Coliseu

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— Kyoka, pela última vez, tira a porra dos pés da minha cama. Tá ficando surda?

A garota de cabelos pretos e curtos, dedilhando uma guitarra enorme sobre o colo, interrompeu o movimento da mão para lhe mostrar o dedo do meio, mas jogou os pés para fora do colchão. Mesmo assim Katsuki não se mostrou satisfeito, pois sabia que em cinco minutos ela voltaria a apoiá-los nos lençóis só para encher seu saco.

Eijirou, estirado em um puff em frente à TV, soltou um palavrão quando perdeu um pênalti para o bot do FIFA. Katsuki, à escrivaninha, organizava os cadernos, livros e materiais que usaria pelo resto do semestre. A velha foi enfática: ou ele limpava o quarto até o fim do dia ou passaria o final de semana inteiro trancado em casa.

Ao menos Eijirou e Kyoka aceitaram sacrificar seus sábados para lhe fazer companhia. Tudo bem que em momento algum eles levantaram as bundas do lugar para ajudar na arrumação, mas Katsuki sabia que seria filha da putagem obrigá-los a fazer mais isso quando eles podiam estar agora mesmo no fliperama ou na loja de discos.

Kyoka saiu para pegar algo na cozinha e Katsuki se permitiu pedir ajuda a Eijirou para afastar o guarda-roupa para ver se tinha caído alguma coisa atrás dele. Havia três camisas e alguns dardos de plástico que ele havia perdido há semanas. Katsuki tirou tudo com a vassoura e eles afastaram o móvel de volta para o lugar. Kyoka retornou com um pote de sucrilhos e uma carranca.

— Aí, Katsu, a tia não pode mais me ver que já me aluga.

Katsuki largou o saco de lixo com um suspiro.

— O que a velha pediu agora?

Kyoka se largou no colchão novamente, dessa vez sem colocar os pés nos lençóis, ao que Katsuki estava grato. Ela havia exagerado no lápis de olho, então parecia ter duas bolsas de insônia sob os olhos. Com um gesto preguiçoso, ela jogou um sucrilho na boca.

— Ela quer que eu te convença a convidar a princesa pra sair amanhã. Passar o domingo no clube ou coisa assim.

— E o quarto?

— Acho que ela não vai se importar de você não terminar de arrumar se fizer o que ela quer.

Katsuki gemeu.

— Puta que o pariu, ela tá mais insuportável a cada dia com essa história. Eu vejo a Ochaco todos os dias na escola, não é o suficiente?

Eijirou, sem tirar os olhos da TV, encolheu os ombros.

— Sabe que pra tia não é, cara.

Katsuki resmungou e continuou separando as roupas sujas das limpas. Não que ele fosse desleixado, ele só não tinha tempo para deixar suas coisas organizadas, pois mal parava em casa. Durante a semana, além da escola, ele tinha seis atividades extracurriculares, cursos de inglês, francês, italiano e espanhol e também as aulas de judô, caratê e esgrima às terças e quintas. Isso sem contar o trabalho de modelo duas vezes na semana e que nunca tinha dia exato. De acordo com o calendário, segunda-feira ele tinha que ir à empresa logo após as aulas para duas sessões de fotos. Ele também era voluntário com Eijirou em um asilo nos finais de semana, mas graças ao bom Deus eles receberam uma folga. Katsuki estava ansioso para passar um dia sem ter que se preocupar com algum curso ou prazo, mas como sempre a velha cortou seu barato quando o mandou aproveitar o sábado livre para limpar o quarto.

— Olha, eu realmente não queria dizer isso — começou Kyoka lentamente —, mas por que você não aceita logo namorar a princesinha e acaba com essa história?

Katsuki a olhou traído.

— Porra, até você?

— Pensa comigo, Katsu. A tia tá no seu pé, na verdade, no nosso pé, desde o ano passado, não tá? Então, raciocina, se você começar a namorar a princesinha, ela finalmente para de encher o seu e, principalmente, o meu saco.

Meninos Malvados | BakudekuOnde histórias criam vida. Descubra agora