Capítulo 27

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                      YASMIN

Domingo à tarde eu tinha acabado de desligar o jogo quando houve uma batida na minha porta, que foi tão leve que eu não tinha certeza se tinha acontecido até que outra veio.

— Quem é?

— Sou eu, Abby Little, do outro lado do corredor.

Enquanto eu destrancava o duplo conjunto de trancas, me pareceu tão engraçado que ela se sentiu compelida a usar seu último nome. Como se “Abby do outro lado do corredor” não fosse suficiente para identificá-la. Ou mesmo apenas “Abby”.

— Oi.

— Posso entrar?

Olhei diretamente para a porta fechada do apartamento atrás dela.

— Claro. Sua mãe sabe que você está aqui?

— Ela tem companhia. Ela me disse para vir e ver se você estava em casa.

Isso não era bom.

— É uma das suas tias ou tios de novo? — Eu nem sabia se ela tinha algum.

— Não. É o cara cansado.

— Que cara cansado?

— A pessoa que deixa a mamãe cansada.

O final do efeito das drogas fazia isso com você. Meu apartamento era muito vazio. Além da TV, não havia muito para uma criança de cinco anos fazer. Honestamente, eu não tinha certeza do que uma criança de cinco anos de idade fazia.

— Você tem dever de casa?

— Não.

Eu não tinha uma mesa na cozinha, apenas um único banco solitário que tinha a altura do balcão. Eu levantei Abby e a sentei sobre ele.

— Quer um lanche?

Ela lambeu os lábios e assentiu. Deus, essa garota era tão fácil de agradar. Eu achava que nós apreciávamos as coisas simples da vida quando éramos privados do básico. Tendo uma viciada como mãe, aquelas coisas básicas muitas vezes incluíam alimentação, cuidados médicos e atenção de qualquer tipo. Puxei uma caixa de cereal de amendoim do armário e mostrei para Abby.

— Pode ser cereal?

Ela assentiu rápido e me deu um grande sorriso. Toda vez que minha mãe me abandonava na casa da vovó, ela sempre cozinhava um banquete. Até aquele momento, eu não tinha pensado em nada disso. Acho que pensava que ela era minha avó e avós cozinham. Mas ver Abby me fez perceber, pela primeira vez, que Marlene provavelmente sabia que eu estava com fome também.

Havia tanto sobre a minha avó que eu tinha como certo... Após a barriga de Abby estar cheia, lavei a tigela e considerei a situação. O que Marlene faria? Ela teria me perguntado o que eu queria fazer.

— O que você quer fazer esta tarde, Abby?

— Podemos ir ao parque?

— Certo, mas é melhor irmos dizer à sua mãe e pegar seu casaco em primeiro lugar.

O cheiro familiar de plástico queimado me atingiu quando eu abri a porta do apartamento.

— Lena?

Ela não respondeu, mas o cheiro do crack me disse o que ela estava fazendo.

— Fique aqui um minuto, tudo bem, Abby?

Deixei Abby na cozinha e fui até o quarto.

— Lena? — chamei novamente. Nada.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora