Caos

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Ponto de vista Maya

O silencio no corredor agora era quase palpável.

Todo mundo naquela escola já havia presenciado inúmeras vezes cenas similares a essa, e o desfecho era sempre o mesmo.

A resposta nunca mudava.

Contudo, o fato dele não ter respondido imediatamente, como sempre fazia, gerou uma certa incerteza no ar. As pessoas ainda seguravam seus celulares, expectantes, mas nenhuma palavra foi dita.

Seus olhos, fixos nos meus, pareciam um pouco surpresos. Eu havia sido tão vaga assim ao tentar expressar o que sentia por ele antes? O havia deixado com tantas duvidas sobre meus sentimentos, que agora ele se surpreendia ao escutar o que eu havia dito?

Passou a mão nos cabelos, desviando os olhos dos meus, tentando, sem êxito, ocultar um sorriso tímido nos lábios e abaixou a cabeça.

Senti que, junto com os segundos que se passavam, minha determinação vacilava. Havia muita gente ao redor e eu quase podia ouvir seus pensamentos. Estavam me julgando de todas as formas possíveis. Acreditando nos boatos espalhados pelos corredores de que eu tinha algo com Hugo, e que havia traído Bernardo com ele.

Mas nenhuma daquelas pessoas me importava realmente agora.

Eu não me movi.

Ele merecia mais do que a minha vontade de sair correndo. Mesmo que agora fosse tarde, mesmo que eu tivesse que escutar exatamente a mesma resposta vazia que ele havia dado a todas as demais.

O vi morder os lábios, ainda um pouco inibido, e caminhar na minha direção, lentamente, quase como se desejasse que estivéssemos em qualquer outro lugar e não ali, na frente de todo mundo.

Parou a minha frente, suspirando como se tivesse se livrado de uma carga pesada demais para que pudesse continuar carregando.

De repente, eu já não conseguia encará-lo. Abaixei a cabeça e limpei o rosto com a mão, sem me importar minimamente com o julgamento ao nosso redor.

Senti seu indicador no meu rosto, limpando minhas lágrimas.

— Eu nunca quis fazer você chorar. — Disse, me observando com sinceridade.

— Você não fez. — Respondi, voltando a encará-lo, sem me importar em esconder que estava em pedaços. Eu devia isso a ele. Devia transparência, sinceridade. Tudo o que ele havia me dado desde o início, e que eu havia ocultado, desde meu coração começou a bater inconstante, sempre que ele estava por perto.

Pousou a mão no meu rosto e, mesmo que eu quisesse, agora já não podia desviar os olhos dele.

— Mesmo assim, acho que te devo desculpas. — Disse, se aproximando um pouco mais, observando como as pessoas que se acumulavam ao nosso redor faziam o mesmo, avidas por não perder um detalhe sequer do que estava acontecendo. — Fiquei com ciúmes e não quis te escutar.

Escutei alguns gemidos de surpresa ao nosso redor e vi como algumas meninas me observavam com fúria nos olhos diante do que ele havia dito.

— Você não tem motivos para ter ciúmes. — Respondi, tocando sua mão sobre o meu rosto. — Porque eu me rendo. Pode me colocar na sua lista de fãs. Eu... sinto muito a sua falta.

O vi sorrir, desviando os olhos e me abraçando, por fim.

— Ainda bem... porque eu estava enlouquecendo. — Disse, apoiando a cabeça no meu ombro, escondendo o rosto entre os meus cabelos e me apertando tão forte contra si, que achei que fosse me quebrar.

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