Ponto de vista Maya
Entrei no ônibus um pouco cheio e fiquei em pé, lendo um livro sobre um trabalho que tínhamos que apresentar, enquanto o motorista arrancava. Senti que as pessoas passavam e empurravam, mas me mantive firme no meu lugar, segurando com uma das mãos, enquanto equilibrava o livro na outra. Foi só quando já era praticamente impossível que eu pudesse me mover, que senti alguém atras de mim, perto demais.
Respirei fundo, petrificada, enquanto olhava para trás discretamente. Um homem na casa dos quarenta, barba por fazer, cabelos oleosos, sorria discretamente, enquanto apertava seu corpo contra o meu, esbarrando propositalmente a mão por baixo da minha saia do uniforme.
Congelei. Eu não sou do tipo de garota que se assusta fácil, mas estava encurralada, presa entre todas aquelas pessoas e aquele estranho, que começava a me dar calafrio.
Senti o coração parar, quando sua mão tocou minha perna e tentei me mexer, mas estava literalmente impossibilitada. Sabia o que deveria fazer. Gritar e armar um escândalo até que pudesse me livrar daquela situação. Mas meus olhos queimaram e me senti tão pequena que para o meu desespero estava a ponto de abrir o berreiro ali mesmo.
Foi quando escutei uma voz conhecida atras de mim, e de pronto, o homem havia sido empurrado para longe de mim.
- Com licença. - Escutei a voz dizer e me virei para trás rapidamente, surpreendendo-me com o dono dela. - Hey, Maya, que coincidência te encontrar aqui.
Fiquei em silencio, observando seus grandes olhos castanhos por um tempo, ocultos atras dos óculos de grau.
Hugo sorriu para mim, enquanto se colocava onde o estranho havia estado segundos atras, bloqueando meu corpo com o dele.
Senti o cheio adocicado do seu perfume. Não era ruim, mas agora eu estava com dor de cabeça.
Suspirei, deixando a tensão ir embora.
- Obrigada. - Sussurrei e o vi assentir em silencio. Ainda com um sorriso nos lábios.
- Você não precisa se preocupar mais. - Respondeu, enquanto segurava meu ombro para que eu não caísse justo quando o motorista freou bruscamente. - Você já não esta sozinha.
Naquela manhã eu havia recebido outra mensagem de Margot. A gripe ainda não havia passado e ela ainda tinha febre, por isso, eu agora estava cruzando os portões da escola com Hugo ao lado, e não com minha melhor amiga, como de costume.
- Nunca te vi pegar esse ônibus. - Disse, enquanto caminhava com ele pela entrada.
- Troquei o meu caminho recentemente. Eu e meus pais mudamos de bairro.
Assenti, caminhando em silencio enquanto observava a hora no celular.
- Bem... obrigada mais uma vez. Não sei por que congelei, mas se não tivesse sido por você...
- Vou estar nesse ónibus todos os dias. - Respondeu, parando de caminhar e olhando diretamente para mim. - Como eu disse, você não precisa se preocupar.
Seus olhos brilharam de forma intensa e, por breves segundos, pareceram vacilar entre a calidez e algo mais que eu não podia decifrar.
- Eu... uhm... tenho que ir para a aula. Tenho uma apresentação no primeiro tempo. - Tentei sorrir, mas aquela sensação estranha que sentia sempre que Hugo estava por perto, voltou a me invadir. - Nos vemos por aí.
Conclui, caminhando mais rápido do que o necessário para a sala de aula.
Joguei minha mochila na cadeira e me sentei, sem prestar atenção em nada mais. Comecei a colocar minhas coisas sobre a mesa distraidamente, ainda tendo flashes estranhos da forma como ele me olhava, e escutei quando algo caiu no chão ao meu lado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
10 encontros
Fiksi RemajaMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...