Capítulo 29

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Os olhos dele estavam fixos em mim, enquanto eu limpava os bancos da igreja, pondo-os no lugar com outras freiras. Ergui os olhos encarando os seus, vendo-o lançar um sorriso ladino, de alguém que desejava aprontar alguma coisa. Por isso pus as mãos nos quadris balançando a cabeça em negativa, pois nos comportaríamos.

Jongin (nossa, é tão estranho chamá-lo assim) estava sempre aprontando alguma coisa quando ninguém estava olhando. Me agarrando em momentos inapropriados e em lugares inapropriados. Estar com ele era uma aventura perigosa e proibida, mesmo eu dizendo ao coração o quanto aquilo não era certo.

Eu deveria viver um relacionamento normal, com um cara normal — não com um bendito padre excêntrico, de cabelo colorido. Tudo seria mais fácil se fosse daquela maneira, no entanto, era pedir demais que o padre Kim simplesmente desistisse se sua bata e ficasse comigo. Jamais pediria aquilo para ele, sabendo o quanto aquela missão parecia importante.

Ainda estávamos reformando a paróquia e isso aconteceu depois dos comércios e casas serem reconstruídos. Flores voltou um pouco a seu antigo estado de passividade, apesar de haver ainda conflitos com os antigos donos dos cassinos, onde o padre resolveu passando o trator por cima. Os homens não foram capazes de protestar, pois cassinos eram ilegais — piorando a situação caso resolvessem buscar a justiça.

Tudo estava muito tranquilo, porém eu ainda temia uma represália, pior, caso o padre Kim fosse embora. Lá no fundo eu tinha aquela sensação de a qualquer momento ele ir embora. Será que nossa cidade ficaria de pé após sua ida? Claro que eu pensava na cidade, no entanto, também me sentia egoísta sobre não tê-lo mais perto de mim.

Eu estava terrivelmente apaixonada por aquele homem e era um grande problema a ser resolvido, porque não havia um final feliz, não com aquela realidade batendo à nossa porta. Lá no fundo aquele sentimento era recíproco, mas ele também sabia das circunstâncias do nosso romance nada cristão. Infelizmente o coração traiçoeiro não entendia aquele fato.

No fim do dia, me despedi novamente das freiras e dos freis que estavam nos ajudando. Logo a paróquia estaria maravilhosa para as missas e nunca vi um povo tão empolgado em prosseguir com as celebrações católicas, do que os habitantes de Flores. Então voltei-me para dentro, buscando a mochila em um dos bancos, quando dei de cara com o padre Kim descendo as escadas no camarote bispal.

Seus olhos logo encontraram os meus, sorrindo daquela maneira tão despretensiosa e cretina. Era incrível o quanto um padre, que deveria ser gentil e santo, parecia vir direto do inferno para lhe tentar. Seus passos eram calmos, as mãos atrás do corpo, enquanto os olhos se mantinham fixos em mim.

— Já está indo? — Questionou estando há um metro de distância.

— Sim, preciso ajudar minha mãe com o jantar. — Respondi amena, finalmente encontrando minha mochila e pegando-a. — As noviças lhe deixaram alguma coisa para comer? Elas estavam muito ocupadas hoje.

— Eu me viro.

Um suspiro escapou dos meus lábios, sabendo que o padre era visto frequentemente comendo besteiras nas lanchonetes locais e de acordo com uma das irmãs, ele não permitia elas se preocuparem com suas refeições. Mesmo sendo um padre, o comportamento teimoso tipicamente masculino, estava mais do que presente.

— Venha jantar conosco. — Falei por fim. — Se vai comer sanduíche como janta, venha comigo para comer algo decente. Hoje a janta vai ser sarrabui e macaxeira frita. — Os olhos dele se abriram em surpresa, mas não lhe permiti recusar o convite, puxando sua manga da batina. — Vamos de uma vez, seu teimoso!

Padre Kim soltou uma risada, me acompanhando para fora da paróquia e juntos caminhamos pelas ruas recém reconstruídas do condado. Tudo parecia mais limpo e fiquei muito feliz ao ver o jardim da pracinha da igreja tão florido — realmente os habitantes do condado fizeram um excelente trabalho.

Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)Onde histórias criam vida. Descubra agora