Ponto de vista Maya
Cheguei tropeçando na entrada do restaurante e, praguejando, acomodei a minha saia e a bolsinha pendurada no ombro que Margot tinha me ajudado a escolher.
Estava tensa e meu corpo todo tremia. Respirei fundo, tentando recuperar o eixo, e entrei pelas portas de vidro, parando no hall de entrada onde uma mulher de terninho e coque com olhar simpático e profissional me recebeu.
— Nome da pessoa que fez a reserva, por favor? — Pediu educadamente.
— Bernardo Belmonte. Meu nome é Maya. — Respondi, quase como um sussurro.
Ainda sorrindo, a mulher buscou em uma lista e depois de alguns segundos, saiu de trás do balcão, me guiando por um curto corredor até o salão do restaurante, que estava cheio de mesas com pessoas ao redor, comendo e conversando.
Eu já havia estado em um lugar pomposo antes. Como eu disse, minha família não era rica e sim de classe media, do tipo que pode se dar al luxo de ter um carro esporte na garagem, uma casa confortável e umas ferias de verão para alguma cidade com praia por alguns dias. Mas eu nunca havia estado em um lugar tão ridiculamente luxuoso como aquele restaurante antes.
Somente o prato apoiado na mesa parecia custar o salário do mês do meu pai.
Havia um palco, e um homem encima dele tocava o piano enquanto uma mulher com voz de anjo cantava um blues. Candelabros se precipitavam sobre nossas cabeças, garçons com terninhos e olhar profissional, passavam servindo bebidas e comida.
O tom das conversas ao redor era ameno, educado e todos pareciam estar vestidos para o Oscar e não para um simples jantar em uma noite de sábado.
Petrifiquei um pouco, me sentindo completamente fora de lugar ali e desejei que Margot estivesse comigo, embora soubesse que nos encontraríamos mais tarde.
— Por favor, por aqui. — Escutei a mulher dizer educadamente, me guiando entre as mesas até uma mesa redonda ao lado direito do palco.
Foi no exato momento em que a música parou por alguns segundos, que seus olhos encontraram os meus. Dourados tão cristalinos que toda aquela parafernália pomposa que brilhava ao nosso redor ofuscou. Bernardo estava de terno. Eu só o havia visto vestido assim em fotos de revista. Um terno escuro, perfeitamente ajustado ao seu corpo e uma camisa branca de botão por baixo. Seus cabelos estavam penteados para o lado, o que me permitia ver seu rosto perfeitamente. Desde o nariz arrebitado aos lábios rosados e o sorriso nele.
Levantou-se da cadeira onde estivera sentado e me dei conta de que não somente eu estava olhando. Ele era alto. Muito alto. Não havia forma de ignorá-lo. Mesmo que você quisesse. E não havia motivos para fazê-lo.
— Achei que tinha mudado de ideia. — Disse, parando a minha frente, segurando a minha mão.
Eu tinha pensado nisso. Mais vezes do que poderia admitir. Quando Bernardo havia me convidado para o jantar que seus pais haviam organizado para o seu aniversario, eu havia pensado mil vezes em como declinar esse convite. Eu havia buscado no Google o lugar e simplesmente não conseguia me ver em um lugar assim, rodeada de pessoas que eu não conhecia e de comida cujos nomes eu não seria capaz de pronunciar. Mas então, vi a decepcão em seu rosto, e soube que iria, mesmo que não estivesse emocionada com isso.
— Desculpe o atraso. — Respondi, apertando a mão dele com a minha. — O Uber quebrou e eu tive que pegar um táxi no meio do caminho...
— Tudo bem, Maya. — Disse beijando meu rosto. — Você chegou. é o único que importa.
Assenti, respirando fundo para deixar de ser uma covarde enquanto voltava a encarar a mesa.
Sua mãe foi a primeira em se levantar, sorrindo amigavelmente para mim enquanto me dava um beijo na bochecha e me perguntava se eu havia chegado bem. Seu pai, um homem tão alto quanto Bernardo, de pele levemente bronzeada, traços fortes e postura impecável, me cumprimentou também com um sorriso, se desculpando por nunca ter tido tempo de que nos encontrássemos antes.
Havia outras pessoas na mesa. Helena, a mulher que passava horas na agência com Bernardo cuidado para que ele se comportasse como um adulto, e não como o adolescente que era. Um homem mais rechonchudo, com um terno que parecia pedir a gritos que os botões fossem abertos e barba por fazer, que usava um brinco em uma das orelhas com formato de camera fotográfica e uma mulher alta, loira cuja cadeira ao lado estava vazia, com um vestido branco de seda brilhante e olhar analítico, que me fitou de cima a baixo, como se eu não fosse capaz de perceber isso.
Sentei ao lado de Bernardo, que agora totalmente alheio ao que acontecia ao seu redor, se inclinou na minha direção com o cardápio na mão e comentou, com um sorriso:
— Esse é o restaurante preferido da minha mãe. Sua melhor amiga é dona dele. — Disse, um tanto resignado. — Quando esse jantar terminar, vamos dar o fora daqui. — Prometeu, com um meio sorriso.
Bernardo havia concordado com esse jantar comemorativo com a condição de que seus pais o deixassem livre depois disso, para comemorar seu aniversario com seus amigos de verdade. Matheus, Eric, Margot e Marcos. Nos encontraríamos em duas horas, na casa de Eric.
Então eu só precisaria sobreviver até la.
— O que você quer? Eu não sei porque insistem em colocar esses nomes estranhos na comida. — Disse, observando intrigado o cardápio e me fazendo rir. — What? Que diabos e isso? — Perguntou a si mesmo, pegando o celular escondido e abrindo o Google tradutor, para checar o nome de um prato que estava em francês.
— Uauuuu — Zombei baixinho, me inclinando para ver a resposta na tela do celular dele e riscando a opção desse prato da minha lista, pois era basicamente carne crua com ovo cru. — Pensei que você fosse mais sofisticado.
— Estou louco por um hambúrguer. — Respondeu, digitando outro nome de um dos pratos na lista no celular.
— Eu te ajudo. — Respondi, pegando meu próprio celular e abrindo o tradutor no exato momento em que uma voz suave interrompeu a conversa da mesa.
— Desculpem o atraso. Ficamos presos no transito.
Observei a garota a minha frente. Não era como se eu não a tivesse visto antes. Eu a havia visto tantas vezes, que tinha até tido pesadelos com ela.
E em todos eles, ela roubava o meu namorado.
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10 encontros
Teen FictionMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...