Talvez ele estivesse esperando que falasse alguma coisa — seus olhos estavam fixos nos meus, enquanto eu por outro lado apenas olhava a parede rosa pastel do meu quarto. Eu não queria falar sobre aquilo, muito menos contar sobre o que me aconteceu.
Meus pais estavam na porta do quarto, preocupados com meu estado mental, eles já haviam chamado um médico, porém me recusei a vê-lo. As marcas de ferimentos ainda estavam lá, assim como os calos, devido ao tempo, reclusa com o senhor Raposa.
Por falar nele, precisava vê-lo, estava preocupada; eu simplesmente fui arrastada de volta para casa e não pude lhe devolver as armas — ele arrancaria meu couro. Naquele momento senti que deveria tê-lo ouvido e não prosseguido com a vingança, pois lá estava eu, em casa, colocando a vida da minha família em risco por ter feito o que fiz.
Quando fui levada de volta, eles me abraçaram fortemente, chorando desesperados, pois havia perdido dois filhos, não queria me perder também. A recepção de tal ato não podia ser mais fria, pois algo dentro de mim havia mudado completamente, sobrando uma casca vazia, que sequer ficou emocionada por ver aqueles que me amavam mais do que tudo.
No fim das contas meus pais acabaram por chamar o padre Kim, que havia me levado de volta, porém não disse uma única palavra no percurso. Ele tinha um olhar compassivo, não disse nada quando chegou, apenas um "olá Camila?!".
Existia aquela sensação de segurança quando me afundei no peito do padre Kim — talvez fosse por ter chamado seus nomes diversas vezes em meu momento de desespero, acreditando que a morte estava cada vez mais próxima. Ainda podia sentir seus braços me amparando quando o mundo parecia ter desabado ao matar tantas pessoas.
— Seus pais estão bastante preocupados, Mila — quebrou o silêncio de minutos que eu estava apreciando. — Onde esteve todo esse tempo e onde conseguiu aquelas armas? — ergui os olhos na direção dos meus pais e depois virei para encarar o padre. — Hum!? — pisquei lentamente, mas nada disse, voltando a encarar a parede.
— Por favor, Mila, minha filhinha!! — minha mãe suplicou com a voz embargada.
Já havia passado alguns dias que eu mantinha voto de silêncio, realmente não queria falar sobre aquilo, era como reviver toda a cena e dentro de mim só crescia ódio por PitBull.
— Vocês podem me deixar a sós com ela um pouco? — o padre disse e franzi o cenho, então meus pais saíram do quarto, me deixando com o padre sozinha. — Agora podemos conversar sem segredos, certo? — voltei a encará-lo e sua expressão era séria. — Não vou perguntar o que fizeram com você, é bem nítido, apesar de achar que deva ter uma conversa com um médico, mas isso cabe somente a você — disse, tendo toda minha atenção. — Tem um velho que vive além das fronteiras da cidade e foi pra lá que foi? — não respondi, mas ele já sabia da resposta. — Imaginei que estivesse lá, o velho Raposa é bem capaz disso, acolher uma garota machucada — concluiu. — Só me diga uma coisa... aqueles caras foram mandados pelo PitBull, não foram?
É claro que ele também sabia disso, pois quem mais seria capaz de tal monstruosidade? Me sentia patética com aquilo, como se estivesse mostrando fraqueza, me abrindo e não queria mais ser como era antes.
A vida toda fui a doce e gentil Mila, sempre tentando ver o melhor das pessoas, tentando viver aquela vida miserável naquela cidade miserável, esperando que as coisas voltassem ao normal. Eu perdi tudo, Alê, Bruno, minha inocência e toda dignidade de uma jovem moça. Não importava quantas vezes me lavasse, ainda me senti suja pelo o que fizeram comigo e com o sangue deles em minhas mãos, a sujeira seria eterna.
Logo o padre aproximou-se de mim, sentando ao meu lado na casa, próximo o suficiente para que pudesse sentir sua fragrância masculina, tão sedutora, que fez meus sentidos se agitarem. Padre Kim Jongin era sedutor e sabia disso e não era para menos, ele agia como se tudo estivesse sob seu controle. Talvez eu mesma estivesse sob seu controle, enfeitiçada por aquele olhar hipnotizante e madeixas platinadas.
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Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)
RomanceSejam bem vindos à cidade do pecado. Um lugar dominado pelas trevas, sem lei e sem fé, porém um padre virá como a mão de Deus, cuidando dos bons e punindo os maus. Ela era sua obsessão, o pecado do padre, que era capaz de qualquer coisa por sua doc...