Capítulo 17

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BRUNA

Passava da meia-noite quando a porta do quarto se abriu. Como Raphael não tinha voltado depois de algumas horas, eu tinha assumido que ele não iria para o meu quarto esta noite. E eu estava bem com isso. Após a maneira como ele reagiu, eu não tinha vontade de estar perto dele. Obviamente, os dois homens tinham um passado. Mas ele não era o único que sofreria as consequências de hoje.

A maneira como ele se comportou validava a opinião do Sr. Porra de que as mulheres não pertenciam ao vestiário. Sem mencionar que eu realmente não preciso de mais atenção na minha vida pessoal. Meu trabalho era relatar histórias, não ser a história. No entanto, enquanto eu revirava na cama, incapaz de adormecer, me perguntei se ele estava bem. O quarto estava escuro como breu, já que eu fingia dormir. A manhã provavelmente traria mais clareza. Não era muito bom ficar chateada à meia-noite.

Raphael não acendeu as luzes. Ele caminhou para o lado da cama e eu o ouvi abrir a calça e jogá-la na cadeira do canto. Ele não acendeu a luz no banheiro até que a porta estivesse fechada. Poucos minutos depois, a cama
afundou, e ele deslizou para o meu lado. Meus olhos estavam fechados, mas eu podia senti-lo olhando para mim.

— O nome dela era Yasmin... — Sua voz era quase um sussurro, e havia uma tristeza nela que me fez esquecer que eu estava chateada com ele em um instante.

Embora o quarto estivesse praticamente escuro, eu podia ver seus olhos. Eles estavam preenchidos por uma angústia que causou uma dor física no meu peito. Eu coloquei a mão em seu rosto, e ele fechou os olhos por alguns momentos. Quando os reabriu, continuou:

— Eu tinha treze anos quando ela foi morar no prédio ao lado do meu. Ela e sua mãe se mudaram para o apartamento da avó. Ela era linda. E selvagem. Eu não era um santo, pode apostar, mas Yasmin ... ela tinha uma
fúria dentro de si. — Ele parou por um tempo. Eu queria dizer algo, mas não conseguia encontrar as palavras certas. Era óbvio que aonde quer que esta
história levasse, não ia acabar bem. Então esperei até que ele estivesse pronto. — Sua mãe era viciada em drogas. Ela não ficava por perto muito tempo, desaparecia por meses, e, quando reaparecia, era só por tempo suficiente para roubar sua mãe e ferrar com a Yasmin de novo.

— Eu sinto muito.

— Fazíamos coisas normais de adolescente selvagens, como pular na piscina comunitária, pegar o trem para pular no rio Harlem na cidade vizinha, ou roubar uma garrafa de licor do armário da sua avó e entrar no metrô com ela escondida em um saco de papel marrom. Merda de adolescentes. Mas Yasmin  estava sempre querendo mais. Parecia piorar cada vez que sua mãe aparecia. Vivíamos em prédios de apartamentos um ao lado do outro na minha cidade. Estavam próximos, mas não conectados. Havia talvez três metros e meio entre os nossos telhados. Quando sua mãe aparecia, Yasmin vinha para o meu apartamento, saltando de telhado em
telhado. Ela ficava em cima saltando, não pensando duas vezes sobre a queda
de dez metros abaixo dela. Ela foi de selvagem para perigosa. — Havia uma sensação de vazio na boca do meu estômago ao ouvi-lo falar sobre Yasmin. Por muitas razões. Eu conheci Drew na mesma idade que ele tinha conhecido Yasmim. Eu sabia como minha história terminou, e agora eu sabia que a sua
não ia ser bonita também. — Eu poderia passar horas falando das merdas que passamos juntos ao longo dos anos, mas prefiro avançar e lhe dar a versão
resumida para que você possa entender por que eu perdi a cabeça hoje.

— Ok.

— Quando estávamos nos formando no ensino médio, Yasmin  seguiu os passos da mãe: descobriu as drogas e rapidamente passou de experimentar para usar altas doses diariamente. — Raphael soltou uma risada sem humor. —Você devia ver os olhares que você ganha quando anda às duas horas da manhã de metrô com alguém de dezoito anos que você tirou de uma casa de crack e uma mulher de setenta anos de idade, em um roupão e bobs no cabelo. Havia noites em que eu tinha que jogar Yasmin  em cima do meu ombro porque ela não podia andar, e a pobre Marlene andava bem perto de mim. — Raphael  fez outra pausa, e suas próximas palavras me bateram duramente. — Eu a odiava pra caramba, mas não podia parar de amá-la. —Eu cruzei meus dedos com os dele e os apertei. — Fui recrutado por algumas das melhores faculdades do país, mas queria ficar por perto. No último ano,fiquei entre a Syracuse e a Universidade da Geórgia. Meu pai estava me empurrando para que eu fosse um Bulldog e todos nós sabíamos o porquê,
embora não falássemos sobre isso. Quando Yasmin desapareceu por seis semanas antes que eu tivesse que me comprometer com uma faculdade, eu estava tão chateado com ela que aceitei a Geórgia. Depois que fui embora,
continuei em contato com Marlene, que me mantinha informado sobre Yasmim, mas eu comecei a seguir em frente.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora