Capítulo 46

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CAPÍTULO 46

POV MARAISA

Apesar de não me sentir muito bem, fui trabalhar no dia seguinte. Eu já havia faltado demais no serviço por conta de todas as vezes em que passei mal e isso não era nada bom. Confesso que meu ânimo pra fazer qualquer coisa era igual a zero e eu também não queria ver o Henrique, mas infelizmente não existia escolha.

Cheguei pontualmente às oito horas e já comecei a organizar algumas coisas, afinal, tinha muito serviço acumulado.

Cerca de alguns minutos depois, Henrique apareceu, me deixando extremamente desconfortável apenas com a sua presença. Eu não o via desde o nosso fatídico momento no hospital.

-Oi. -murmurou após um tempo me observando.

Não respondi.

-Não vai falar comigo, né?

Ainda sem resposta.

-Eu peguei pesado com você, confesso. Mas não precisava ter pedido pra sua namoradinha ir atrás de mim.

-Eu não pedi.

-Ah, mas então...

-Já fiz sua rota de entrega. -o interrompi, indo direto ao único assunto que importava naquele momento. -Suas encomendas estão no nicho oito.

-Maraisa, sei que temos as nossas diferenças, mas trabalhamos juntos, temos uma filha juntos e vai ser impossível tudo isso se você ficar nessa má vontade comigo.

Juro que não pretendia conversar com ele, mas aquela conversinha fiada de má vontade não me deixou ficar calada.

-Má vontade com você? Você foi a pessoa mais escrota do mundo comigo e não tô dizendo só de agora. Na minha primeira gravidez me tratou como um lixo, me deixou a Deus dará e depois fez o mesmo com a Laura. Há dias atrás, você inventou um monte de merda pra sua nova namorada, me fez pagar de louca possessiva, como se eu ainda caísse de amores por você. E não contente, num dos piores momentos da minha vida, quando eu perdi o meu filho, você pisou ainda mais em mim, fez eu me sentir a pior pessoa do mundo. E agora está aqui, me dizendo que eu estou de má vontade com você? Ah, Henrique, me poupe!

-Eu também perdi o meu filho, Maraisa! Eu estava nervoso e passei do ponto, eu sei, mas...

-Mas nada! -o interrompi novamente. -Eu não quero falar com você, não quero olhar pra sua cara! Eu só estou aqui porque preciso desse emprego, mas saiba que só de estar no mesmo ambiente que você me sinto extremamente mal. Você me desperta os piores e mais angustiantes sentimentos, sua presença me deprime, me sufoca. Eu nunca vou esquecer tudo que você me disse, nunca! Eu tenho nojo, eu tenho raiva de você! Aliás, tenho raiva de mim mesma de um dia ter gostado tanto de você! -deixei sair tudo que estava guardado aqui dentro.

Henrique fez menção de dizer alguma coisa, mas desistiu após suspirar pesadamente. Minhas palavras haviam o atingido em cheio e eu estava satisfeita por isso, minha vontade era machucá-lo tanto quanto ele havia me machucado.

Após sua desistência e diante de sua ausência, senti como se o pouco de energia que me restava tivesse sido sugada. Me sentei trêmula e com o coração tão acelerado que pensei que fosse desmaiar. Tomei um copo de água e fiquei bons minutos tentando me recuperar. Meu corpo se recuperou, mas a minha mente não, pois vez ou outra o que Henrique havia me dito no hospital voltava: "A culpa é sua, Maraisa."

Infelizmente era inevitável fugir do Henrique naquela empresa, pois seu trabalho dependia do meu e ele voltava de tempos em tempos para pegar suas encomendas e sua nova rota de entrega, e a cada vez que ele aparecia, eu me sentia pior. Cheguei a pensar em pedir demissão só para não ficar no mesmo ambiente que aquele homem, mas eu precisava daquele emprego, eu não podia ser tão irresponsável assim.

Macarons - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora