Ele me encarou com sua velha expressão tediosa e eu sabia desde o início que minha chegada ali sempre um tanto controvérsia para o sr. Raposa, que por sua vez apenas soltou um suspiro, dando passagem para que eu entrasse. Me senti envergonhada por voltar a sua casa depois de tudo que aconteceu, inclusive com relação ao roubo de suas armas.
Ao entrar na pequena casa, percebi que nada havia mudado — eram os mesmos móveis, a mesma pintura e a cabeça de boi pendurada em uma das paredes. Meu salvador e mentor ainda era o mesmo, assim como a barba alaranjada, espessa e tão característica que quem a possuía.
Meus ombros caíram quando virei lhe encarando. O sr. Raposa foi a pessoa que me salvou quando estava à beira da morte e me ensinou tudo que aprendi sobre as armas e a arte de caçar. Talvez para sua decepção, usei seus ensinamentos de caça para caçar pessoas e matá-las. Um lado meu não ficou orgulhoso por meus atos, no entanto, o outro lado vibrou.
— Me desculpe, senhor — abaixei a cabeça ao vê-lo cruzando os braços sobre o peito, coberto por uma camisa xadrez. — Não deveria ter lhe roubado.
— E valeu a pena? — Ergui a cabeça o encarando com o cenho franzido. — Valeu a pena tirar a vida de todos aqueles homens? — assenti sem muita convicção.
— Percebi que nunca poderia voltar à minha vida de antes, mesmo que não tivesse derramado uma gota de sangue daqueles desgraçados. — Respondi encarando-lhe os olhos. — Não há um lar para mim.
O sr. Raposa entendia bem aquele meu dilema, pois não disse uma única palavra, indicando que eu me sentasse em seu velho sofá, no qual obedeci, sentando. Ele caminhou até a sua cozinha e logo trouxe uma xícara de chá, do mesmo que sempre me dava quando eu estava ansiosa por causa de todo o trauma.
A cada gole da bebida quente, uma dor se formava em meu peito e lágrimas escorreram em meu rosto, mas sequer disse uma única palavra, aproveitando aquele momento para poder chorar silenciosamente. Minha vida se afundou de uma maneira que não podia controlar — totalmente distante de tudo que sonhei um dia. Sonhar tornou-se algo que deixei de fazer.
— Há alguém que poderá lhe encontrar aqui, menina? — o sr. Raposa quebrou o silêncio, fazendo com que voltasse a encará-lo.
— Um padre chamado Kim Jongin. — Respondi.
— O padre excêntrico? — assenti.
— Ele sabe que o senhor mora aqui.
— Claro que sabe. — Franzi o cenho. — Padres como ele são sempre excelentes rastreadores... como predadores na natureza.
— Como assim? — questionei sem entender, então lembrei que um dia o padre Kim disse algo sobre não ser um padre comum. — O senhor o conhece?
— Anos atrás, quando minha unidade de comando foi fazer uma missão no Zimbabwe, encontramos um padre bem excêntrico, como o de Flores e devo dizer, menina, nunca vi alguém tão implacável. — Encarei o sr. Raposa com os olhos arregalados. — Pouco se sabe sobre esse padres, mas se você atravessa o caminho dele, certamente estará em perigo.
O padre Kim realmente não parecia comum, pois um dos nossos primeiros encontros, foi vendo-o matando capangas do PitBull com facas e não foi apenas uma vez. Ele realmente passava longe de ser um simples padre de paróquia, pois também não parecia temer o inferno pelas coisas que fizemos juntos.
— Ficar aqui também não é seguro, menina. Precisa ir para um lugar seguro.
— Mas... eu estava indo ao outro distrito... também não sei se lá seguro para mim. — Falei nervosa, tendo os olhos claros do sr. Raposa sobre mim, que logo bateu nos joelhos, se pondo de pé.
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Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)
RomanceSejam bem vindos à cidade do pecado. Um lugar dominado pelas trevas, sem lei e sem fé, porém um padre virá como a mão de Deus, cuidando dos bons e punindo os maus. Ela era sua obsessão, o pecado do padre, que era capaz de qualquer coisa por sua doc...