Capítulo 22

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XuKun me olhava com ternura, enquanto meus olhos estavam voltados para a janela do carro, além do horizonte, lembrando o que aquele infeliz fez com o padre e a menina. Meus punhos estavam cerrados, a mente trabalhando uma forma de matá-lo e o desejo de derramamento de sangue tornando-se cada vez mais latente.

As ruas passavam como borrões diante dos meus olhos. A cidade era o desgaste de um lugar contaminado e tudo havia se tornado degradante — quase como uma cidade fantasma. Pensei nos meus pais naquele hospital terrível, enquanto os mais ricos, como parasitas, sugavam a vida dos habitantes de Flores.

Naquele momento de reflexão, senti dedos tocando minha mão e eu sabia de quem o pertenciam. Soltei um suspiro, puxando-a para mim.

— O que fizeram com você, Mila? — Continuei olhando para a janela sem dizer uma única palavra. — Você era perfeita e estragaram você! Olha só essa tatuagem, o cabelo... parece um marmanjo com essas roupas. — Novamente permaneci em silêncio, pois se abrisse minha boca, sairia os maiores impropérios e não estava afim de gastar saliva com XuKun.

Ele me tratava como se eu estivesse quebrada, como se outras pessoas fossem as responsáveis por isso. Sabíamos bem que fora seu padrinho a fazer aquilo — me deixar em pedaços, causar minha morte e destruir tudo de bom que eu ainda possuía. Raposa e Jibóia só juntou os cacos, tentando ao menos resgatar o resto de mulher que havia sobrado de mim.

XuKun dizia sobre me consertar, mas não tinha nada ali para ser consertado e ele poderia enfiar suas intenções onde o sol não bate. Eu estava cansada daquilo e quando saísse daquela situação, voltaria para o esquadrão do Jibóia, esquecer da existência de Flores e levar meus pais para bem longe daquele lugar infernal.

O carro parou em uma grande propriedade afastada da cidade, fortemente armada e provavelmente luxuosa às custas dos moradores de Flores. XuKun ainda estava com a arma apontada para mim e segui caminho pela extensão daquele jardim gigantesco. Homens armados me olhavam com seriedade — todos armados até os dentes.

Fui guiada para dentro da mansão, que por dentro era tão glamourosa quanto sua entrada extravagante. Uma porta fora aberta para que eu entrasse e grande foi meu choque ao ver PitBull sentado atrás de uma mesa, dedos cobertos de anéis, cruzados em cima desta.

Seus olhos voltaram em minha direção, franzindo o cenho no começo, para logo mais ter as sobrancelhas erguidas pela surpresa.

— Olha o que os ventos nos trouxe... aquela incapaz de morrer, não é mesmo? — Cerrei os punhos, pois tudo que passei veio à minha mente. — Quando meu afilhado contou, não acreditei. — Movi um pouco a cabeça para o lado, encarando XuKun, antes de me voltar totalmente para seu padrinho.

— Estou aqui para morrer? — questionei sem rodeios, mas PitBull soltou uma alta gargalhada.

— Morrer? Você? — riu ainda mais alto. — Como posso matar quem não morre? E se o fizesse agora mesmo, aquele padre maldito me caçaria até o inferno.

— Ele já está morto, padrinho. — XuKun se pôs na frente, tendo atenção do mais velho.

— Tem certeza disso? — o mais novo assentiu. — Aquele padreco é como essa barata — apontou para mim. —, não morre tão fácil.

— Os homens o fuzilaram. — XuKun prosseguiu com sua afirmativa, porém PitBull parecia discordar disso, enquanto me encarava fixamente.

— Pois me traga a cabeça dele em uma bandeja! — estremeci com aquele pedido, entretanto, tentei manter a expressão passível.

— Padrinho, a Mila... eu a quero!

— Claro, claro... seu gosto é grotesco, então se não podemos matá-la, faça o que quiser. — PitBull meneou a mão, nos dispensando.

Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)Onde histórias criam vida. Descubra agora