Capítulo 22

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                      Yasmin

— Você sabia que não ia ser fácil.

Puxei o último lenço de papel da caixa que a Dra. Kaplan mantinha na mesa de centro de vidro entre nós.

— Desculpe.

— Eu tenho mais. Não se preocupe com isso.
— Ela me deu o mesmo sorriso encorajador do qual eu tinha me tornado dependente ao longo do último ano. — Respire. Se acalme. E então me fale sobre o dia. Comece com a sua avó. Ela te reconheceu?

Eu sequei meus olhos e enrolei o lenço na palma da mão.

— Reconheceu. Eu estava muito nervosa com medo de que ela não me reconhecesse. Minhas pernas estavam tremendo quando entrei.

— Compreensível. Já faz um bom tempo.

— Ela me conheceu. Ela sabia quem eu era. Mas não parecia saber quanto tempo tinha passado. Era como se ela apenas pegasse uma página da nossa história, e tudo continuasse a partir dali.

Dra. Kaplan concordou.

— Estágio cinco, provavelmente. Declínio cognitivo moderado. Fico feliz que tenha progredido um pouco, nós falamos sobre como alguns casos podem evoluir duas vezes mais rápido do que outros.

— Eu sei. É egoísmo da minha parte, mas fiquei feliz por ela ainda me reconhecer.

— Não é egoísta. Pessoas egoístas tendem a ser boas apenas para si mesmas. Acho que podemos ambas concordar que esse não é o caso. É provável que o que você esteja sentindo seja arrependimento.

— Eu acho que sim.

— O que acontece com o arrependimento é que só é possível se arrepender do passado. Então, para você, isso é saudável. Lamente o passado. Use-o. Faça um novo futuro. Visite-a frequentemente. Quanto mais o pesar for mandado para o passado, mais fácil será.

— Eu vou fazer isso. Eu a visitei todos os dias desta semana.

— Isso é bom. E sobre o outro arrependimento com o qual você precisar
lidar?

— Raphael ?

— Sim.

Nós tínhamos passado a maior parte do último ano falando sobre esse homem. A que outra coisa ela estaria se referindo?

— Eu o vi. As coisas não correram muito bem. — Ela assentiu e esperou que eu continuasse. — Ele me odeia. Não posso culpá-lo. Ele achava que eu estava de volta porque precisava de alguma coisa.

— A história de vocês é mais complicada. Você vai ter que reconquistar sua confiança.

— Eu não tenho tanta certeza de que ele vá me dar essa chance.

— Só há uma maneira de descobrir. Talvez, quando ele vir que você está realmente limpa desta vez, que você tem um trabalho, e está pensando em ficar na vida de Marlene, ele vá entender.

Eu respirei fundo e expirei audivelmente.

— Eu sei. Isso não vai acontecer da noite para o dia. Ele nem consegue acreditar que estou limpa, como posso esperar que acredite que eu dormi e acordei pensando nele todos os dias durante os últimos quatro anos?

Continua...

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Onde histórias criam vida. Descubra agora