Capítulo 5

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CAPÍTULO 5

POV MARÍLIA

Eu estava decidida a tirar aquela história a limpo e acabar de uma vez por todas com aquela agonia, mas quando vi Arthur entrando pela porta da cafeteria, minha coragem se esvaiu. Eu não podia confrontar aquela mulher na frente do filho do seu suposto amante. Apenas tentei deixar tudo aquilo para lá, mas se enganou quem achou que eu conseguiria seguir minha vida com essa história perturbando a minha mente.

Todas as vezes em que eu via o tio Marco tudo vinha à tona outra vez, assim como quando via tia Elaine ou suas filhas menores. Durante a semana seguinte, vez ou outra, via a mulher da cafeteria chegar para trabalhar e ficava a observando, ou então, uma vontade absurda de entrar lá e a confrontar novamente me atingia.

Além disso, me pegava pensando naquela mulher em boa parte do dia, em seu jeito, seus traços e na maneira assustada como ela reagiu diante do meu último enquadro. Ela não parecia ser uma pessoa ruim, não parecia ser a amante destruidora de lares que existia nas novelas, ela tinha um ar inocente e quando preciso atrevido ao mesmo tempo, além de ter olhos castanhos escuros penetrantes que pareciam estar querendo dizer algo. Mas ao mesmo tempo que ela me despertava ternura, me despertava ódio pela possibilidade de ser quem eu pensava que ela era.

Certa vez cheguei a comentar com Luiza todos esses meus pensamentos e ela disse que eu estava obcecada, pela história e por aquela mulher. Besteiras que minha melhor amiga sempre dizia.

-Ou você esquece isso ou descobre de uma vez por todas a verdade. -Luiza disse ao beber mais um gole de sua cerveja.

Estávamos no meu apartamento jantando enquanto, mais uma vez, eu lhe falava sobre aquele assunto.

-Esse é o problema! Eu não sei como descobrir a verdade, pois não quero ser invasiva.

-Mas você já foi invasiva duas vezes. Qual o problema de ser uma terceira?

-Confesso que me senti mal pela maneira como tratei aquela moça, faz sentido?

-Como eu já disse, faz sentido você estar obcecada por ela, ou sei lá… atraída? Nós sabemos bem em qual time você joga, Lila! -riu.

-Cala a boca! -lhe dei um tapa no braço. -Por que eu estaria gostando ou me sentindo atraída pela amante do meu tio? Que besteira!

-Porque pelo que você disse, ela tem a sua idade e é muito bonita.

-É impressionante, ein! Hoje você tá falando tanta besteira quanto o Murilo! -exclamei irritada.

-Uma pena você não estar pronta para ouvir a verdade, né? -deu de ombros e voltou a tomar sua bebida, e eu fiquei ali, pensando no que ela havia dito.



Respirei fundo tomando toda coragem que podia e vestindo minha capa de atriz, e entrei na sala do Tio Marco. Conviver com ele me dava calafrios ultimamente, mas eu precisava fazer aquilo. Iria levá-lo até a cafeteria e ver quais seriam suas reações na frente mulher, o mesmo faria com ela.

-Oi, Lila! Bom dia, minha querida! -ele me cumprimentou com um sorriso doce.

-Bom dia, tio. -disse de maneira breve.

-Você está bem? Parece pálida. -me analisou meticulosamente.

-Eu só não tomei café ainda. -menti, minha palidez era por outro motivo.

-Então por que não vai até a cafeteria tomar e depois nós tratamos desses papéis? Não há pressa.

-Acontece que eu estou muito atarefada hoje, então queria saber se podemos conversar sobre esses papéis lá na cafeteria, enquanto eu como alguma coisa.

-Na cafeteria? -ele pareceu preocupado com a possibilidade.

-Sim, algum problema? -dessa vez, eu o analisei meticulosamente.

-Não, nenhum. -negou rapidamente. -É só que eu não estou acostumado a falar de negócios fora da minha sala. Por que você não pega um lanche lá e come aqui enquanto trabalhamos?

-Tio, por favor. Até eu descer e voltar vai demorar. E como eu disse, estou muito atarefada hoje, além de ter essa fome terrível. -fiz minha melhor carinha de piedade e juntei minhas mãos basicamente implorando.

-Está bem. -deu-se por vencido. -Mas não vamos demorar lá. É só o tempo de você comer, ein.

-Claro.

Meu quase plano estava em andamento.


Era terça-feira e eu sabia que naquele dia a moça estaria sozinha na cafeteria, o que seria melhor ainda, pois ela nos atenderia com toda certeza. Assim que entramos no estabelecimento, ela pareceu se assustar, novamente aquela expressão de preocupação, algo que provocou reações em mim. Talvez eu não devesse estar fazendo aquilo, mas era tarde demais.

Tio Marco a cumprimentou discretamente e se sentou em uma mesa afastada do balcão. Fiz o meu pedido e fui me sentar com Marco.

-Ela é nova aqui, não é? -me referi a sua possível amante.

-Ah, creio que sim… não reparo muito nessas coisas. -mentiroso.

-Parece ter pouca idade. -comentei.

-Quase igual a sua. -respondeu com convicção. -Quer dizer, eu acho. -tentou consertar imediatamente.

Ficamos em silêncio até eu soltar a próxima pérola.

-Ela é bem bonita, não acha? -talvez essa tenha sido mais uma confissão minha do que algo para tentar deixá-lo sem graça.

-Bonita. -assentiu a observando pelo canto dos olhos e sorriu quase de maneira imperceptível, o que me deixou novamente em alerta. -Bem, mas sobre os documentos...

Eu não ouvi basicamente nada do que ele me dizia sobre os negócios, apenas encarava as reações da mulher diante da nossa presença e a observei se aproximar de modo discreto com os pedidos.

-Obrigado. -tio Marco agradeceu.

-Não há de quê.

A última coisa que reparei foi que ela não conseguia encará-lo diretamente nos olhos. E se ela fosse sua amante, mas ele estava a intimidando para não contar a ninguém? Era uma possibilidade. Será que ela tinha um certo medo dele? Engoli em seco por estar provavelmente fazendo ela passar por isso.

Naquela tarde, decidi que isso não era mais assunto meu, deixaria aquela história de lado e seguiria minha vida, não perturbando mais ninguém.



Mais uma semana havia passado desde a última vez que entrei naquela cafeteria e de fato eu havia esquecido o tal assunto, não sei se por força de vontade ou por que minha vida profissional andava um caos.

Eu me sentia esgotada de tantas reuniões e situações complicadas para resolver. Minha mente não desligava um minuto sequer daquela maldita empresa e isso vinha afetando meu sono e minha vida pessoal. Além disso, me sentia muito sozinha, como se faltasse algo que me completasse.

E por conta de tudo isso, minha ansiedade andava atacando quase todos os dias. Eu comia sem parar e me sentia desanimada, pronta para chorar e desabar a qualquer instante.

Estacionei meu carro na vaga de costume e em completo desânimo caminhei até a porta da empresa, mas quando estava quase lá, parei e virei meu corpo na direção oposta. Caminhei até uma área verde, uma espécie de jardim perto da entrada e me sentei em um banco de madeira. Respirei fundo algumas vezes enquanto observava o céu e, sem que pudesse me controlar, algumas lágrimas caíram sem aviso dos meus olhos, funguei algumas vezes e limpei o rosto.

De longe avistei a moça da cafeteria chegando para mais um dia de trabalho. Ela estava diferente sem aquele uniforme de sempre, usava uma calça jeans que se moldava graciosamente em suas pernas e um cropped branco que deixava sua barriga chapada à mostra. Seus cabelos escuros e brilhosos não estavam presos naquele rabo de cavalo costumeiro do dia a dia, estavam soltos e se deixavam levar pela leve brisa da manhã.

Assim que ela me viu fez sua costumeira expressão tensa e começou a andar mais depressa. Porém, em um solavanco, parou e pude notar seu corpo relaxar, ela se virou e começou a caminhar em passos lentos até mim. Prendi a respiração e esperei que ela se aproximasse mais e mais. Minha afobação diante da cena fez aqueles poucos segundos em que ela caminhava até mim parecerem intermináveis minutos.

Macarons - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora