Capítulo 08

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BRUNA

— Que diabos você está vestindo? — Isabela chegou assim que voltei do banheiro feminino para o meu escritório na quarta-feira à noite.

— Uma roupa nova. Para o meu encontro hoje à noite.

— Você está vestida como uma avó de sessenta anos prestes a ir à igreja.

Eu realmente estava, e eram roupas que eu tive que comprar apenas para a ocasião. A loja Goodwill, na rua Setenta e Dois, foi perfeita. Consegui uma
sacola cheia de produtos de avó por menos de cinquenta reais. Eu olhei meu reflexo na janela de vidro: um blazer grande de veludo azul-marinho; calça azul de poliéster e elástico da cintura (muito, muito confortável); blusa de crochê e botão, abotoada até o topo, claro; um colar de pérolas falsas; cabelo puxado para trás em um coque apertado; mocassins desgastados (ok, isso poderia ser meu).

Eu peguei em meu bolso um sem graça batom cor de malva,propositadamente passando-o na frente de alguns dentes.

— Você não gosta da minha roupa?

— Sério? Você está parecendo uma louca.

Alisei minha jaqueta e peguei a bolsa marrom gigante estilo lady nada elegante.

— O quê? Você não acha que pareço sexy?

— Você está usando uma calçola aí embaixo?

Eu desliguei o interruptor de luz no meu escritório.

— E um sutiã de amamentação. — Na verdade, eu tinha um fio dental e um sutiã meia-taça, mas o olhar horrorizado no rosto de Isabela compensou a pequena mentira.

Ela me seguiu para fora do meu escritório. Felizmente, o prédio já estava quase vazio, ou eu poderia ter recebido alguns olhares estranhos. Eu
realmente parecia um pouco louca.

— Você tinha essa porcaria no guarda-roupa? — perguntou Isabela.

— Não. Eu comprei para o meu encontro.

— Você comprou esse traje?

— Claro que sim.

— Eu acho que você tem estado sob muito estresse ultimamente. — Ela me beijou na bochecha antes de saltar no elevador para voltar ao seu escritório. — Café da manhã em seu escritório às oito. Eu mal posso esperar
para ouvir tudo sobre este encontro.

Dez minutos depois, passei pela porta de vidro giratória da WMBC e vi um carro de luxo estacionado em fila dupla diretamente no meio-fio. Raphael  saiu e caminhou ao redor do carro para abrir a porta do passageiro. Quando
seus olhos me fitaram de cima a baixo, suas sobrancelhas se juntaram. Então, ele piscou várias vezes.

— Oi.

Eu lhe dei um sorriso bobo de orelha a orelha.

— Oi. Aonde estamos indo?

— Hum… ao… um… ao restaurante do Regency.

Eu tentei me conter para não gargalhar. Ele não tinha ideia se a minha roupa era séria ou uma brincadeira, embora ele tenha ganhado um ponto por
ser educado o suficiente para não dizer nada. Eu não pude resistir a provocá-lo um pouco mais depois que entramos no carro.

— Você está bonito. — Ele estava vestindo um suéter de cashmere
Preto que lhe caía muito bem e marcava seus ombros largos, mas não muito apertado, e calças pretas simples. Ele olhou para mim e de volta para a estrada.

— Obrigado. — Eu não tinha certeza se gostava dele mais ou menos por não ter mentido e elogiado minha roupa.

— Você está diferente com o cabelo para cima. Eu gosto.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora