Ponto de vista Maya
Margot observou intrigada, enquanto Matheus, Eric, Marcos e Bernardo colocavam suas bandejas na nossa mesa, ao invés de sentar na mesa em que sempre sentavam no refeitório.
Analisei a expressão da minha amiga, tentando entender se ela se sentia incomodada por não termos nossos cotidianos minutos de intervalo sozinhas ou se estava feliz por estamos finalmente, abrindo nossos horizontes na ENS.
Senti o calor do corpo dele junto ao meu, quando Bernardo se sentou ao meu lado, rindo de alguma besteira que um de seus amigos tinha dito, como se somente o fato de estarmos sentando juntos para comer não tivesse mudado drasticamente o ambiente no refeitório.
Observei seu sorriso descontraído e a forma como seus olhos se estreitavam, enquanto Eric continuava comentando algo engraçado que havia visto no livro de ciências da última aula. Pude perceber uma conotação sexual nos comentários de seu amigo e revirei os olhos.
Garotos.
Mas isso não me irritou de nenhuma maneira. Me dei conta de que adorava vê-lo sorrir. Despreocupado, confortável, enquanto murmurinhos dançavam até a nossa direção e olhos curiosos nos observavam, parecendo entender, por fim, que estávamos falando sério.
Estávamos juntos.
— Cala a boca Eric, todos nós sabemos que sua companheira todas as noites é a sua... mão. — Escutei Matheus retrucar, um tanto irritado com algum comentário do amigo que, distraída demais com o cara ao meu lado, eu não pude prestar atenção.
— Oh não se ofenda nerd. — Vi Eric colocar a mão na cabeça do amigo, batendo levemente, enquanto mastigava. — Sua hora vai chegar.
Observei o dedo do meio de Matheus na direção do amigo, enquanto Margot revirava os olhos.
— Por favor, sério que passarei todos os meus próximos intervalos no meio desse tipo de discussão sem sentido? — Perguntou, levando um pouco de comida a boca.
— Hey. — Eric a fitou. A mão no queixo e um sorriso perspicaz nos lábios. Ele era bonitinho. Tinha um rosto harmonioso e os olhos verdes, desses que te transmitem certa inocência. Mas as aparências enganam. — Acho que passaremos mais tempo juntos. — Se aproximou mais de Margot no banco, fazendo-a recuar um pouco. — Que tal se nos conhecemos melhor?
— Ela não tem tempo para isso.
Me surpreendeu a rapidez com que Matheus respondeu, sem esperar que Margot o fizesse. Observei a cena, agora um pouco mais atenta.
O que estava acontecendo ali?
Margot o observou, também um pouco desconcertada.
— Precisamos estudar, lembra? Ainda deve se redimir pelo desastre daquelas equações de matemática.
Escutei minha amiga bufar, apoiando com rispidez o garfo na bandeja e fechando os olhos.
— Isso faz mais de dois meses! E eu não preciso me redimir nem te dar satisfações!
— Ah, não precisa? Como posso confiar em você então? Você senta do meu lado! Estamos fadados a fazer o trabalho de fim de curso juntos!
Oh senhor...
De novo não.
Enquanto nossa mesa se convertia em um campo de guerra, desviei a atenção dos dois, para me concentrar em terminar minha comida antes que o fim do mundo chegasse, mas meus olhos se detiveram na pessoa ao meu lado, que agora tinha a cabeça apoiada nos braços sobre a mesa e dormia, como se não houvesse nada com que se preocupar no mundo.
Observei os fios macios do seu cabelo, caindo sobre o seu rosto. Seus lábios rosados e a paz tão reconfortante que ele transmitia, mesmo no meio do caos. Afastei os fios do seu rosto e não pude evitar sorrir, enquanto meus dedos roçavam levemente sua testa.
Ele era tão lindo de tantas formas que meu peito chegava a doer.
Aproximei o rosto do seu alguns centímetros, abaixando na mesa ao seu lado para despertá-lo antes que o sinal tocasse, enquanto o tom de voz de Margot e Matheus se elevava ao nosso redor. Mas permaneci imóvel... talvez, se ficássemos assim por mais alguns segundos, o tempo parasse.
Eu só queria ficar perto dele por mais tempo.
— Meu coração vai saltar do peito assim.
Me afastei surpresa, quando seus olhos da cor de pedras de ouro se abriram preguiçosamente e me fitaram, acompanhados de um sorriso.
Pegou minha mão, impedindo que eu me afastasse completamente e a pousou sobre o tecido suave da camisa do seu uniforme, bem onde seu coração batia tão forte quanto meu agora.
— Achei que estivesse dormindo. — Respondi, ainda um pouco desnorteada.
— Acho que gosto muito mais do refeitório agora. — Respondeu, levantando a cabeça e segurando a minha mão, enquanto nos dávamos conta de que a discussão entre Matheus e Margot havia parado, e que todos na mesa estavam nos olhando.
— Tão fofo que tenho vontade de vomitar. — Escutei Eric dizer, pegando sua bandeja e se levantando.
Sorri, enquanto Margot concordava e pagava sua bandeja também, me olhando como se eu fosse uma pessoa completamente desconhecida.
Piscou para mim, correndo para deixar sua bandeja no lugar antes que Matheus pudesse alcançá-la. Algo estranho estava rolando ali. Fiz uma nota mental para me lembrar de torturá-la com perguntas depois.
O sinal tocou bem no momento em que Bernardo e eu deixamos nossas bandejas no lugar, sem conseguir ignorar por completo alguns comentários ao nosso redor.
O escutei dizer que me encontraria na sala, parando de caminhar para atender o celular novamente e aproveitei para pegar meu próprio celular no bolso, enquanto caminhava pelos corredores em direção a próxima aula.
Foi quando os cochichos que havia escutado durante a primeira aula de manhã começaram a fazer sentido.
Havia uma foto de Bernardo e ao lado a foto de uma das modelos juvenis mais cotadas do momento. Ela era alemã, mas morava no Brasil a mais de cinco anos.
Eu sabia muito pouco sobre esse mundo, mas as redes sociais estavam indo a loucura com a nova campanha publicitaria que eles participariam para uma marca de roupa internacional.
Ao parecer, suas agências estavam conversando e se tratava de um contrato de longo prazo.
Observei o rosto da menina na tela do meu celular. Pode parecer ignorância, mas eu esperei encontrar um rosto pálido, um tanto sem vida. Contudo, ela tinha a pele levemente bronzeada. Olhos tão azuis que chegavam a ser um insulto.
Seguramente tinha medidas impossíveis de alcançar para alguém com o meu quadril. Digamos que ela nunca deve ter visto um número maior que 45 na balança.
Observei que algumas companheiras de classe me olhavam, enquanto entravam na sala de aula.
Guardei o celular no bolso.
Essa é outra coisa que o primeiro amor te ensina.
Que o ciúme e a insegurança andam de mãos dadas, e que, se deixarmos, ambos te corroem em silencio.
Até que destroem tudo.

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10 encontros
Подростковая литератураMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...