Capítulo 24

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                     YASMIN

— Essa cara bonita nunca deve ter um sorriso triste. — Minha avó estava perdendo a memória, vivia em um lar de idosos, e tinha uma ex-viciada como um de seus únicos parentes vivos, e ainda assim tentava me animar. Forcei um sorriso.

— Desculpe.

— Você e Raphael  tiveram uma briga?

Raphael, aparentemente, não tinha contado à vovó sobre os últimos anos. Eu não tinha certeza por que ou o que isso significava, mas entrei em sua história.

— Não. Nós estamos bem. — Eu peguei a mão da vovó e apertei.

— Bom. Esse menino é alguém que não se deve perder. Eles não fazem muitos iguais a ele. Lembra-me do meu Carl em alguns aspectos.

— Sério? — Foi a primeira vez que vovó tinha falado do vovô. Eu não tinha ideia se ela se lembrava que ele tinha morrido ou não. Sua memória era muito aleatória e seletiva.

— Sim. Esse menino é leal. Ele se apaixonou loucamente por você e nunca desistiu. Do mesmo jeito que meu Carl fez por mim.

Ela estava certa sobre uma coisa: Raphael  era leal. Provavelmente a pessoa mais leal que eu já me deparei em toda a minha vida. Mas mesmo a pessoa mais leal tem seu ponto de ruptura. Vê-lo na rua hoje me lembrou disso. Eu não esperava que ele fosse esperar por mim todos esses anos. Não depois de
tudo que eu tinha feito com ele. Mas o que vi hoje foi difícil de qualquer maneira. Ele parecia feliz, segurando a mão de uma mulher em público. Eu deveria estar feliz por ele. Mas o que eu devia fazer e o que realmente fazia nunca eram o mesmo.

Passei duas horas com vovó. Ela gostava de companhia e, honestamente, eu adorava estar perto dela. Ela era a minha raiz, me fazia sentir ligada a terra quando eu, de outra forma, estaria ficando fora de controle. Depois que o seu programa terminou, parei no banheiro feminino do corredor, sabendo que teria que ir direto para o trabalho ou corria o risco de me atrasar. Eu puxei meu cabelo para trás em um rabo de cavalo e passei um pouco de rímel e gloss. Quando voltei para o quarto da vovó para me despedir, um homem estava sentado na cadeira ao lado dela. Ele parecia familiar, mas eu não conseguia me lembrar de onde.

— Olá.

O homem se levantou e acenou com a cabeça.

— Eu só estava fazendo minha visita diária a Marlene. Eu não sabia que ela tinha companhia.

Meu casaco estava caído sobre a outra cadeira, então o peguei e comecei a vesti-lo.

— Fique. Por favor. Eu estava prestes a sair. Preciso ir para o trabalho de qualquer maneira. — Eu sorri. — Sou Yasmin, a neta de Marlene.

— Eu não sabia que Marlene tinha uma neta. É bom conhecer você, Yasmim. Sou João. Sua avó gosta de acabar comigo no jogo de dama algumas vezes por semana.

— Ah. Sim, ela é ótima nisso. Ela parece inocente, mas é uma vigarista disfarçada.

João olhou para Marlene e balançou a cabeça.

— Você parece o Raphael falando.

— Você conhece Raphael?

— Claro. Ele vem aqui todas as semanas como um relógio. Bom homem. Apenas não o deixe saber que eu disse isso. — Ele piscou.

— Ele sempre traz sua namorada?

— Namorada? Ah, você quer dizer a repórter. Não. Ele vem sozinho. Terças-feiras. Normalmente, por volta das dez horas.

Fui até vovó e lhe dei um abraço. Seus ombros estavam muito mais finos do que eu me lembrava. Minha avó, que era maior que a vida, agora parecia pequena, quase frágil.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora