Primeira noite

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Ponto de vista: Maya

Os pais de Bernardo tinham ligado para ele, com câmera, para falar com os meus pais. Havíamos voltado super tarde do clube e uma chuva de verão havia açoitado a cidade, fazendo com que pegássemos um engarrafamento de mais de uma hora e chegássemos em casa a duras penas passando as oito da noite.

Os pais de Margot haviam passado para buscá-la no clube e, relutante, ela havia sido arrastada para se preparar para a festa de quinze anos de uma das primas que ela tanto odiava.

Por isso, só restávamos eu, Bernardo, meus pais e aquele diluvio.

Depois de uma chamada de vídeo, agradecimentos e recomendações, ficou decidido por nossos progenitores que ele passaria a noite na minha casa, pois claro estava que seria impossível sair dali.

Escutei a porta do meu quarto se abrir e vi mamãe entrar, com um sorrido amável e aquele ar de quem quer ter uma conversa amigável de mãe para filha.

Oh. NO.

— Nos divertimos muito hoje, não nos divertimos?

Concordei, deixando que ela acariciasse meu cabelo molhado pós banho.

— Ele é um garoto e tanto. — Disse, observando a porta para comprovar que ainda estávamos sozinhas. — E fico feliz que esteja abrindo seus horizontes, Maya.

Assenti. Minha mãe sempre havia sido a líder da turma, a que organizava festas, tinha mais amigos do que podia contar e nunca envelhecia. Eu sabia que ela se preocupava que comigo fosse todo o contrário.

— Mas saiba, minha filha, que você é muito especial também. Sei que esse é um mundo completamente desconhecido para você, mas não se assuste com pessoas que possuem a vida vazia. Elas não merecem o seu tempo. Foque no que é importante, e nem sempre estou falando dos livros. 

Soube naquele momento que minha mãe também havia visto os comentários no meu Instagram.

— Não precisa se preocupar. — Assegurei, segurando a mão dela. — Essas pessoas não me afetam. Não posso me importar com todo mundo. Só posso fazer o meu melhor para que quem eu amo tenha orgulho de mim.

— Nos temos. — Disse beijando a minha testa. — Muito. Sempre teremos.

Deixei que ela me abraçasse e acariciasse meu cabelo por mais um tempo.

Observou o colchão no chão, ao lado da minha cama.

Senti o coração pulsar, inquieta.

— Sinto saudades das minhas noites furtivas aos dezesseis. — Disse, piscando para mim, enquanto se levantava. — Comportem-se. Vocês ainda têm muita coisa pela frente.

— MAE!

Mostrou a língua e saiu do quarto, fechando a porta atras de si.

Meu pai queria que Bernardo tivesse dormido com ele, sob supervisão, na sala vendo um jogo de futebol. Mas minha mãe tinha seus métodos para provar e comprovar que eu era responsável o suficiente para saber os meus limites.

E digamos que eu nunca havia dado motivos aos meus pais para duvidar disso.

E era por isso que eu não conseguia dormir aquela noite. Mesmo que estivesse morta, depois de um dia inteiro no clube.

Porque no colchão ao lado da minha cama, iluminado pela luz fraca do celular, enquanto lia alguma coisa no pequeno aparelho, estava um dos modelos mais bem pagos do país, que também era meu namorado e o primeiro garoto que dormia no meu quarto.

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