Capítulo 01

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 BRUNA      

Meu chefe era um perfeito babaca.

As reuniões de segunda à tarde consistiam em três horas de Charles Ulysses Macy Terceiro contando para a maioria dos homens da divisão de
programas esportivos sobre sua última conquista.

Olhei fixamente pela janela enquanto ele continuava querendo saber se qualquer um de seus ancestrais do sexo masculino tinha suas almofadas
monogramadas com suas iniciais. Imagine o quanto de respeito algumas almofadas vermelhas brilhantes adicionariam à sala de visitas ao ostentarem as iniciais que os homens Macy julgaram aptas a passar através de sua
linhagem: CUM. Deve ser muito bacana quando suas inicias querem dizer sêmen, gozo, porra ou qualquer coisa nesse sentido, não é mesmo?

Eu ri baixinho e me levantei.

— Srta. Bruna? — o Sr. CUM gritou da ponta da mesa de reuniões,que tinha capacidade para vinte cadeiras e três fileiras de profundidade.

Sessenta pares de olhos se viraram para olhar em minha direção.

— Sim, Sr. Macy?

— Você tem algo a dizer?

— Não. Eu esperava escapar desapercebidamente. -Há um jogo hoje à noite e preciso checar o guarda-roupa.

— Bem, corra, então, não deixe que uma coisa pequena como uma reunião da equipe a impeça de brincar de se vestir.

Babaca.

Houve algumas risadinhas enquanto eu me dirigia para a porta, mas realmente não me importei. A maioria deles estava apenas com inveja. Hoje à
noite, eu cobriria o jogo do Palmeiras  contra o Corinthians  ao vivo, enquanto eles assistiriam ao jogo na TV com uma cerveja em uma mão e a
outra enfiada na cueca suada.

Mais de trinta jornalistas foram entrevistados para a minha nova posição como narradora na transmissão da equipe de futebol, mas era eu quem ia
conversar com os jogadores esta noite no pós-jogo — não eles. Isso não me fez muito popular no grupinho. Mesmo que eu tenha trabalhado oitenta horas
por semana nos últimos anos para chegar onde estou, os homens que trabalhavam trinta foram os primeiros a dizer que eu tinha conseguido isso
usando minha vagina mágica.

Danem-se eles.

Em vez de ir direto para o guarda-roupa, fiz um desvio para o meu escritório. Isabela não perdeu tempo e me acompanhou. Ela veio correndo e se empoleirou no braço de uma cadeira de visitas, os pés descalços sobre o assento.

— Pensei que você poderia precisar disso. — Seus olhos miraram uma barra de sabonete Irish Spring no meio da minha mesa desarrumada.

— Eu estou fedendo?

— É para o vestiário no pós-jogo. Já faz algum tempo para você. Achei que podia usar a tática de deixar o sabonete cair, sabe?

— Você é pior do que o Sr. Porra. — Refiro-me ao meu chefe e guardo os arquivos de pesquisa na minha maleta de couro, enquanto conversamos.
Eu sabia cada estatística de cor, mas planejava ver tudo de novo no trem mesmo assim.

— Sem sabonete para mim. Eu tenho mais um mês na minha limpeza.

— Limpeza é para cólons, não vaginas.

— Faz apenas cinco meses, mas tem sido bom para a alma.

Isabela riu.

— E para a Duracell.

— Você deveria tentar. Seis meses sem encontros é uma bela
desintoxicação.

— Eu vou ficar com o suco verde, obrigada. — Isabela abriu a bolsa e tirou um frasco de esmalte pink. Ela começou a pintar as unhas dos pés, que já eram rosa-choque, bem ali no meu escritório.

— O que você está fazendo?

Ela parou e olhou para mim como se eu fosse idiota.

— Pintando meus dedos do pé. Eu coloquei uma primeira demão hoje de manhã, mas esta cor realmente precisa de uma segunda camada. Uma camada
de esmalte, uma ova.

— Você tem que pintar as unhas no meu escritório?

— O meu escritório vai ficar fedendo.

— Mas não há problema de feder o meu?

— Você está sempre cheirando merdas assim. Livros, comida... Não ache que eu não te vi cheirar a nova bola de tênis que você tirou da caixa quando jogamos há algumas semanas.

— É diferente. Eu escolhi cheirar aquelas coisas. — Não era o momento de admitir que dois dias atrás eu tinha feito um pedido de esmalte de unha da
L’Oréal. Por que ninguém inventou antes o esmalte de unha perfumado?

— Você está saindo, de qualquer maneira. — Ela encolheu os ombros.— Você tem que ir à entrevista com homens suados e seminus. Eu deveria ter feito jornalismo ao invés de marketing.

— Mas você é tão boa em vender para as pessoas um monte de
porcarias...

— Você está certa. Eu sou. — Ela suspirou. — Ei... Veiga estará de volta hoje.

— Eu sei. Duas semanas mais cedo do que se pensava inicialmente.

— Você sabia que seu apelido é Subway?

Eu a olhei.

— Ninguém o chama de Subway na imprensa.

— Ahh. Não é o apelido da imprensa.

Eu era cética, mas mordi a isca dela mesmo assim.

— Quem o chama de Subway, então?

— Mulheres. — Isabela  balançou as sobrancelhas. Seu batom vermelho brilhante era um tom mais claro do que seu cabelo cor de fogo. O look funcionava perfeitamente para ela, embora fosse difícil se concentrar em
qualquer coisa além de seus lábios coloridos em contraste com sua pele pálida.

— Porque ele é originalmente do Brooklyn e pegava o metrô para visitar as mulheres?

— Não. Mas este não é um palpite ruim.

— Então me diga. — Pendurei minha bolsa de couro no ombro. — Eu preciso descer ao guarda-roupa e começar a me arrumar.

— É muito mais divertido fazer você adivinhar.

Saio do meu escritório, e Isabel  me segue para o elevador, apoiando o peso nos calcanhares para evitar borrar as unhas.

— Porque ele pode montar o dia todo?

— Não. Mas eu aposto que ele pode. Você viu a última dança celebrando o campeonato Paulista que ele fez? O homem pode girar o quadril estreito como um stripper profissional.

O elevador apitou, e ela me seguiu. Eu apertei o botão do segundo andar para o guarda-roupa.

— Porque ele arruma as mulheres como algo diário?

— Essa foi horrível.

— A menos que você vá ajudar a me vestir e me seguir para o estádio,acho que o nosso jogo acabou de qualquer forma.

O elevador parou três andares abaixo. Isabela  segurou as portas abertas,gritando comigo enquanto eu caminhava pelo longo corredor em direção ao
guarda-roupa.

— Não é Subway por causa do metrô, é por causa das lojas de sanduíche.Você sabe... onde você pode conseguir um delicioso herói de...trinta centímetros.

Eu balancei a cabeça, gritando de volta sem me virar.

— Adeus, Isabela.

— Use vermelho, é a sua melhor cor. E um cinto largo. Algo que mostre essa sua cinturinha e bunda redonda. Tenho certeza de que o camisa  23 do time paulista  vai gostar do esforço extra!

—Ahh

Continua...

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora