Ele simplesmente não conseguia focar em nada além de sua preocupação. Nem mesmo Ochaco sentada a algumas carteiras à frente conseguia desviar seus pensamentos. Izuku temia que algo de ruim tivesse acontecido depois que deixou a residência dos Bakugou, que Kacchan tivesse perdido o controle e feito uma besteira tão grande a ponto de precisar sumir do mapa.

Perguntava-se se deveria ter ficado, ou pelo menos insistido para Kacchan ir com ele, mas na hora a única coisa que Izuku tinha na cabeça era a urgência de sair daquele bairro, de perto da casa e dos pais de Kacchan. Izuku chegou em casa destruído naquela noite. Recusou-se a descer para o jantar e não saiu do quarto para nada. Enfiou-se nos cobertores e lá ficou, chorando baixinho e soluçando. A voz de dona Mitsuki ecoava em sua cabeça sem que ele pudesse conter, cada palavra dilacerando seu coração e sua alma.

Foi horrível. Cada segundo naquela sala, sob a mira daqueles olhos duros e frios, foi horrível.

Como Kacchan aguentava viver lá? Como aguentava encarar aquela mãe odiosa e aquele pai que, embora ameno, não tinha voz ativa? Como aguentava ser pressionado, julgado e humilhado dia após dia pela própria família?

Onde ele estava, afinal? O que estava fazendo? Por que não entrava em contato com ninguém?

Izuku se sentia da mesma forma que quando chegou à cidade: perdido e sozinho, mas parecia dez vezes pior. Sua nova imagem aos olhos da escola foi de longe a de maior repercussão, e mesmo após dois dias ele não estava tendo êxito em lidar com os novos tratamentos — principalmente os negativos.

O dia seguinte após o beijo no refeitório e a conversa na casa de Kacchan se revelou um dos mais difíceis da vida de Izuku. Ele precisou reunir toda a coragem que tinha para se levantar e ir à escola. Até pensou em faltar, mas após a semana de luto em que ele mal foi às aulas sua média de frequência já estava no limite, e, além disso, ele tinha prova de história no quinto período.

No momento em que ele atravessou os portões para o estacionamento ele soube que seria um dia de cão. Os olhares escancarados e os cochichos não foram a pior parte, mas sim as caras feias e, por vezes, enojadas, e as piadinhas de mal gosto acerca de sua sexualidade. Houve sim um bom número de pessoas, como Kendo Itsuka, Yuga Aoyama e Sero Hanta, que o confortaram dizendo que ele não estava sozinho e que não precisava ter vergonha, e Izuku se sentiu bem com o apoio que ele francamente não esperava receber, no entanto os comentários ruins conseguiam ser mais fortes e recorrentes.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora