Ponto de vista Maya
Entrei na biblioteca escura. Embora o sol ainda brilhasse lá fora, a grande e pomposa biblioteca da ENS parecia um caminho oculto para Hogwarts, e eu adorava isso. Seus longos corredores mal iluminados e cheios de livros, pareciam esconder histórias muito mais antigas do que os muros daquela instituição. O silencio que pairava entre as prateleiras respeitava cada palavra escrita.
As vezes não é preciso gritar para que o mundo te escute.
Contornei os corredores, com minha mochila nas costas e o celular na mão, observando a última mensagem de Hugo no privado do meu Instagram.
"Nos vemos na biblioteca, depois do fim das aulas"
Suspirei. Desde o primeiro momento, quando todo mundo estava se esmerando em ser idiota, ele tinha sido legal comigo. Era por isso que eu estava ali, quando deveria ter ido direto para casa, cuidar dos meus próprios deveres atrasados.
Prometi para mim mesma que explicaria tudo a ele o mais rápido possível e iria embora. A verdade era que, por mais legal que Hugo fosse, eu não conseguia me livrar daquela sensação desconfortável perto dele. E isso estava me deixando paranoica.
Escutei sussurros no final do corredor, justo onde nenhuma luz entrava pelas janelas. Caminhei em direção as vozes, notando que me afastava das mesas onde outros alunos estudavam até que todos tivessem desaparecido do meu campo de vista.
O som das vozes se intensificou, mas não o suficiente para chamar a atenção de alguém que não estivesse por perto.
Parei no fim do corredor.
Encurralado entre uma estante e um punho fechado que pairava perigosamente perto do seu rosto, encontrei Hugo, com um corte nos lábios e uma mancha roxa nos olhos.
— Que merda está acontecendo aqui? — Perguntei, sem me preocupar em baixar o tom de voz.
O garoto que o segurava pela gola da camisa virou-se na minha direção. Seu rosto, surpreso por breves segundos, era totalmente reconhecível. Ele estava na nossa turma. Era filho de um empresário dessas multinacionais tão cheias de dinheiro, que podíamos contar nos dedos quantas empresas tínhamos desse porte no nosso país.
— Salvo pelo gongo. — Disse, aproximando o rosto ameaçadoramente do rosto de Hugo. — Nos vemos por aí, nerd.
Observei pasma, enquanto ele desaparecia pelos corredores, como um fantasma.
Como se não tivesse feito nada errado.
Como se o que eu tinha visto, fosse algo normal.
Saí do meu torpor quando escutei um gemido ao meu lado. Joguei a mochila no chão, enquanto Hugo deixava o corpo escorregar pela estante, com a mão apoiada na cintura. Como se os machucados visíveis em seu rosto, não fossem os únicos.
— Temos que falar com o diretor. — Disse, afastando uns fios de cabelo do rosto dele para observar melhor o estrago.
— Não. — Respondeu, colocando a mão sobre a minha. — O que acha que vai acontecer? — Perguntou, agora me olhando nos olhos. — Você sabe quem ele é, não sabe? Acha que alguém como eu pode simplesmente ir contra alguém como ele?
Permaneci fitando-o, enquanto ele se acomodava melhor, encostando as costas na prateleira e fechando os olhos.
— Isso não pode ficar assim... — Respondi, um pouco insegura. Eu sabia que ele estava certo. Mas não queria acreditar nisso.
— Esquece isso, Maya. — Respondeu, voltando a olhar para mim. — Não é a primeira vez, mas a escola não dura para sempre.
Senti meu sangue ferver. Então, quando se tem dinheiro e poder, você pode quebrar as regras? Pode fazer o que quiser e sair imune? Pode ofender, maltratar, humilhar as pessoas e não ser punido?
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10 encontros
Teen FictionMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...