O ar gelado da noite me fez abraçar meu corpo, o grosso casaco não seria suficiente para aplacar aquele frio horroroso. Desejei por vezes estar usando meu conjunto moletom enquanto devorava um balde de pipocas quentinhas em casa. Ao invés de ser uma garota normal, usando seu jeans surrado, carregando livros enquanto voltava da faculdade, eu era uma garçonete, vulgo dançarina de boate, usando um micro vestido de látex, que mal cobria minhas coxas.
O sonho de frequentar uma boa universidade se foi muitos anos antes, sobrando o pesadelo que se tornou real e que eu desejava que não existisse, pois só era preciso abrir os olhos e acordar. Infelizmente aquela era a realidade e Flores estava em meio ao caos completo. Eu olhava de um lado para o outro e não conseguia ver uma luz no fim do túnel, porque certamente esta não existia, não para os moradores do condado.
O ponto de ônibus não era longe e eu estava bem perto, assim como minha casa, mas era muito tarde para ir de pé. Meu turno na boate havia acabado e mesmo sendo mais de uma da madrugada, pessoas iam e vinham, como se ninguém fosse trabalhar de manhã cedo. Damas da noite, para o popular, vadias baratas, estavam em seus determinados pontos, expondo seus atributos como moeda de troca. Passei reto por elas, pois algumas eram muito intimidadoras e odiavam carne nova no pedaço.
Havia uma viela inteira dedicada a prostituição, onde antes era localizado o fliperama, a loja de quadrinhos e um cibercafé. Os lugares onde as crianças passavam o tempo de forma saudável foram substituídos por antro de prevenção. Ali era minha viela favorita da cidade, pois era para lá que eu ia depois da escola com meus amigos. Não conseguia acreditar que destruíram a infância de quem cresceu ali e de quem ainda estava crescendo.
— Camila!? — ouvi aquela voz desconhecida chamando meu nome, então por instinto virei a cabeça e uma Ferrari me acompanhava.
Aquilo não era um bom sinal, nunca era — eu estava na viela das prostitutas, claro que algum homem acharia que eu fosse uma delas, principalmente por ser visível pelas minhas roupas da boate. Lembro de ser sempre parada por carros quando voltava para casa, era um infortúnio, precisando sempre andar com um spray de pimenta, então coloquei a mão dentro do bolso onde costumava guardá-lo.
— Hum... — cerrei os olhos para tentar descobrir quem era o sujeito. — Desculpe senhor, mas eu não sou uma prostituta, estou apenas passando. — disse amena, apressando o passo o mais rápido que podia, mas o cara do carro continuava me seguindo, então já de saco cheio, parei na calçada, bufando. — O senhor é surdo? Eu não sou... — parei de falar quando a janela desceu revelando aquela pessoa.
— Se quiser, faremos de graça, depende de você — XuKun sorriu apertando seus olhos pequenos.
— O senhor não deveria estar aqui. — Respondi dando um passo para trás na defensiva.
— Por que não? Essa cidade é do meu padrinho e conseguinte, minha também. — Sorriu ladino.
Ele tinha aquela mesma arrogância de PitBull, sempre achando que era o rei do nosso condado e vendo tudo que causou, comecei a acreditar que era sim, éramos apenas os camponeses e eles os reis de toda cidade. Pensar aquilo me causava um nó na garganta, pois foi por causa de seu padrinho que meu irmão quase cometeu uma tragédia — se não fosse o padre Kim, estaríamos enterrando outro filho e irmão.
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Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)
RomanceSejam bem vindos à cidade do pecado. Um lugar dominado pelas trevas, sem lei e sem fé, porém um padre virá como a mão de Deus, cuidando dos bons e punindo os maus. Ela era sua obsessão, o pecado do padre, que era capaz de qualquer coisa por sua doc...