Capítulo 20

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Nem percebi que meus pés se moveram na direção da paróquia. Eu sei que não deveria fazer aquilo — meus companheiros avisaram que não deveria fazer aquilo, porém não dei ouvidos, indo de encontro ao padre Kim.

Foram cinco anos longe, mas em nenhum deles consegui de fato tirar aquele sentimento do peito, como se aquele parasita ainda me tomasse e sim, tomava. Por isso que quando meus olhos alcançaram a cruz de néon no alto da paróquia de São Pedro, meu coração disparou, pois lembranças inundaram minha mente no mesmo instante.

Poderia dizer que o lugar não havia mudado nada, no entanto era mentira, pois sim, a antiga paróquia e prédio mais velho da cidade estava em ruínas. Alguns degraus foram destruídos, assim como a torre lateral, que estava pela metade.

Franzi o cenho sem entender o que havia acontecido durante todo aquele tempo. Então subi os degraus que restaram, abrindo as gigantescas portas de madeira. Nunca imaginei que veria tanta degradação e ruína no local mais sagrado de Flores.

Bancos revirados, paredes quebradas, o teto tinha um buraco enorme e ao olhar para o fundo, percebi que a imagem do nosso Senhor Jesus Cristo crucificado estava sem a cabeça. Algumas pessoas se encolhiam nos cantos, outras bastantes feridas sendo ajudadas e crianças claramente desnutridas. Meu pai tinha razão, a desgraça tomou de conta da nossa amada cidade.

De repente parei no meio do corredor quando vi aquela figura dando sopa para um homem deitado em um colchonete velho. Os cabelos não estavam mais platinados, havendo a tintura apenas nas pontas do cabelo, que pareciam mais longos. Não importava a versão do padre, ficara tão lindo quanto. A pele também parecia mais bronzeada e era possível perceber um pouco de barba no rosto afilado.

Ele ainda mexia comigo e eu era um tola, sempre fui. Por isso permaneci ali parada no meio daquele corredor, apenas observando o padre Kim ajudando as pessoas e algumas vezes lhes lançando um sorriso solidário. Uma reza era feita a cada indivíduo ajudado e meu pai havia dito que o excêntrico padre estava trabalhando duro para ajudar as pessoas da cidade.

PitBull destruiu séculos de existência daquela cidadezinha do interior. Todos ali trabalharam duro para estarem no mapa, com agricultura e artesanato, mas lhes foi tirado o direito até de sobrevivência. Mais cassinos foram construídos e as prostitutas nas esquinas estavam cada vez mais jovens.

Em meio aos meus devaneios, o padre Kim Jongin virou na minha direção e seus olhos se arregalaram, dando um passo cambaleante até mim. Apesar do coração acelerado, os pés ganharam vida se aproximando do padre, que também caminhou. Ficamos frente a frente sem dizer uma única palavra. Cinco anos sem se ver e era como se realmente esse tempo não tivesse acontecido, pois meu maldito coração ansiava por aquele homem.

— Mila — meu nome saiu arrastado e ele ainda carregava o mesmo sotaque, causando um formigamento ao lhe ouvir.

— Padre — havia um nó na minha garganta, então ele esticou sua mão de dedos compridos, tocando minha face.

Não me afastei, não impedi o toque — talvez estivesse ansiosa por aquilo, ansiosa por sentir seus dedos quentes contra minha pele fria e quando isso aconteceu, foi como se o mundo tivesse parado. Os sentimentos vieram em torrente e meu corpo lembrou porque reagia daquela forma quando o padre estava por perto. Eu senti sua falta.

— Senti sua falta, loirinha! — Encarei seus olhos escuros e brilhantes. — Quase enlouqueci. — Meu coração palpitava, no entanto, dei um passo para trás, me afastando.

— Meus pais disseram que você estava passando por tempos difíceis. — Desviei do assunto e ele recolheu sua mão, pondo-a dentro do bolso da batina.

— Os tempos são difíceis para todos. — Respondeu sucinto. — Você parece bem — assenti, encarando os cadarços das minhas botas. — Veio ver seus pais? — Ergui a cabeça encarando-o novamente e assenti.

Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)Onde histórias criam vida. Descubra agora