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Nota da autora: Play no vídeo para conhecer melhor o motivo do desespero da Maya (B.B ;) 

Ponto de vista Maya

Margot me observou com estranheza enquanto eu fungava e limpava o nariz em um guardanapo, como se eu fosse um ser de outro planeta, e não sua melhor amiga de toda a vida.

— Desculpe, eu nem sei como me comportar. Isso é realmente inusitado. — Disse, pegando outro guardanapo e me entregando. — Liga para ele, Maya. Explica tudo. Tenho certeza que ele vai entender.

Que diabos era aquilo? Eu nunca havia me sentindo assim antes. Como se meu coração tivesse sido literalmente dividido em pedaços. Se aquilo era o que as pessoas chamavam de primeiro amor, eu não desejava isso para ninguém.

Suspirei, observando a tela do celular.

Procurei seu número nos contatos e pensei em tudo o que iria dizer. Mas outro número surgiu na tela, chamando como se soubesse exatamente o que eu estava prestes a fazer.

Atendi, sem pensar muito sobre isso.

— Hey.

A voz de Hugo parecia ter voltado ao normal. Como se ele tivesse passado uma borracha no que tinha acontecido naquela tarde no corredor da biblioteca.

Observei os olhos de Margot cravados em mim. Eu havia corrido para a casa dela e contato toda a história. Desde o dia que havia conhecido Hugo no corredor da escola até aquela tarde, onde o encontrei recebendo uma surra de um de nossos prestigiosos colegas de classe. Eu havia contado sobre Bernardo e sobre como ele havia entendido tudo errado. Eu havia contato sobre a minha incompetência em mostrar o que realmente sentia. Havia contato, pela primeira vez a alguém, o quão importante ele havia passado a ser para mim.

Mas eu sabia que não era para Margot que eu deveria estar falando isso.

Eu devia honestidade a ele.

Mesmo que isso já não mudasse nada.

— Hugo, estou um pouco ocupada agora. Podemos conversar mais tarde?

— É por causa dele?

Sua pergunta me pegou desprevenida. Demorei um pouco para assimilar.

O que ele tinha a ver com isso?

— Eu realmente não posso falar agora. Nos vemos amanhã na escola, ok?

— Era sobre isso que eu estava falando, Maya. — Escutei aquele tom acido de antes voltar a sua voz. — Sobre esse tipo de pessoa que consegue tudo o que quer de pessoas como nós. Que nos faz sentir desconfortáveis, culpados, obrigados... Não precisa ser assim.

— Não sei do que esta falando. Bernardo não é assim.

O escutei sorrir, quase como se eu tivesse feito alguma piada.

— Ele é exatamente como todos os demais, Maya. Um rosto bonito e uma conta bancária maior do que a maioria de nós conseguirá em mil vidas. Nunca iria funcionar entre vocês. Mas você não precisa se machucar por isso, ainda dá tempo de seguir o caminho certo.

— Hugo, sei que está cansado por conta de tudo o que vem passado, mas nem todo mundo é como esses imbecis que tem te acossado. Podemos denunciá-los. Eu vi o que aconteceu, posso te acompanhar.

Permaneceu em silencio por um tempo e pude sentir a tensão, enquanto observava Margot, que prestava atenção parecendo tão cética quanto eu.

— Esquece ele, Maya. Eu posso cuidar de você. Podemos cuidar um do outro até a ENS terminar. Ele pertence a esse mundo injusto onde nós somos a presa. Nada nunca sairá mal para ele. Ele nunca te entenderá, como eu te entendo.

Tirei o celular do ouvido, observando o aparelho com a testa franzida, questionando a mim mesma se eu havia entendido bem o que ele estava querendo dizer.

Margot me observou em dúvida. Era evidente que ela sabia que algo estava errado ali. Se aproximou de mim quando coloquei no viva-voz.

— Eu não entendo exatamente o que quer dizer, Hugo. Mas não posso concordar. O erro foi meu, não dele. Eu também costumava pensar dessa forma, mas esta errada. Nem todo mundo é igual.

Voltou a sorrir, sem vontade.

— Foi o que eu achei, Maya. Não levou muito tempo para que ele te fizesse acreditar exatamente no que ele queria.

— Eu vou desligar. — Respondi, tentando manter minha voz sob controle. Por alguma razão, doía mais que ele estivesse tentando de todas as formas denegrir Bernardo do que o fato dele estar me chamando de estúpida agora mesmo.

— É bom que tenham terminado. Você se dará conta sozinha depois, que foi melhor assim.

Desliguei sem responder, engolindo o choro, enquanto a última frase dele ecoava na minha cabeça.

Eu era tão estúpida.

Acreditei que Hugo era uma boa pessoa, mas ele estava tentando me manipular? Ele me julgava mesmo incapaz de avaliar o caráter uma pessoa por mim mesma?

Senti os braços de Margot em volta dos meus ombros. Não tinha me dado conta de que havia voltado a chorar, ainda segurando o celular na mão, mesmo depois de ter desligado.

— Não liga para o que ele disse, Maya. — Disse, acariciando meu cabelo. — Se concentra no que é realmente importante.

Depois de tão pouco tempo de cruzar o caminho de Bernardo, uma coisa eu tinha aprendido.

O primeiro amor dói tão fucking much que as vezes só queremos que essa dor pare.

Mas é impossível, porque o motivo dela também é a única solução.

Depois de ter chorado a quantidade de lágrimas que eu estava bastante segura, me desidratariam, Margot conseguiu que eu finalmente comesse alguma coisa para a janta e deitasse ao seu lado, na cama do seu quarto, mesmo que ela estivesse terrivelmente gripada ainda.

Eu havia ligado para os meus pais, e sem dar muitas explicações, havia pedido para passar a noite na casa de Margot, prometendo que não dormiria tarde e não me atrasaria para a escola na manhã seguinte.

Eu não havia vindo preparada, não tinha os livros corretos na mochila e a mãe de Margot havia sido atenciosa o suficiente para lavar meu uniforme e colocá-lo na secadora, para que eu, pelo menos, tivesse roupa limpa para o dia seguinte.

Mas eu não queria ir para casa afundar no arrependimento sozinha.

Eu estava sendo egoísta e minha amiga não se sentia bem. Mas eu trocaria de lugar com ela, porque eu tinha certeza que poderia suportar uma gripe muito melhor do que estava suportando a falta dele.

— Maya... — Escutei minha melhor amiga se mexer incômoda ao meu lado. — Você vai querer ver isso.

Me acomodei na cama, sentando direito ao lado dela e observando o celular na sua mão.

Havia uma montagem com vídeos de Bernardo. Vídeos amadores com partes fracionadas, vídeos tirados da internet, da sua conta do Instagram, de campanhas que havia feito.

Com a legenda:

"Fontes seguras dizem que o B.B esta solteiro novamente. Que venha o sexto encontro."

Não pude ignorar o pulsar doloroso no meu peito ao ver o rosto dele.

Eu sabia o que a pessoa que fez aquela montagem via. Era muito evidente para todo mundo. Ele era inexplicavelmente lindo. Tanto, que devia ser ilegal.

Mas não era isso o que havia feito com que ele me tivesse tão rápido.

Ele era muito mais.

E Hugo estava errado.

A covarde havia sido eu. Todo esse tempo. 

10 encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora