Limites

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Ponto de vista Maya

Me sentei no banco do vestuário pensativa. Eu nunca tinha levado uma advertência antes, então estava levando um tempo para que eu pudesse assimilar o que tinha acontecido apenas trinta minutos atras, quando o diretor viu a si mesmo sem outra alternativa, a não ser dar uma advertência a cada um que estivesse envolvido na pequena discussão no fim do jogo.

Aquilo não seria nada positivo para o meu histórico escolar. Mas realmente, quem olhava isso hoje em dia?

Margot também havia ficado furiosa. Mas não era a advertência que a havia deixado assim, e sim a prepotência de Hugo, que havia insistido durante todo o tempo que nós havíamos começado a briga.

Pensei nas palavras dele e em sua expressão. Eu não tinha certeza de que espécie de jogo ele estava jogando, mas não era divertido. E não mudaria as coisas.

E, enquanto minha cabeça dava voltas com tudo isso, notei sua presença.

Estávamos sozinhos no vestuário. Margot havia se despedido, dizendo estar de mal humor e dor de cabeça. Os jogadores do time da escola haviam tomado banho, trocado de roupa e seguido seus destinos. Quem quer que tivesse ido para torcer pelo time, havia ido embora também e eu tinha plena certeza que havia visto Hugo sair pelos portões da escola, depois da nossa pequena visita a sala do diretor.

Mas Bernardo e eu havíamos voltado, para que ele pudesse pegar suas coisas no armário, tomar um banho e trocar de roupa.

O vi caminhar até a porta do armário, onde abriu um pequeno cadeado e tirou sua mochila de dentro. Seu cabelo estava molhado e gotas caiam sobre seus ombros, ainda descobertos.

Ele havia trocado o short pela calça social do uniforme da escola. Uma calça preta que se ajustava perfeitamente na sua cintura. Pegou uma toalha no banco e secou os cabelos, revolvendo os fios pesados e lisos para todos os lados.

Caótico.

Por que meu coração estava batendo tão forte?

Fechou a porta do armário com mais força do que era realmente necessário e suspirou, apoiando a cabeça na pequena porta, tenso.

— Você... quer conversar? — Perguntei, e seus olhos encontraram os meus, como se tivesse esquecido que eu estava ali, esperando que ele terminasse para irmos embora.

Mordeu os lábios e negou, um pouco frustrado, girando a cabeça na minha direção.

— Eu sinto muito. Perdi a cabeça.

Não pude conter o riso. Era com isso que ele estava preocupado?

— Uma advertência não vai afundar a minha brilhante media escolar, Bernardo. E... não foi culpa sua.

Sorriu, relaxando um pouco, enquanto eu enfatizava a palavra "brilhante".

— Eu vou te compensar por isso. — Disse, caminhando na minha direção e parando a minha frente. Perto demais para alguém que ainda não estava completamente vestido.

E, para o meu desespero, meu coração retumbante tinha plena consciência disso e havia passado a pulsar descontroladamente, enviando uma eletricidade desconhecida a todo o meu corpo.

— Você... uhm...não precisa me compensar por nada. Como eu disse, não foi culpa sua. Hugo precisa de ajuda... ele não está pensando direito. — Respondi, me levantando com a intenção de me afastar, para poder voltar a agir com naturalidade, mas ele deu mais alguns passos na minha direção, me aprisionando em uma das cabines do vestuário.

— Pode ficar longe dele? — Perguntou. Seus olhos sérios, fixos nos meus. — Eu não consigo ficar só observando quando ele claramente tem outras intenções...

Observei os vários tons de dourado dos seus olhos. Seus cabelos molhados, caiam sobre o seu rosto. Quis escorregar os dedos sobre eles para acomodar, mas estava, de certa forma, petrificada.

Quem lhe havia dado o direito de girar meu mundo de ponta a cabeça assim?

Quem lhe havia dado o direito de me olhar dessa forma, quando sabia que eu já não poderia respirar?

— Ok, ok... — Respondi, colocando instintivamente a mão em seu peito, para manter uma distância prudente. — Acho melhor irmos, está ficando tarde...

Desviei os olhos dele, engolindo em seco enquanto tentava dissimular que ele me deixava estupidamente nervosa. Era desencorajador descobrir que não importava quanto tempo passasse, minhas pernas falhavam sempre que ele estava por perto.

Era somente eu? Todas aquelas garotas la fora se sentiam da mesma forma?

Algum dia, ele estaria assim, tao próximo de alguém mais?

Ela também perderia o ar? Ele também faria seu coração acelerar no peito de forma tão inconstante?

— Vamos. — Disse, afastando esse pensamento, tentando recuperar a compostura enquanto as palavras de Hugo voltavam a me invadir. Estávamos destinados ao fracasso? Por que somente pensar nessa possibilidade me fazia sentir quebrar?

Nunca mais nada seria como antes?

Fui pega de surpresa quando senti sua mão sobre a minha, em seu peito. Suspirei, sentindo minha frágil decisão de sair correndo dali falhar, penosamente. Aproximou o rosto do meu tão lentamente, que senti cada pulsada do meu coração enquanto ele o fazia. Seus lábios tocaram os meus com tanto carinho que deixei de lutar...porque eu queria exatamente o mesmo.

Que o mundo terminasse lá fora.

E que pudéssemos ficar um pouco mais, longe de todo o caos, das vozes, dos gritos...

Senti suas mãos na minha cintura, levantando-me para me acomodar na barra de madeira atras de mim, usada para que os alunos pudessem apoiar suas coisas, enquanto trocavam de roupa na cabine do vestuário.

Com as pernas em volta da sua cintura, deixei que meus dedos escorregassem entre os fios molhados do seu cabelo. Seus lábios escorregaram pelo meu pescoço e senti meu coração retumbar tão forte que agradeci imensamente o fato de estar sentada.

Observou como minhas mãos escorregavam lentamente, passando de seus cabelos ao seu peito descoberto e seus olhos fitaram os meus, deixando-me saber exatamente o que ele sentia, mesmo que não tivesse dito uma palavra sequer.

Lá fora, no mundo onde ele vivia, Bernardo não hesitava. Era o rosto perfeito com notas perfeitas e um carisma difícil de ignorar.

Mas eu já havia dito antes e não foi difícil descobrir que ele era muito mais que isso.

E, naquele momento, ele estava duvidando, porque assim como eu, tudo também era novo para ele.

E se um dia tudo aquilo terminasse, eu já não queria arrependimentos.

Ainda não estávamos prontos para muitas coisas e eu não sabia quanto tempo levaria para que estivéssemos e nem se estaríamos juntos até o final.

Mas eu estava aprendendo sobre os meus limites... e sobre como quebrá-los, pouco a pouco.

Abri os botões da camisa do meu uniforme lentamente, sem desviar os olhos dele.

Tive certeza que pude escutar as batidas do seu coração.

Segurei seu rosto, o trazendo de encontro a mim novamente, enquanto sentia suas mãos cálidas sobre a minha cintura, agora por baixo da camisa aberta.

Era confortável, mais do que eu poderia ter imaginado. Senti suas mãos subirem até o fecho do meu sutiã.

Estancou, por alguns segundos, enquanto separava os lábios dos meus somente o suficiente para me encarar. A testa apoiada na minha, o nariz roçando levemente no meu.

Assenti, enquanto ele abria o fecho lentamente e eu me livrava da camisa e do sutiã, deixando ambos caírem ao meu lado.

Essa era a primeira vez que me permitia ficar tão exposta na frente de alguém, de muitas maneiras.

É incrível como as vezes pode demorar uma vida para que confie em alguém que esteve te acompanhando por muito tempo.

Mas quando se trata da pessoa certa, isso pode acontecer em apenas alguns encontros e mudar tudo.

10 encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora