Capítulo 26

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Flores estava em polvorosa — o governador iria para nossa cidade, a fim de resolver aquela situação da ausência do prefeito, que havia fugido desde a queda de PitBull. O cretino desapareceu com todo o dinheiro dos impostos e os cofres da prefeitura estavam vazios. As pessoas não tinham o que comer e o comércio ia mal devido aquela guerra de gangues.

Para piorar toda situação, o padre Kim havia desaparecido — desaparecido não — uma das freiras remanescentes avisou que fez uma viagem para encontrar outro padre e recursos para a cidade. Ele deveria estar ali para resolver aquela situação, pois com o governador as portas, o único líder que tínhamos era o padre. Algumas pessoas temiam o retorno das drogas e prostituição, ainda impregnada na cidade.

Na ausência do padre, as coisas desandaram em uma proporção gigantesca, tendo novamente drogas nas ruas e meninas se vendendo. Muitas foram as vezes que fui buscar alunas da escola nas esquinas e elas nem haviam chegado ainda na puberdade. Uma delas tinha pais drogados e estava se prostituindo para comer. Fiquei p*ta da vida, pois as crianças deveriam ser poupadas daquela desgraça, não jogadas, então com o cão nos couros, dei uma surra daquelas naqueles dois irresponsáveis.

Precisei dar uma de vigilante, porque não podia permitir aquelas situações acontecendo bem debaixo do meu nariz. Às vezes ia dormir pela manhã, tirando os drogados dos becos e as meninas das esquinas, mas pela glória alguns poucos policiais decentes também ajudaram; infelizmente era chover no molhado. Na noite seguinte tudo voltava ao seu estágio inicial, como se nada tivesse sido feito.

Houve momentos em que eu quis chorar de raiva — talvez até tenha o feito, pois ali era minha cidade, o lugar onde cresci e criei raízes, mas parecia não haver qualquer solução para nosso Condado.

Uma das pouquíssimas professoras da antiga escola, trouxe a infeliz notícia da escassez de recursos para manter a escola, além do fato de não ter sobrado quase nenhuma professora. As crianças de idades diferentes ocupavam os mesmos espaços e a merenda era distribuída através de doações dos antigos agricultores, que também mal tinham para seus sustento. Eu mesma me candidatei como professora, a fim de preencher aquela falta.

Se antes eu estava sobrecarregada com todo trabalho em manter a cidade o mínimo segura e ainda ajudar meus pais na loja, decidi colocar outra responsabilidade sobre os ombros. Meu corpo não aguentava mais tanta sobrecarga e todos os dias ia até a paróquia destruída para rezar, pedindo que o padre Kim voltasse de uma vez.

— Mila? — ergui a cabeça, encontrando um trio das minhas ex-colegas de boate.

As meninas também estudaram comigo na escola da montanha e foram para o mesmo caminho cruel, vendendo os próprios corpos para sobreviver. Elas tinham sonhos, sonhos esses arrancados de si.

— Oi meninas! — Cumprimentei, mas não levantei, pois estava no chão com as crianças pequenas, fazendo arte com tinta guache.

— Soubemos que está precisando de ajuda na escola e como aqui também foi onde estudamos, queremos ajudar. — Janaína, uma morena de longos cabelos lisos, disse sorrindo, enquanto as outras duas assentiram concordando.

— Vocês não estavam no distrito da madame Perez? — questionei confusa.

— Aqui, lá, ainda éramos prostitutas, então é melhor fazer alguma coisa por nossa cidade, pra tudo voltar ao normal. — Cristina, uma garota ruiva baixinha, respondeu com a mão na cintura.

— Então, por onde começamos? — sorri feliz de finalmente os céus mandarem ajuda.

Nossa, as meninas foram anjos mesmo, enviados para ajudar na escola, pois podemos dividir as turmas e assim não ficaria aquela bagunça inicial. Também fizemos uma boa limpeza e abrimos a biblioteca, que estava bastante depredada, no entanto, pôde se reerguer. Eu nunca me senti tão feliz, por isso fui até a paróquia agradecer por aquela benção. Apesar de muito trabalho, um faísca de esperança se acendeu.

Padre_ Série: Desejo Profano Livro 3 (Kim Jongin)Onde histórias criam vida. Descubra agora