Capítulo 34

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                      YASMIN

A vida é cheia de uma série de amarras, fios imaginários que nos conectam com as pessoas a partir do momento em que somos cortados do cordão umbilical da nossa mãe. Eu passei os primeiros vinte e cinco anos da minha vida tentando cortar os fios e voar alto, fora de alcance. Até onze meses atrás, quando acordei uma manhã e percebi que essas amarras não eram correntes que estavam me mantendo no chão. Eram linhas da vida, e as minhas linhas estavam tão desgastadas que não havia mais praticamente nenhuma conectada a mim.

Ontem à noite — ou talvez tenha sido hoje, eu não tinha certeza, uma vez que um dia havia obscurecido o próximo —, a mais forte linha que já existiu na minha vida foi cortada. Raphael  cuidou de todos os preparativos. Hoje à noite, nós teríamos um pequeno funeral na Igreja da minha avó. Amanhã
iríamos ao cemitério e a sepultaríamos. E depois… Eu não sabia o que viria depois disso. Eu só sabia que não queria perder Raphael  novamente.

Vesti um vestido preto simples. Era um vestido de verão e o ar do final da tarde estava frio, mas um suéter ia ter que ser suficiente, já que eu não tinha dinheiro para fazer compras. Raphael  bateu na minha porta pontualmente. Eu disse que iria encontrá-lo lá embaixo, porque o estacionamento era difícil de encontrar. Mas, na realidade, eu não queria que ele visse onde eu estava morando.

— Você não precisava subir.

Eu ainda não tinha calçado os sapatos, então ele estava muito mais alto do que eu. Eu o vi olhar sobre a minha cabeça e observar o apartamento. Eu sabia o que ele estava fazendo, e eu certamente não poderia culpá-lo. Eu abri a porta e dei um passo para o lado.

— Sem drogas. Estou limpa.

— Eu não estava… — Arqueei minha sobrancelha, como se dissesse “sim, você estava”, e ele confessou com um sorriso. — Tudo bem, talvez eu estivesse.

Ele entrou.

— Deixe-me mostrar o lugar. — Eu rodopiei em círculo com os braços estendidos. Era possível visitar todo o meu apartamento, exceto o banheiro, em um giro. — Fim do tour. Então, gostou?

— Eu gosto. É… quente.

— Não é verdade. É melhor ficar com o seu casaco.

— Isso é seu, certo?

— Você é realmente bom em encontrar coisas boas para o coração, não é? —provoquei.

— Sou.

— Dê-me um minuto, eu estou procurando meus saltos pretos.

Meu apartamento era pequeno, mas o teto era alto, típico de Manhattan.

Havia pouco espaço na superfície, então eles empilhavam tudo em apartamentos. Uma das paredes tinha um armário embutido com cerca de dois metros. Eu pulei em cima do pequeno sofá de dois lugares que servia como mobiliário em minha sala e fiquei na parte de trás, equilibrando-me enquanto abria diferentes compartimentos.

— O que você está fazendo? Você vai cair. — Raphael  se aproximou e estendeu a mão para a minha cintura, me firmando enquanto eu procurava em todos os armários.

Ele se moveu comigo, tendo a certeza de que eu não iria cair enquanto andava no comprimento alto do sofá,inspecionando e fechando portas diferentes. Quando cheguei à última, encontrei os sapatos no canto superior e tive que ficar na ponta dos pés para alcançá-los.

— Peguei. — Eu acenei os sapatos no ar como se tivesse acabado de ganhar um prêmio.

Raphael  me baixou de volta para o chão, como se estivesse levantando uma caixa de leite vazio. Quando afastou as mãos, eu desejei que elas voltassem. Nossa, eu sinto falta do seu toque. Virando para encará-lo, era fácil querer de volta um lugar confortável. Passei minha mão em torno de seu bíceps e apertei.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora